Uma investigação da Polícia Federal de 2017 descobriu que pelo menos 30 empresas brasileiras compraram dados estratégicos de concorrentes, a um custo estimado entre 650 e 3 mil reais por relatório. Esses dados faziam parte do sistema da Receita Federal e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Entre as empresas que compraram os dados estão a Portobello (faturamento de R$ 2,2 bilhões), a Dufrio, a Vicunha (R$ 2,5 bilhões) e a Noja Power.
Com esses dados, as empresas sabiam o que os concorrentes estavam fazendo em termos de importação e exportação e, assim, tinham acesso a informações estratégicas.
Algumas empresas admitiram conduta irregular e firmaram acordos com as autoridades. Por meio desses acordos, as empresas confessam que cometeram irregularidades, encerram o processo de maneira mais rápida e evitam pagamentos muito maiores no futuro. Uma das empresas que firmaram o acordo, a Dufrio, pagou uma multa de 2 milhões de reais, mas corria o risco de pagar 412 milhões de reais, o que corresponde a 20% do faturamento. Tudo leva a crer que, em muitos casos, a aquisição de dados sigilosos foi realizada com o conhecimento dos presidentes das empresas.
Os dados foram vazados por servidores públicos, e o número de empresas que compraram as informações pode ultrapassar 150.
Uma questão contábil interessante é quando a empresa deve reconhecer o passivo. Tecnicamente, no momento em que ocorreu a operação da Polícia Federal em 2017, poderia haver a possibilidade de uma obrigação futura. Entretanto, talvez a contabilidade da entidade ainda não tivesse conhecimento do nível de envolvimento da empresa ou não possuísse informações suficientes sobre se a descoberta da Polícia Federal poderia gerar uma consistente obrigação futura.
Com o passar do tempo, o maior conhecimento das consequências da operação poderia levar a uma visão mais clara das chances de condenação e do passivo. Para a Dufrio, por exemplo, o valor esperado seria calculado pela chance de condenação multiplicada por 412 milhões. Qualquer chance maior que 0,5% (ou 2 milhões sobre 412 milhões) já seria suficiente para tornar interessante a aceitação do acordo.
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