As partidas dobradas foi, historicamente, um método que só apareceu em Portugal e domínios muitos séculos depois da sua criação. Se considerarmos que o método foi criado antes de 1.300 em alguma cidade da atual Itália, o seu uso em Portugal aconteceu 434 anos depois, segundo o trecho a seguir:
No ano de 1734 ocorreu a inauguração da Companhia da Fábrica das Sedas, uma empresa de tecidos com a sua sede em Lisboa, tendo o francês Robert Godin criado duas petições, para conseguir a criação da Companhia (Carvalho, Cochicho, Rodrigues e Paixão, 2016). Esta foi a primeira organização a utilizar a contabilidade por partidas dobradas em Portugal no período de 1745-1747 (Carvalho et al., 2016), no qual o guarda-livros recebia na altura cinquenta mil reis por trimestre (Rodrigues, 2016).
No ano de 1755, através do alvará de 6 Junho 1755, que aprovou e confirmou os estatutos da Companhia, Marquês de Pombal funda a primeira companhia monopolista de comércio, a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, sendo esta composta por um provedor, oito deputados e um secretário. A Companhia era privilegiada pela exclusividade da navegação, comércio por grosso e de escravatura com as capitanias do Grão-Pará e Maranhão, tendo o período da exclusividade do comércio tido a duração de 20 anos (Dias, 1968). A prestação de contas era segundo o método por partidas dobradas, que estavam previstos nos estatutos da lei, imposta por Marques de Pombal (Gonçalves, 2017b), sendo o guarda-livros desta companhia um francês, que posteriormente veio a ensinar contabilidade por partidas dobradas aos indivíduos que o sucederam (Rodrigues e Gomes, 2002).
(...) No ano de 1759 fundou-se a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba pela mão de Marquês de Pombal (Lima, 2011; Gonçalves, 2017b), onde a contabilidade por partidas dobradas era obrigatória (Gonçalves et al., 2013; Gonçalves, 2017b). A Companhia atuava principalmente na atividade açucareira, não sendo a sua sua única atividade, pois para estimular a produção açucareira a companhia envolveu-se no tráfico de escravos, deixando espelhado uma vergonha nacional pois promoviam a escravidão (Lima, 2011).
O atraso encontra justificativa na política dos reis portugueses, que controlavam a impressão dos livros e adotaram políticas retrogradas.
(Imagem: ChatGPT)
A citação é de um artigo publicado agora (Brazilian Journal of Business, Curitiba, v. 6, n. 1, p. 479-494, 2024) denominado "História da profissão contabilística em Portugal: o século XVIII", de Bruno Lobo e Miguel Gonçalves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário