31 março 2023
Rir é o melhor remédio
20 março 2023
As maiores cidades ao longo da história da humanidade
A listagem das maiores cidades ao longo da história da humanidade:
Fonte: aqui(Provavelmente os primeiros registros contábeis surgiram no atual Iraque. Mas as partidas dobradas não surgiram nas maiores cidades do mundo de então: Cairo , Hangzhou, Vijayanagara ou Yingtian)
Educação Financeira e Poupança para aposentadoria
Afinal, a educação financeira afeta as decisões financeiras das pessoas? O debate continua, agora olhando a influência na poupança para a aposentadoria:
Since individuals are increasingly required to manage their own retirement portfolios, policy levers that increase retirement planning and saving have become increasingly important. We use variation in timing and presence of state-required personal finance coursework in high schools to estimate the effect of the financial education coursework on the likelihood of holding and amount in retirement accounts in adulthood (ages 25–40). Our results show no definitive increases in account ownership, non-retirement investment accounts, or homeownership. Since prior work finds required high school financial education improves credit and debt outcomes, we recommend that states and educators prioritize content that is more immediately relevant for 18-year-olds, such as budgeting, long-term debt, and credit.
Does financial education affect retirement savings? - Melody Harvey & Carly Urban - Journal of the Economics of Ageing, February 2023
19 março 2023
Livro: Adeus, Senhor Portugal
Há alguns anos, Jacob Soll lançava um livro chamado The Reckoning: Financial Accountability and the Rise and Fall of Nations. O autor mostrava que ferramentas como auditoria e as partidas dobradas permitiram construir impérios poderosos; e como a ausência desses instrumentos foram responsáveis pela queda de nações. O livro é muito forte em associar o destino das nações a boa ou má gestão das contas públicas.
Existe um pouco desta noção na obra “Adeus, senhor Portugal”, de Rafael Criello e Thales Zamberlan Pereira. Suas quase quatrocentas páginas estão divididas em nove capítulos, com três partes principais e narra a história da independência brasileira. Na primeira parte, com quatro capítulos, é a descrição do processo de independência. O foco são os anos de 1822. A segunda parte recua no tempo, trazendo a história da fuga do rei João VI de Portugal. E a terceira parte é a consolidação do país, que levou a saída do rei Pedro I do país.
Os autores mostram que a fuga de João VI significou a presença da corte no Rio de Janeiro. Com o tempo, a estrutura administrativa foi duplicada e isto significou um custo para os contribuintes. Era necessário sustentar a corte no Rio de Janeiro, a estrutura remanescente de Lisboa e a administração da província. Além disto, havia os encargos trazidos com a guerra contra a França e a redução da receita de alguns produtos que eram exportados pelo país.
Há um ponto importante na obra que é o papel central do legislativo. Isto inclui os heróis da independência, Lino Coutinho e Cipriano Barata, mas não Pedro. Este papel fica muito claro ao longo da obra, mas o epílogo mostra isto de forma bem clara. A comemoração dos duzentos anos de independência brasileira também é festejar os representantes do legislativo.
Em 1822 havia uma discussão nas Cortes Constitucionais, em Lisboa, que tinha por finalidade restabelecer os portos portugueses como parada obrigatória das cargas destinadas aos portos portugueses. Isto era uma regressão para o Brasil, pois reduziria os negócios na colônia. Do lado da despesa, o reino português apresentou um aumento substancial nos gastos, inclusive militares. Entre 1802 e 1812, as despesas militares saíram de 60% do gasto total para 78% e mantiveram elevados a partir de então. Isto só irá realmente diminuir no final dos anos de 20, do século XIX, quando o legislativo recusa a aumentar as fontes de receitas do governo, batendo de frente com o caudilho Pedro.
O texto também segue a tendência de Jorge Caldeira e outros historiadores recentes que mostraram que existia um grande dinamismo das relações econômicas na colônia, que não dependia somente da exportação e importação. O perdulário João VI gostava de dar títulos e festas, mas isto aumentava os gastos: as despesas com a Casa Real chegaram a 29% das despesas do Estado na América portuguesa. Neste momento, os gastos militares representavam 45% .
Um aspecto típico da época é que as finanças estatais eram tratadas como assunto secreto. Parte da história ainda está sendo reconstituída, como um quebra-cabeça, a partir de alguns documentos existentes. Assim, há lacunas e uma delas é a razão pela qual o Brasil tornou-se independente e manteve sua coesão. Uma das possíveis explicações é a universidade. Ao contrário das colônias espanholas, Portugal manteve o ensino superior centralizado, especialmente na Universidade de Coimba. As elites administrativas das diferentes partes do Brasil eram formadas em direito, em um mesmo local. Esta união pode, ironicamente, ter ajudado na homogeneidade ideológica das elites, que por sua vez explicaria o Brasil unido após a independência.
As finanças públicas também será a principal explicação para a derrocada de Pedro. Ao insistir em manter uma guerra na província da Cisplatina, atual Uruguai, Pedro necessitava de recursos. A constituição que ele mesmo aprovara indicava que o aumento de gastos deveria ser feito pelo legislativo. Nos primeiros anos do seu governo, o país tinha obtido um grande empréstimo internacional e, por este motivo, Pedro não precisava do legislativo. Quando o dinheiro acabou, o imperador tentou usar o Banco do Brasil, através da emissão de moeda. Isto gerou inflação e descontentamento popular. O legislativo percebeu que a única maneira de manter sua vantagem na briga política era manter o governo insolvente. Em um determinado momento, o legislativo aprovou até o fechamento da instituição financeira, o que cortaria esta fonte de recurso do imperador.
Eis um dado impressionante: entre o ano fiscal de 1830-1 e 1831-2 os gastos militares reduziram em 35% por conta da decisão parlamentar. Durante o reinado de Pedro, os recursos para a área militar era abundante e o parlamento teve o mérito de colocar as coisas no seu devido lugar.
Enfim, a leitura de Adeus, senhor Portugal muda nossa percepção do que ocorreu ao longo da nossa história, destacando a relevância das contas públicas e do poder legislativo.
18 março 2023
Tendências das teses no Brasil
O presente estudo buscou identificar as abordagens paradigmáticas, teóricas e os procedimentos metodológicos de maior predominância nas teses dos Programas de Pós-Graduação (PPGs) em Contabilidade do Brasil. Para tanto, realizou-se uma pesquisa descritiva, documental e de abordagem qualitativa, por meio da análise de 461 estudos de doutoramento. Nesses, identificou-se que o paradigma funcionalista – aquele que busca compreender a sociedade de uma forma pragmática e objetivista – ainda domina o posicionamento dos pesquisadores contábeis no país e, no caso dos procedimentos metodológicos, as pesquisas descritivas, documentais e com abordagens quantitativas prevalecem em cena. Nos suportes teóricos, o estudo mostrou que se destaca nessa área a utilização dos pressupostos de uma teoria (majoritariamente Teoria da Agência) e a ausência de lentes teóricas em um terço dos trabalhos analisados. Tal cenário ressalta uma tendência monoparadigmática e pouca diversidade teórica nas pesquisas de maior impacto da Ciência Contábil. Como contribuição, o estudo esclarece os posicionamentos individuais dos pesquisadores da área, discute como está a produção científica nos trabalhos de maior impacto da área e traça novos caminhos de análise para a evolução da Ciência Contábil.
Interessante a tabela a seguir:
Há uma predominância do gênero feminino entre orientadores, mas a diferença entre os doutorandos é menor. Isto significa que a diferença de gênero pode reduzir nos próximos anos. Esta tabela é somente para os orientadores que realmente conduziram uma orientação com sucesso no período da pesquisa e, para os professores do Programa Multi, não foram consideradas as orientações entre 2007 a 2015. Os programas do Sul tem uma grande formação de doutoras.Há uma prevalência pela abordagem quantitativa (painel B)
16 março 2023
Custo para ter uma aposentadoria confortável
Usando o custo de vida de cada país, uma pesquisa calculou como seria o custo de vida, em US$, para viver entre 61 anos - idade da aposentadoria - e uma expectativa de vida de 76,15 anos. A pior opção, em termos de custo, seria Cingapura (1.118 mil) e a melhor economia o Paquistão (158 mil dólares).
Se o seu sonho é viver na Europa, a Macedônia seria uma boa opção: 229 mil. Mas talvez a Suíça seja um pouco cara: 831 mil. Portugal, o destino de muitos brasileiros aposentados, exigiria 414 mil. Na América Latina temos opções mais interessantes: Chile, por exemplo, exigiria 283 mil, versus 271 mil no Brasil.
Os valores foram obtidos aqui
Este executivo parece não ter sorte: Arthur Andersen, Lehman Brothers e SVB
Eis o currículo de Joseph Gentile, CEO da SVB. Seria bom observar qual o seu próximo emprego.
Via aqui
PwC irá usar inteligência artificial na área jurídica
A empresa de auditoria PwC anunciou uma parceria com a startup IA Harvey para prestação de serviços na área do direito. Os funcionários da PwC terão "acesso exclusivo" na plataforma. Segundo o comunicado da empresa (via aqui), a inteligência artificial não será usada para fornecer consultoria jurídica para os clientes e não substituirá seus advogados.
A tecnologia da IA Harvey é a mesma usada pelo ChatGPT; ou seja, usa linguagem natural, aprendizado de máquina e análise de dados para ajudar nos trabalhos jurídicos.
Harvey ajudará a gerar insights e recomendações com base em grandes volumes de dados, fornecendo informações mais ricas que permitirão aos profissionais da PwC identificar soluções mais rapidamente. Todas as saídas serão supervisionadas e revisadas pelos profissionais da PwC.
Este acesso ocorrerá em mais de 100 países para mais de 4 mil funcionários jurídicos.
15 março 2023
Sobre a quebra do SVB
No dia 10 de março, o SVB deixou, oficialmente de existir. Fazendo um retrospecto, o SVB é a sigla para Sillicon Valey Bank e sua atuação incluía principalmente uma rica região dos Estados Unidos. Foi a maior quebra de um banco daquele país, desde a crise de 2007.
O foco de atuação do SVB eram as empresas de tecnologia. No final de 2022, a instituição tinha perdas não realizadas em valores superiores a 15 bilhões de dólares, para um patrimônio líquido de 16 bilhões. A avaliação feita pelas autoridades do Banco Central dos EUA e do FDIC - o fundo que garante os depósitos, realizada no próprio dia 10, indicava a insolvência da instituição. Neste processo, criou-se um novo banco, o Silicon Valley Bridge Bank.
O problema com o SVB trouxe uma discussão sobre regulamentação do setor bancário (e o setor é muito regulamentado), teste de stress, a auditoria sem ressalvas da KPMG 14 dias antes da falência (Lynn Turner, que foi chefe de contabilidade da SEC no passado, diz que isto é um problema), os fundos ESG (que tinham relação com o banco), os efeitos sobre starups, a inutilidade das notas das agências de ratings, entre outros pontos.
Apesar de ser um grande banco, o SVB talvez não esteja na categoria "Grande Demais para Falir", como o Credit Suisse. Sua aposta na taxa de juros foi muito arriscada. E há aqui uma discussão sempre importante sobre o risco moral, embora Mankiw ache que isto não seja relevante.
Como ocorre em muitos casos de falência, aparecem agora as pessoas que previram os problemas, alertando para a necessidade de leitura atenta dos sinais da contabilidade. Isto pode ser uma das causas da corrida bancária que ocorreu entre fevereiro e março no SVB. (Aqui a coluna de John Cochrane, nesta linha)
Sobre a questão da auditoria é que ocorreu uma corrida bancária para sacar dinheiro da instituição a partir de fevereiro. Como a auditoria era referente a 2022, os auditores não estavam trabalhando com isto, já que seria um evento posterior. Mas deveriam destacar os riscos, mesmo depois do encerramento do exercício. Mas gostei deste trecho:
Um porta-voz da KPMG recusou-se a comentar sobre as auditorias específicas, devido à confidencialidade do cliente. Em uma declaração, a firma disse que não é responsável por coisas que acontecem depois que uma auditoria é concluída.
Maior lucro da história
A empresa estatal de petróleo Saudi Aramco divulgou o que talvez seja o maior lucro de uma empresa na história - sem considerar a inflação. O lucro divulgado foi de 161 bilhões de dólares, que significa 46% a mais que o ano anterior. A empresa é também a segunda empresa mais valiosa do mundo, atrás apenas da Apple.
O gráfico acima foi feito imaginando o que a Saudi Aramco poderia comprar com este lucro. Uma combinação possível seria: Campbell's, Coinbase, Etsy, eBay, Kellogg's, Crocs, Zoom, Snap, Pinterest e Ralph Lauren.
14 março 2023
Meta-análise na contabilidade faz sentido?
A meta-análise é um importante técnica de pesquisa, que ganhou popularidade a partir do final do século passado. Em termos científicos, a meta-análise é a tentativa de juntar pesquisas realizadas separadamente e que conduziram a determinadas conclusões. A meta-análise mostra que se pesquisas separadas podem chegar a uma conclusão, a junção dos resultados pode ou solidificar o que sabemos ou destacar descobertas que não foram vistas nas pesquisas separadas.
A figura acima é o símbolo da Cochrane Collaboration. Entre 1972 a 1981 algumas pesquisas procuraram mensurar os efeitos dos esteroides em mulheres grávidas. Cada pesquisa trouxe um resultado, que individualmente não contribuía substancialmente para a ciência. Cada linha do símbolo acima é uma pesquisa. Entretanto, dado o número limitado de pessoas na amostra, os resultados não eram conclusivos.Em 1989 foi realizada uma meta-análise, juntando os dados dos experimentos. A conclusão é que o esteroide reduz o risco de que os bebês morram em razão do nascimento prematuro. Veja que no final do símbolo há um losango. A reunião dos dados de diferentes pesquisa mostrou isto. Isto tudo pode ser lido no livro Ciência Picareta, de Ben Goldacre, como um exemplo de como a ciência pode ajudar a humanidade.
O tempo passou e hoje a meta-análise é bastante utilizada em diversas ciências. Mas a técnica, se bem usada, pode contribuir para evolução do conhecimento humano, se for usada de maneira inadequada, pode ser um problema. Recentemente, um estudo de meta-análise sobre o efeito do empurrão (nudge) ganhou destaque. Mas uma análise crítica do mesmo revelou os dois perigos da meta-análise.
O primeiro problema é que alguns estudos são melhores do que outros. A meta-análise tende a considerar que todos estudos são bons. E isto é algo que precisa ser visto com cuidado. O estudo do empurrão, citado anteriormente, usou 283 resultados e não excluiu nenhum em razão da qualidade. É difícil imaginar que todos os estudos eram de boa qualidade.
Há aqui também o problema do viés de publicação. Isto pode induzir a certos resultados. É bem verdade que existem técnicas para resolver em parte este problema, mas acredito que dificilmente o pesquisador conhece e aplica tais técnicas.
O segundo problema é a possibilidade de combinar resultados que não são comparáveis. Os estudos comportamentais podem ser usar de experimentos. E cada experimento pode ter uma visão e um desenho diferente. O que torna difícil fazer comparações, ao contrário do que ocorreu com o estudo original da meta-análise.
Estas críticas estão bem apresentadas em um texto crítico do DataColada. Veja o texto aqui.
Contabilidade - Os aspectos apresentados anteriormente são válidos para a contabilidade. Veja uma questão importante para a contabilidade financeira, que poderia ser resolvida pela meta-análise: o uso das normas internacionais é bastante positiva para um país. Os estudos individuais podem ser agrupados para tentar responder a esta questão. Considere que um pesquisador investigou o caso com empresas de diversos países, que fizeram a convergência entre 2000 a 2015. E outro pesquisador fez pesquisa semelhante, com convergência entre 2005 a 2020. Havendo superposição temporal e, possivelmente entre os países, o uso da meta-análise pode levar a conclusões inadequadas, já que podemos ter um caso de dupla contagem. Este é o ponto que faz com que a meta-análise, na contabilidade financeira, deva ser considerada com cautela.
Temos aqui uma terceira crítica ao uso da técnica, que não apareceu no texto do DataColada: a possibilidade de existir dupla contagem nas pesquisas, onde uma mesma empresa, para um mesmo período, faz parte da amostra de mais de uma pesquisa. É quase certo que isto não seria um problema na contabilidade gerencial, mas merece o cuidado na contabilidade financeira.
Assim, com respeito a pergunta do título, a meta-análise pode ser usada na contabilidade, com o cuidado indicado no texto: fazer uma análise da qualidade da pesquisa, ter o cuidado de combinar resultados compatíveis e evitar uma dupla contagem. Com o cuidado devido, a técnica pode ser fundamental para solidificar conhecimentos. Mas sem este cuidado, pode levar a conclusões inadequadas.
(Alguns dos pontos colocados neste texto foram frutos de discussão com o mestrando Antônio, que apresentou uma visão bem madura sobre o assunto. Nesta discussão, conclui que até o presente momento não tivemos, na nossa área e no Brasil, uma pesquisa de qualidade sobre o assunto. Espero estar enganado)
13 março 2023
Bem-estar financeiro também é importante
Quando pensamos em bem-estar, frequentemente pensamos em nossa saúde, incluindo nosso estado mental. Pesquisas descobriram que a boa saúde financeira tem uma enorme influência na melhoria do bem-estar geral, enquanto a saúde financeira precária está ligada ao estresse, depressão e falta de produtividade. Pessoas que recebem informações financeiras a educação geralmente informa que se sente mais confiante, mais no controle das finanças pessoais e exibe melhores comportamentos financeiros. Também é importante observar o impacto positivo adicional que as boas finanças têm sobre a comunidade em geral e as gerações vindouras.
A economia comportamental tem sido amplamente utilizada para explicar o baixa eficácia das iniciativas de alfabetização financeira e as razões das más decisões financeiras que as pessoas tomam.
Segundo a autora, a opção é a alfabetização financeira. Muito esforço é focado nos programas, mas nem sempre é possível imaginar um sucesso na mudança no comportamento dos participantes. Vários dos programas, não levam em conta fatores psicológicos. A intenção de mudar o comportamento financeiro é importante.
O fim é o bem-estar financeiro.
Teóricos ou Gurus: quem está certo (ou errado) em finanças pessoais
No final do ano passado, o professor James Choi publicou um artigo no NBER onde fazia uma análise dos livros mais populares na área de finanças pessoais. Choi comparou os conselhos dos autores com as recomendações da teoria. Há algumas diferenças interessantes. Um exemplo, a teoria aconselha que uma pessoa deve tentar quitar as dívidas com elevado custo em primeiro lugar. Isto faz sentido, já que a teoria olha a taxa de juros das dívidas. Mas os gurus de finanças pessoais indicam que você deveria começar com as dívidas de pequeno montante, deixando de lado a taxa de juros. O sentido é que ao quitar pequenas dívidas, a pessoa começa a criar um hábito saudável de tentar resolver sua vida financeira. O conselho dos gurus é mais no sentido comportamental.
Quem está certo: a teoria ou os gurus? Depende, segundo Tim Harford.
Às vezes, os livros populares estão simplesmente errados. Por exemplo, uma afirmação comum é que quanto mais tempo você mantém ações, mais seguras elas se tornam. Não é verdade. As ações oferecem mais riscos e mais recompensas, independentemente de você as manter por semanas ou décadas.
Em outro trecho do artigo de Harfor:
o conselho econômico padrão é que devemos facilitar o consumo ao longo de nosso ciclo de vida, acumulando dívidas enquanto jovens, acumulando economias na próspera meia-idade e gastando essa riqueza na aposentadoria. Tudo bem, mas a idéia de um "ciclo de vida" carece de imaginação sobre todas as coisas que podem acontecer na vida. As pessoas morrem jovens, passam por divórcios caros, deixam empregos bem remunerados para seguir suas paixões, herdam quantias arrumadas de tias ricas, ganham promoções inesperadas ou sofrem de problemas de saúde crônicos.
Não é que esses sejam resultados inimagináveis - eu apenas os imaginei -, mas que a vida é tão incerta que a idéia de alocar o consumo de maneira ideal ao longo de várias décadas começa a parecer muito estranha. O conselho financeiro bem usado de economizar 15% de sua renda, não importa o que aconteça, pode ser ineficiente, mas tem uma certa robustez.
O trabalho de Choi é bem interessante. Mas creio que supor que exista "uma" teoria talvez seja otimismo demais.
Foto: Jannes Jacobs
10 março 2023
09 março 2023
Crise de publicação
Sobre a crise de publicação:
Em cinco anos consecutivos, 2018-2019-2020-2021-2022, John Ioannidis possui 89-81-82-74-46 publicações indexadas PubMed. Isso seria um total de 372 ou 74 por ano (não auditei esse total manualmente). Nas primeiras oito semanas de 2023, o Dr. Ioannidis teve 17 publicações indexadas no PubMed até 27 de fevereiro. Este será um ano verdadeiramente marcante para ele, se essa tendência persistir.
A título de comparação, Francis Crick [do DNA] publicou menos de 55 artigos (alguns na lista são duplicados) iniciando uma carreira com mais de 40 anos de idade em 1952, quando ele tinha 36 anos. E encontrei uma reimpressão do artigo da Nature que resultou no Prêmio Nobel, no American Journal of Psychiatry (2003) como parte do 50o. aniversário do artigo que deu início a moderna biologia molecular (including mRNA vaccines)!
Nota adicionaal: Recebo e-mail, desta vez da Nature intitulado "Hiperautoria", que significa a ciência da "grande equipe" (2 de março de 2023, p. 175-177). Peter Higgs postulou o bóson homônimo em 1964. Sozinho. A confirmação experimental exigiu 2.932 autores. Uma medição precisa subsequente da massa do bóson de Higgs exigiu 5.154 “coautores”. Um artigo de 9 páginas sobre o efeito da vacinação SARS-CoV-2 nos resultados pós-cirúrgicos incluiu 15.025 “coautores” em um consórcio.
Fraude ou blefe?
A empresa Ozy atua na área de mídia e entretenimento desde 2013. Seu principal executivo é Carlos Watson. Ao longo da sua história, a Ozy chegou a estabelecer parcerias com o The New York Times e Wireless, com Oprah Winfrey, BBC e History Channel.
Em setembro de 2021, o antigo parceiro, o New York Times, anunciou que a empresa tinha feito algumas ações que aparentavam fraude. Uma delas é que o COO da empresa, Samir Rao, se fez passar por um executivo do YouTube em uma teleconferência com o Goldman Sachs. A empresa queria obter um investimento de 40 milhões e foi desmascarada quando o Goldman entrou em contato com o YouTube e confirmou que nenhum executivo da empresa estava participando da teleconferência.
Aparentemente o Conselho de Administração da Ozy exigiu a demissão de Rao. A CNBC consultou Sharon Osbourne se ela seria investidora da empresa, conforme uma declaração do CEO da empresa em 2019. Sharon negou e informou ter recebido ações da empresa como parte de um acordo legal.
O fechamento da empresa e a investigação de fraude aconteceram logo após. Rao, o falso executivo do YouTube, se declarou culpado; Watson, o principal executivo, foi preso e disse que era inocente.
Mas a acusação inclui mentiras sobre o desempenho da empresa e fabricação de documentos. Na newsletter DealBook do NYTimes, uma questão interessante:
ao nomear uma listagem de investidores no negócio - quando nem todos estivessem aportado dinheiro na empresa - o executivo estava sendo antiético. Mas esta prática é mais comum do que pensamos: quantas vezes um corretor imobiliário exagera nas pessoas que compraram um imóvel semelhante? ou quantas vezes uma empresa destaca que há um grande interesse por um produto? No mundo dos negócios isto chama-se blefe.
Enquanto a fraude é condenável, o blefe é defensável. Mas qual a fronteira entre ambos?
Foto: aqui
08 março 2023
06 março 2023
Vantagens da moeda corrente
Em um texto sobre o uso de moeda corrente na Suíça, uma relação de três vantagens da moeda corrente:
Primeiro, o dinheiro torna o gerenciamento do seu dinheiro claro e simples. É mais fácil manter uma compreensão firme de seus gastos com notas e moedas. Você só precisa abrir sua carteira para ver se pode pagar despesas adicionais. É por uma boa razão que os pais geralmente dão dinheiro aos filhos em dinheiro. Por outro lado, quando você mantém um cartão de plástico em um terminal de pagamento, tudo o que vê é um valor que será debitado da sua conta em algum momento no futuro.
Segundo, graças à sua simplicidade de uso, o dinheiro permite que todos participem da economia na vida social. Você não precisa de uma conta ou telefone celular para pagar com moedas e notas, nem precisa de uma afinidade com a tecnologia digital.
Terceiro, ao pagar em dinheiro, você não precisa fornecer detalhes pessoais, como seu nome ou número do cartão. Com pagamentos eletrônicos, no entanto, são armazenadas informações sobre as pessoas que efetuam o pagamento e seu comportamento de pagamento.
A notícia é que pode existir um plebiscito para obrigar o governo a garantir as moedas e notas em quantidade suficiente e que qualquer tentativa de substituir o franco suíço por outra moeda só pode ser feito por referendo. Isto inclui moeda digital.
Balanço Global
Assim como um balanço corporativo pode fornecer informações sobre a saúde financeira de uma empresa, um balanço global (GBS), contabilizando os ativos e passivos de governos, empresas, famílias e instituições financeiras, pode fazer o mesmo para economia mundial.
Este é o início do artigo publicado por Andrew Sheng, indicando a existência de um balanço global. Bom, na prática, o GBS não é tão global assim, já que combina dados de dez países, representando 60% do PIB. O GBS é calculado pela McKinsey Global Institute.
O comparativo do GBS é realizado em termos de outra medida, no caso o PIB. O gráfico abaixo mostra que atualmente a China tem a maior parcela do balanço global, uma posição que já foi do Japão, nos anos 80.
Sobre o fato do comparativo ser o PIB é natural que exista uma medida de "fluxo" - que seria esta medida econômica de produção. Neste caso, se o GBS corresponde ao Balanço, o PIB seria a DRE. O texto informa que os ativos correspondem a 18,1 vezes o PIB. Seria a medida inversa ao giro do ativo, que corresponderia dizer que os ativos mundiais provocariam uma geração de riqueza de 5%.(Tenho dúvidas se isto tudo faz sentido. Seria necessário mais leitura sobre o tema)
05 março 2023
Curva do tempo está mudando?
Parece que a curva da temperatura está mudando:
Aparentemente a temperatura média está mais elevada e há um aumento na variância. Ou seja, a curva da temperatura está mais achatada, com o deslocamento da média para o lado direito. É uma explicação para o problema ambiental?04 março 2023
03 março 2023
Contador, ética contábil e evasão fiscal: IESBA propõe uma importante e questionável guinada no código de ética
Inicialmente a notícia:
O Conselho Internacional de Padrões de Ética para Contadores divulgou uma proposta para revisar seu código de ética para tratar de preocupações sobre contadores que ajudam as empresas a evitar o pagamento de impostos.
O exposure draft, divulgado sexta-feira pela IESBA, responde a reclamações de evasão fiscal generalizada por empresas multinacionais e revelações do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos no Pandora Papers e o Paradise Papers do envolvimento de importantes escritórios de contabilidade e advocacia e bancos na facilitação de tais estratégias tributárias.
As propostas da IESBA, afiliada à Federação Internacional de Contadores, visam fortalecer as expectativas éticas para os contadores que trabalham em empresas e na prática pública ao realizar atividades de planejamento tributário para seus empregadores ou fornecer serviços de planejamento tributário aos clientes.
"A profissão contábil desempenha um papel confiável na facilitação da operação eficiente e eficaz do sistema tributário de uma jurisdição e na sua criação de um pilar do sistema econômico", disse a presidente da IESBA, Gabriela Figueiredo Dias, em comunicado divulgado na sexta-feira. "No entanto, é crucial que haja grades éticas claras e robustas quando contadores profissionais auxiliam o planejamento tributário de suas organizações e clientes empregando para salvaguardar o interesse público. Essas propostas oportunas também foram projetadas para fornecer aos contadores profissionais orientações práticas para enfrentar os desafios éticos nessa área complexa."
A estrutura ética proposta explicaria os tipos de ameaças ao cumprimento dos princípios éticos fundamentais do código de ética contábil que podem ser criados quando contadores profissionais estão envolvidos no planejamento tributário. Estabeleceria um princípio claro de que os contadores profissionais deveriam recomendar ou aconselhar sobre um acordo de planejamento tributário somente se determinassem que há uma base credível nas leis e regulamentos para ele.
Isto parece uma importante e questionável guinada no código de ética. Há aqui uma mudança de foco, onde o profissional, contratado por uma entidade, deve defender o interesse do Estado. Isto é muito inovador. Se nos primórdios o profissional fazia a contabilidade para o dono, a mudança proposta submeteria o profissional ao fisco. Faz sentido?
Será que as entidades que regulam a profissão irão aceitar? É, o inferno está cheio de pessoas bem intencionadas.
Curiosidade: Gabriela Figueiredo Dias é portuguesa
Foto: Luca Bravo
Modularidade, Lego e Salvar o Planeta
A modularidade tem várias vantagens. A primeira é que os componentes individuais podem ser fabricados em escala, o que reduz rapidamente os custos. Na década de 1930, um engenheiro aeronáutico americano chamado TP Wright fez um estudo cuidadoso das fábricas de aviões. Ele concluiu que quanto mais frequentemente um modelo específico de avião era montado, mais rápido e barato o próximo avião se tornava. Os trabalhadores aprenderam as melhores maneiras de trabalhar e ferramentas especiais seriam desenvolvidas para ajudar em tarefas específicas. Wright descobriu que o segundo avião seria tipicamente 15% mais barato que o primeiro. O quarto seria 15% mais barato que o segundo e o oitavo avião 15% mais barato novamente. Sempre que a produção acumulada dobrava, os custos unitários caíam 15%. Wright chamou esse fenômeno de "curva de aprendizagem".
Pesquisadores posteriores descobriram curvas de aprendizado em mais de 50 produtos, de transistores a cerveja. Às vezes, a curva de aprendizado é superficial e às vezes é acentuada, mas sempre parece estar lá. E como os projetos modulares usam repetidamente os mesmos planos e estruturas, eles aproveitam a eficiência da curva de aprendizado. (...)
Por sua natureza, os projetos de construção modular são mais propensos a continuar, mesmo quando há um problema com um elemento da estrutura. Isto ajuda a explicar porque, no banco de dados da Flyvbjerg [um especialista em megaprojetos fracassados], os projetos modulares são praticamente imunes aos mais dramáticos "cisnes negros", que são sempre um risco para outros grandes projetos.
Da coluna de Tim Harford. Foto: Xavi Cabrera
Harford entende que a aplicação da modularidade pode ajudar a energia solar e talvez a energia nuclear, reduzindo os custos deste tipo de energia. Isto pode facilitar a mudança da estrutura energética mundial. Por isto, o salvar o planeta do título.
E a contabilidade? A questão da curva de aprendizagem é ensinada em custos, sendo fundamental para certas áreas.
Processos contra gigantes da mídia crescem
Nos últimos anos tem-se observado um aumento substancial na depressão entre os jovens. O gráfico acima mostra a evolução da doença, entre 2004 a 2021 nos Estados Unidos. Começa a consolidar uma crença que as empresas de mídia sociais - Meta, Google entre outras - seriam responsáveis pela mudança no quadro de saúde de pessoas entre 12 a 17 anos.
Há algumas pistas neste sentido. A primeira é que o tempo gasto pelos jovens com redes sociais digitais é substancial. E os jovens que passam mais tempo na mídia social são mais propensos a terem casos de depressão. O gráfico abaixo mostra esta relação e parece nítido que quanto maior o tempo dispendido em uma mídia social, maior a chance de ter depressão.
A segunda pista é que os algoritmos são construídos para tentar aumentar ao máximo o tempo consumido on-line, mesmo que isto seja prejudicial para o usuário. O processo de recomendação de novos conteúdos induzem aos conteúdos que podem agradar ao usuário, não necessariamente a um tipo de conteúdo de qualidade.A terceira pista refere-se ao aumento de processos judiciais contra as empresas. O texto da Context, aonde retirei os gráficos acima, escutou alguns dos litigiantes e suas histórias. Alguns casos recentes mostram que a própria justiça não acredita na isenção das mídias sociais. O artigo de Avi Ascher-Shapiro apresenta algumas vitórias parciais que já aconteceram nos Estados Unidos. O Snap foi condenado pela morte de dois garotos que usavam um filtro que encorajava a condução imprudente. O Google está sendo processado por um vídeo no Youtube que induzia o apoio ao Estado Islâmico.
Alguns advogados acreditam que estão diante de um caso parecido ao da indústria do cigarro e ao da produção de amianto. Mas este assunto é controverso.
E a contabilidade? Em termos contábeis, havendo a chance da empresa ser processada e perder, a contabilidade deve olhar isto como um passivo. Para as empresas contábeis que consideram que a vida digital é só bônus, este seria o lado do ônus. Todo cuidado é pouco na exposição dos temas na mídia social.
02 março 2023
Gráficos
Netflix responde por 15% do tráfego mundial da internet. Logo a seguir, Youtube, com 12%Turismo contribuiu com 1/4 da economia da Islândia, Grécia e Croácia
01 março 2023
Impacto do Covid nas receitas ... da Pfizer
O gráfico mostra as receitas da empresa Pzifer, com destaque - em azul claro - para os produtos relacionados com o Covid. Atualmente a empresa tem receita de 100 bilhões de dólares, sendo 57% oriundos da vacina e da pílula.
Educação Financeira: aprendendo sobre o risco em um parquinho
Eis uma ideia controversa: em lugar de parque infantil "seguro", não seria interessante para o aprendizado das crianças frequentar um espaço de diversão com aparência perigosa? Seria uma forma de permitir que a criança saiba os desafios que terá que enfrentar e achar uma forma de gerenciar o risco.
Em Melbourne um playground foi construído com enormes pedras:
O playground [acima] é a mais recente criação de Mike Hewson, um artista-engenheiro da Nova Zelândia, que encontrou uma certa fama como designer de espaços de jogos de aparência extremamente perigosa para crianças. Ele agora construiu outros três playgrounds, além do de Southbank, todos na Austrália e todos com estruturas peculiares e extravagantes, que convidam à exploração e ao risco (calculado). (...)
Mas os perigos que espreitam nas criações de Hewson são principalmente ilusões. Os playgrounds estão em conformidade com os regulamentos de segurança da Austrália, e o histórico de engenharia de Hewson significa que, embora as estruturas possam parecer prontas para desmoronar, rolar para longe ou cair sobre alguém, elas estão firmemente instaladas. "Os bonecos não são realmente bonecos", diz ele, "e embora as coisas pareçam instáveis ou amarradas, na realidade elas são soldadas, embutidas ou adicionadas quimicamente à pedra."
Vencedores e Perdedores
Acima, o que ocorreu com o preço da ação, em 2022, de quatro empresas. O que elas possuem em comum? Todas são empresas fabricantes de armas. Um ano depois do início da Guerra da Ucrânia, os grande vencedores econômicos são estas empresas, os produtores de petróleo e eventualmente os produtores de alimentos. Mas o aumento no preço dos alimentos também traz uma consequência: os mais pobres terão um custo maior na cesta básica.