A divulgação de informações climáticas representa um novo desafio para as empresas. Nesse sentido, as informações são classificadas em Escopo 1, Escopo 2 e Escopo 3, conforme indicariam a responsabilidade da empresa que divulga a informação. Os dois primeiros escopos estão vinculados à responsabilidade da empresa com a emissão de poluentes, direta (escopo 1) ou indireta (escopo 2). A grande polêmica sempre foi o escopo 3, que são as emissões da cadeia de valor da empresa.
Os reguladores gostariam de obrigar a empresa a divulgar a informação sobre a emissão da cadeia de valor. Faz certo sentido, na medida em que uma empresa pode terceirizar uma atividade poluente e isso não aparecer no relatório de sustentabilidade. Uma empresa que produz e vende um celular pode terceirizar a produção de uma peça que terá um maior impacto para o clima para um fornecedor. Em seu relatório de sustentabilidade, essa emissão não será divulgada caso não exista a obrigatoriedade de fornecer a informação do escopo 3.
Um argumento contra a divulgação dessa informação é que a responsabilidade não é da empresa que divulga, mas de outra entidade. E que essa informação deveria ser evidenciada pelo fornecedor, que terá mais condições de apresentar algo que seja útil para o usuário. Há outra questão que envolve o constrangimento de exigir a informação de um fornecedor, que muitas vezes não possui condições de obter o dado.
O regulador parece entender que a divulgação do escopo 3 é uma forma de olhar o processo como um todo, incluindo as atividades terceirizadas. O celular talvez não seja tão poluente, mas a sua bateria, um componente feito por terceiros, sim. O processo de produção da bateria só ocorreu pela existência do celular. Essa é uma visão que tem prevalecido no mundo dos negócios, onde as empresas devem ser rigorosas não somente com suas políticas sociais e de sustentabilidade, mas também com os fornecedores.
Se o escopo 3 é um grande desafio para as empresas, a qualidade da informação divulgada desse item também sofre. Simi Thambi faz algumas considerações interessantes sobre esse assunto. Segundo ele, o escopo 3 corresponde a 70% das emissões totais de uma empresa. Não há uma informação detalhada de onde surgiu esse número, e acredito que o percentual varie conforme a empresa. Ou seja, desconfio desse percentual. A proposta do ISSB, a entidade criada para emitir normas de divulgação relacionadas com os relatórios contábeis e vinculada à Fundação IFRS, apoia a divulgação do escopo 3. Esse apoio já permite que sejam feitos estudos sobre essa informação. Thambi mostra que o resultado não é bom, mas vejo uma série de lacunas em sua análise. (O texto de Thambi está em itálico)
Uma análise de 4 mil grandes e médias empresas, divulgada no dia 25 de janeiro, mostr a que, embora muitas empresas relatem várias categorias de emissões de Escopo 3, muitas vezes elas ignoram as emissões mais materiais – aquelas com a maior parcela das emissões totais. Mais da metade das 2 mil empresas que reportam emissões de mbito 3 omitem estas categorias cruciais das suas divulgações.
[Isso é estranho. Se a informação é omitida, como foi possível saber que isso ocorreu ou se a informação é imaterial?]
Isto indica uma tendência em que as empresas, para efeitos de elaboração de relatórios, dão prioridade a dados de emissões que são mais fáceis de obter, ignorando potencialmente dados que, embora mais difíceis de recolher, poderiam levar a oportunidades para reduções mais significativas de gases com efeito de estufa.
[Como é possível saber se isso está ocorrendo? São muitas empresas, onde as informações podem não estar sendo divulgadas por outro problema. Assume aqui que a não divulgação é pela não obtenção da informação]
Além disso, a análise mostra que apenas duas categorias – uso de produtos vendidos e bens e serviços adquiridos, entre as 17 subcategorias do Escopo 3 – representam mais de 80% da maioria das emissões do Escopo 3 das empresas, destacando sua importância para o relatório.
[Novamente, se há lacunas nos relatórios divulgados, como é possível ter tanta certeza desse percentual? Baseado na lei de Pareto, onde 20% dos itens irão representar 80% dos valores, o percentual pareceu exagerado]
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