A meta-análise é um importante técnica de pesquisa, que ganhou popularidade a partir do final do século passado. Em termos científicos, a meta-análise é a tentativa de juntar pesquisas realizadas separadamente e que conduziram a determinadas conclusões. A meta-análise mostra que se pesquisas separadas podem chegar a uma conclusão, a junção dos resultados pode ou solidificar o que sabemos ou destacar descobertas que não foram vistas nas pesquisas separadas.
A figura acima é o símbolo da Cochrane Collaboration. Entre 1972 a 1981 algumas pesquisas procuraram mensurar os efeitos dos esteroides em mulheres grávidas. Cada pesquisa trouxe um resultado, que individualmente não contribuía substancialmente para a ciência. Cada linha do símbolo acima é uma pesquisa. Entretanto, dado o número limitado de pessoas na amostra, os resultados não eram conclusivos.Em 1989 foi realizada uma meta-análise, juntando os dados dos experimentos. A conclusão é que o esteroide reduz o risco de que os bebês morram em razão do nascimento prematuro. Veja que no final do símbolo há um losango. A reunião dos dados de diferentes pesquisa mostrou isto. Isto tudo pode ser lido no livro Ciência Picareta, de Ben Goldacre, como um exemplo de como a ciência pode ajudar a humanidade.
O tempo passou e hoje a meta-análise é bastante utilizada em diversas ciências. Mas a técnica, se bem usada, pode contribuir para evolução do conhecimento humano, se for usada de maneira inadequada, pode ser um problema. Recentemente, um estudo de meta-análise sobre o efeito do empurrão (nudge) ganhou destaque. Mas uma análise crítica do mesmo revelou os dois perigos da meta-análise.
O primeiro problema é que alguns estudos são melhores do que outros. A meta-análise tende a considerar que todos estudos são bons. E isto é algo que precisa ser visto com cuidado. O estudo do empurrão, citado anteriormente, usou 283 resultados e não excluiu nenhum em razão da qualidade. É difícil imaginar que todos os estudos eram de boa qualidade.
Há aqui também o problema do viés de publicação. Isto pode induzir a certos resultados. É bem verdade que existem técnicas para resolver em parte este problema, mas acredito que dificilmente o pesquisador conhece e aplica tais técnicas.
O segundo problema é a possibilidade de combinar resultados que não são comparáveis. Os estudos comportamentais podem ser usar de experimentos. E cada experimento pode ter uma visão e um desenho diferente. O que torna difícil fazer comparações, ao contrário do que ocorreu com o estudo original da meta-análise.
Estas críticas estão bem apresentadas em um texto crítico do DataColada. Veja o texto aqui.
Contabilidade - Os aspectos apresentados anteriormente são válidos para a contabilidade. Veja uma questão importante para a contabilidade financeira, que poderia ser resolvida pela meta-análise: o uso das normas internacionais é bastante positiva para um país. Os estudos individuais podem ser agrupados para tentar responder a esta questão. Considere que um pesquisador investigou o caso com empresas de diversos países, que fizeram a convergência entre 2000 a 2015. E outro pesquisador fez pesquisa semelhante, com convergência entre 2005 a 2020. Havendo superposição temporal e, possivelmente entre os países, o uso da meta-análise pode levar a conclusões inadequadas, já que podemos ter um caso de dupla contagem. Este é o ponto que faz com que a meta-análise, na contabilidade financeira, deva ser considerada com cautela.
Temos aqui uma terceira crítica ao uso da técnica, que não apareceu no texto do DataColada: a possibilidade de existir dupla contagem nas pesquisas, onde uma mesma empresa, para um mesmo período, faz parte da amostra de mais de uma pesquisa. É quase certo que isto não seria um problema na contabilidade gerencial, mas merece o cuidado na contabilidade financeira.
Assim, com respeito a pergunta do título, a meta-análise pode ser usada na contabilidade, com o cuidado indicado no texto: fazer uma análise da qualidade da pesquisa, ter o cuidado de combinar resultados compatíveis e evitar uma dupla contagem. Com o cuidado devido, a técnica pode ser fundamental para solidificar conhecimentos. Mas sem este cuidado, pode levar a conclusões inadequadas.
(Alguns dos pontos colocados neste texto foram frutos de discussão com o mestrando Antônio, que apresentou uma visão bem madura sobre o assunto. Nesta discussão, conclui que até o presente momento não tivemos, na nossa área e no Brasil, uma pesquisa de qualidade sobre o assunto. Espero estar enganado)
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