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13 abril 2025

Grandes nomes da história da contabilidade dos Estados Unidos: Paton


William Andrew Paton (1889-1991) foi um renomado teórico da contabilidade financeira e um autor prolífico, que passou a maior parte de sua carreira na Universidade de Michigan como professor de contabilidade e economia. Juntamente com A.C. Littleton, foi coautor do clássico An Introduction to Corporate Accounting Standards (1940). Paton também escreveu Accounting Theory: With Special Reference to the Corporate Enterprise (1922) — essencialmente sua tese de doutorado em economia de 1917 —, além de diversos livros didáticos (do nível introdutório ao avançado), outros livros e mais de 100 artigos.

Recebeu inúmeros reconhecimentos, incluindo o prêmio de Educador Contábil do Século e a Medalha de Ouro do American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) em 1944 (sendo o primeiro acadêmico a receber tal honra), além de ter sido o primeiro acadêmico incluído no Accounting Hall of Fame. Foi um dos fundadores e o primeiro editor, em 1926, da revista Accounting Review. Paton também integrou o Committee on Accounting Procedure de 1939 a 1950.

Ainda como estudante de graduação na Universidade de Michigan (onde também obteve os títulos de mestre e doutor), Paton foi estimulado a aprofundar-se em contabilidade por meio de obras escritas por Charles Ezra Sprague e Henry Rand Hatfield — ambos teóricos pioneiros da contabilidade nos EUA, com atuação entre 1880 e início do século XX (no caso de Sprague) e entre início e meados do século XX (no caso de Hatfield).

Ao longo de sua carreira, Paton abordou diversos temas. Defendia a importância do poder de lucro (earning power), dos custos de reposição, do princípio da correspondência (matching), da demonstração de resultado em etapa única (single-step income statement), da teoria da entidade (entity theory) e, de forma mais ampla, do capitalismo e do pensamento claro. Em relação a este último, Paton analisava os temas de forma completa, sem omitir ou minimizar pontos de vista contrários, mas enfrentando-os diretamente.

Para Paton, o "fato empresarial fundamental" era o poder de lucro. Embora este pudesse ser medido de várias formas, ele preferia a relação entre o lucro líquido somado às despesas com juros e o total de ativos. Para que essa relação fosse significativa, enfatizava a importância de considerar as mudanças nos preços — algo especialmente relevante no pós-Segunda Guerra Mundial, quando a inflação era relativamente alta. Argumentava que a lucratividade corporativa estava sendo superestimada, o que levava não apenas a críticas injustas às empresas, mas, de forma mais grave, à confiscação de capital via leis tributárias dos EUA.

Contudo, Paton não era favorável ao abandono dos custos históricos. Defendia que os dados com preços atualizados fossem fornecidos como informações suplementares às demonstrações financeiras baseadas no custo histórico. E, caso essas informações fossem incorporadas às demonstrações principais, os custos históricos também deveriam ser claramente divulgados. Acreditava ainda que procedimentos de quase-reorganização poderiam ser um meio eficaz de incorporar os custos de reposição às demonstrações contábeis.

Segundo Paton, os custos de reposição eram superiores aos custos históricos ajustados pelo índice de preços gerais. Argumentava que gestores e investidores precisavam conhecer o custo de reposição — o que ele considerava o custo efetivo real — para tomar decisões econômicas sólidas. No entanto, demonstrava preocupação quanto à dificuldade de se obter estimativas confiáveis de custos de reposição de ativos de longo prazo, como instalações e equipamentos.

Durante sua carreira, houve uma mudança de foco na comunidade contábil: da ênfase no balanço patrimonial para a importância da demonstração de resultado. Dado seu foco no poder de lucro, Paton acreditava que, embora ambos fossem necessários, a demonstração de resultado provavelmente possuía maior relevância prática.

Duas ideias marcantes em seus escritos sobre demonstração de resultado são o princípio da correspondência (matching) e o modelo de etapa única. Sua monografia de 1940 com Littleton é conhecida por enfatizar o matching como "a fase crítica da contabilidade". No entanto, esse conceito já aparecia em seus escritos desde 1920: “... despesa... é o custo... de produzir a determinada quantidade de receita”. Paton acreditava que os contadores praticantes não iam longe o suficiente nesse princípio, pois custos de distribuição (como publicidade ou viagens de vendedores), quando não associados a uma venda imediata, também deveriam ser alocados ao estoque.

Paton defendia a demonstração de resultado em etapa única e criticava subtotais como lucro bruto e lucro antes da depreciação. Considerava tais informações enganosas, pois implicavam que as despesas eram recuperadas em uma ordem específica e que algumas despesas eram mais importantes que outras. Ressaltava que, do ponto de vista econômico, não há prioridades entre os custos necessários. De acordo com a teoria da entidade, também defendia que juros e dividendos fossem apresentados como distribuições de lucro, finalizando com a adição ao capital, se houvesse. Esse procedimento permitiria revelar todas as perdas em uma única demonstração, ao invés de ajustá-las diretamente nas contas de capital — alinhando-se a uma abordagem de apuração de resultado abrangente (all-inclusive).

Paton também fez sugestões para o balanço patrimonial. Quando começou a escrever, todo o lado direito do balanço era geralmente rotulado como "passivo". Ele achava mais apropriado o termo “patrimônio”, refletindo a teoria da entidade, observando que a distinção entre obrigações de terceiros e capital próprio “não é fundamental”. Apontava, por exemplo, os títulos conversíveis como evidência dessa ausência de distinção clara.

Paton escreveu, palestrou e prestou testemunhos sobre diversos outros temas de contabilidade financeira, bem como sobre questões fiscais, serviços públicos e educação contábil. Seus escritos econômicos demonstram seu forte apoio ao capitalismo, oposição firme ao socialismo e a crença de que a produtividade deveria ser recompensada. Suas obras também transcendem a contabilidade e a economia. Um artigo popular, escrito em 1962, discute a construção subterrânea — não apenas de casas, mas de cidades inteiras. Outro, de 1971, apresenta uma visão crítica sobre os protestos estudantis dos anos 1960 e início dos anos 1970.

Aos 95 anos, publicou WORDS! Combining Fun and Learning (1984), uma coletânea de jogos de palavras que costumava compartilhar com amigos e familiares ao longo dos anos. Para Paton, usar a mente era não apenas sua profissão, mas seu modo de viver.

Por Joel E. Thompson para The History of Accounting. Mais Paton aqui e aqui

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