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04 maio 2023

Lucro gigantesco do Credit Suisse por conta do valor justo do passivo

Da newsletter Semafor/Business: 

O Credit Suisse registrou o seu maior lucro trimestral da história - quase o maior lucro de qualquer banco na história - enquanto estava quase falindo.

O banco teve um lucro líquido de 13,9 bilhões de dólares durante o período de três meses em que quase faliu e foi fundido, pelo governo suíço, com o rival UBS, numa venda forçada.


O benefício veio do fato de o Credit Suisse ter reduzido 17 bilhões de dólares em obrigações, que foram "resgatadas" - talvez legalmente, talvez não; os detentores das obrigações estão agora processando na justiça - para cobrir as perdas. Isso mostra as peculiaridades da contabilidade financeira, que, na sequência do tumulto dos bancos regionais nos EUA no início deste ano, é interessante como não era desde 2008.

A VISÃO DE LIZ [HOFFMAN]

Quanto mais arriscada é uma empresa, mais baratas são as suas obrigações. Essa diferença entre o valor nominal da dívida e o valor de negociação é, pela magia da contabilidade, um impulso para a empresa, porque, em teoria, ela pode recomprar essas obrigações com desconto e anular um pagamento futuro.

Levado ao extremo, isso significa que o dia mais lucrativo de uma empresa é o dia anterior à sua falência.

Durante o colapso de 2008, os bancos fracos aumentaram seus lucros através desse truque. O inverso aconteceu na saída da crise, quando os bancos que se tornavam mais seguros a cada dia registraram grandes perdas contábeis. Não fazia sentido e tornou a vida dos jornalistas desagradável.

Isso era obviamente uma estupidez, e o organismo norte-americano que define as regras contábeis acabou por eliminá-las.

A sorte inesperada do Credit Suisse é ligeiramente diferente e mais defensável. Não é que o banco pudesse, teoricamente, ter comprado essas obrigações com desconto; ele as comprou de fato, e por 0 dólares, uma pechincha e tanto. (Entre os prejudicados, noticiámos no mês passado, estavam os empregados, que tinham sido pagos, em parte, com essas obrigações durante anos). Mas é um lembrete de que as regras contábeis são boas até certo ponto, mas muitas vezes isso não significa muito.

ESPAÇO PARA DISCORDÂNCIA

A conclusão é exatamente a oposta no caso de um dos maiores colapsos empresariais da história.

No início da década de 1990, a Enron fez lobby junto dos reguladores para ter o direito de abandonar os métodos contábeis tradicionais e, em vez disso, bater nos preços de mercado de seus investimentos. Quando a Comissão de Títulos e Câmbios deu o seu aval, o diretor executivo Jeff Skilling fez um brinde com champanhe para celebrar a mudança, que permitiu à Enron decidir o valor de seus investimentos e registrar ganhos antecipados sobre lucros futuros.

Voltando. No livro de Teoria da Contabilidade, quarta edição, de Niyama e Silva, no capítulo de passivo, esta mágica é explicada. A adoção de valor justo dos passivos conduz a este tipo de situação. Há explicações para isto, mas uma situação como esta parece algo surreal. Veja que a colunista, Liz Hoffmann, usa termos como "estupidez" para o uso do valor justo nestes casos. Particularmente gostei da frase "levada ao extremo, o dia mais lucrativo de uma empresa é aquele que antecede a falência". 

Sobre o Credit Suisse, o mesmo foi adquirido por 3,2 bilhões de dólares. No gráfico a seguir, a trajetória descendente do banco em termos de valor de mercado. 

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