Como alguém que adora assistir a partidas de xadrez ao vivo, acompanhei ao longo das últimas semanas a disputa entre Ding e Gukesh pelo título mundial de xadrez. Talvez meu entusiasmo não tenha sido tão intenso desta vez, em razão da ausência do melhor jogador de todos os tempos, o norueguês Magnus Carlsen. Diante da falta de um concorrente à sua altura, do cansaço representado pela preparação para um título e de seu maior interesse por outras atividades, incluindo o xadrez rápido, Carlsen simplesmente deixou a disputa de lado há dois anos. Isso levou o título a ser decidido entre o chinês Ding e o russo Nepomniachtchi, com vitória de Ding.
Agora, Ding estava colocando o título novamente em disputa. No torneio de candidatos, fortes desafiantes se enfrentaram, mas o favorito Caruana, o segundo melhor do mundo, e Nakamura, o terceiro, não venceram. O resultado coube ao jovem indiano Gukesh, de apenas 18 anos. Na verdade, há tempos o xadrez mundial tem sido dominado pelo país asiático. Jogadores de alto nível não faltam para dar continuidade à herança de Anand, ex-campeão mundial, que ainda hoje compete, ocupando um honroso 10º lugar entre os melhores do mundo. Anand preparou seus sucessores, como Erigaisi (21 anos, atualmente 4º no ranking mundial), Pragga (17 anos, 14º no mundo, com um futuro brilhante), Aravindh (23º), e Vidit (24º). Assim, a Índia conta com seis jogadores entre os 25 melhores do mundo.
Entre o torneio de candidatos e a disputa pelo título passaram-se alguns meses. O desempenho de Ding nesse período não foi muito bom, e alguns chegaram a apontar Gukesh como amplo favorito. Ding iniciou o confronto com 2728 de rating, contra 2783 de Gukesh, uma diferença de 55 pontos — comparável à diferença entre Gukesh e Carlsen (2783 contra 2831). Contudo, logo na primeira partida, Ding venceu. O empate veio na terceira, com uma vitória do indiano. Na 11ª partida, Gukesh tomou a liderança, mas na seguinte o chinês venceu, deixando o confronto empatado novamente.
Na manhã de hoje, tivemos a 14ª partida, com o placar ainda igualado. Essa seria a última partida disputada no formato clássico. Caso permanecesse empatada, partidas rápidas seriam jogadas no dia seguinte até que houvesse um vencedor. Ding é considerado um jogador de rápidas superior a Gukesh, o que tornava a disputa ligeiramente favorável ao chinês.
A partida estava no 55º lance, em equilíbrio, quando Ding ofereceu a troca de torres, prontamente aceita pelo indiano. Com um peão a mais e bispos de mesma cor no tabuleiro, a análise feita pelos computadores indicou que o equilíbrio da posição, antes avaliado em -0,5, desapareceu. A nova análise mostrava uma vantagem de -3,37 para as pretas, o que equivale a uma vantagem de mais de três peões — algo enorme em partidas de alto nível. Após a troca de torres, três lances depois, Ding reconheceu a derrota.
Gukesh chorou ao conquistar o título. Há um vídeo na internet em que um garoto indiano, o próprio Gukesh, diz que gostaria de ser o mais jovem campeão mundial de xadrez. Alguns anos depois, o sonho do garoto tornou-se realidade. Parabéns ao novo campeão mundial!
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