Anúncio do Correio Paulistano, de 1891
Um pequeno texto no site Behavioral Economics procura chamar a atenção para como nossas habilidades irão evoluir na era do ChatGPT. A ideia é bastante intuitiva e faz sentido se pensarmos nas recentes revoluções tecnológicas e como elas mudaram a forma como nos comportamos.Quando não tínhamos uma calculadora para realizar cálculos aritméticos, saber as operações de somar, subtrair, multiplicar e dividir era uma habilidade desejável. Admirávamos quem tinha rapidez de cálculo e, também, a partir de nossa criatividade, inventamos regras que facilitavam nossa vida. Talvez alguém se lembre da regra da multiplicação do nove, onde o resultado seguia uma evolução de 0 a 8 para a casa das dezenas e de 9 a 1 para a casa das unidades. Assim, 9x2 era 18, e para saber 9x3 bastava somar um na casa das dezenas e subtrair um na casa das unidades: 1+1=2 e 8-1=7; ou 9x3=27. Parece uma regra boba, mas esses truques facilitavam nossa vida. Quando a calculadora se tornou acessível, essas regras perderam relevância. Você provavelmente já acessou a calculadora do celular para fazer uma conta simples como 5x6 ou algo assim, pois já deixou de ocupar seu cérebro com esse tipo de conhecimento.
Esse exemplo simples serve para mostrar que a tecnologia tem uma influência sobre nosso comportamento e sobre as habilidades que valorizamos. Em trinta anos, tivemos a popularização de mapas e sistemas de navegação, que substituíram os mapas impressos e a parada em postos de combustíveis para perguntar onde ficava determinado local. Hoje, basta abrir o GPS e inserir o endereço para recebermos instruções sobre como chegar a um destino com um grau de acerto muito próximo a 100%. Mas essa facilidade tem um custo. Se sempre seguirmos a indicação do GPS, deixamos de experimentar novos caminhos ou de escolher rotas mais agradáveis. Uma recomendação típica para quem deseja manter a mente ativa é variar o caminho que faz para o trabalho; o uso do GPS é conveniente demais na hora de tomar essa decisão. Pesquisas mostram que o uso do GPS piora nossa memória espacial e nossa habilidade de navegação. Esse seria o "efeito GPS".
Outra mudança de atitude está no "efeito Google". No passado, ficávamos admirados com a memória das pessoas em termos de fatos, dados e conhecimento geral. Temos lembrança de alguém próximo que sabia as capitais de todos os países ou era capaz de dizer a data de um evento histórico importante. Mas tudo isso pode ser obtido facilmente com uma pesquisa no Google. Não sabemos qual é a capital do Casaquistão, mas basta “dar um google” para obter a resposta. É engraçado como, em muitas conversas, surge uma dúvida que interrompe a discussão até que alguém traga o resultado do Google. Então, esquecemos qual é o nome da capital do Casaquistão, mas isso não é relevante, já que podemos recuperar a informação rapidamente na internet.
Yael Mark questiona como o ChatGPT pode mudar algumas de nossas habilidades. Como o mecanismo tem uma grande gama de usos, os efeitos também podem ser amplos. A ferramenta pode resumir um artigo, corrigir erros em um texto, melhorar o estilo da redação, fazer um parecer, etc. Se isso economiza tempo, liberando-nos para outras atividades, "deixamos de exercer nossa capacidade de nos expressar por escrito", entre outros casos. Optar por usar a velocidade e a aparente precisão da ferramenta diminui nossa habilidade de buscar originalidade e questionamento. Se no Google pedimos informações sobre um tópico, na inteligência artificial pedimos a resposta, sem praticar nossa habilidade. Eis a conclusão de Mark:
Um assistente de IA como o ChatGPT tem um grande potencial, mas também pode levar ao “Efeito ChatGPT”, onde nossos cérebros se tornam menos motivados para manter as habilidades diárias que são tratadas pela IA. A luz de como as tecnologias passadas nos mudaram, é importante estar ciente dos possíveis impactos do uso do ChatGPT e preservar nossas habilidades de escrita e ideação ou expressão. Continuar a praticar a escrita e visualizar cada correção como uma oportunidade de aprendizado pode nos ajudar a usar o ChatGPT para melhorar nossas habilidades, em vez de substituí-las. Ao usar o ChatGPT como uma ferramenta para construir nossas habilidades, e não apenas como um robô de escrita que faz nosso trabalho sujo, podemos abraçar a tecnologia como asas que podem construir nosso músculo voador, em vez de um pára-quedas que o atrofia.
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