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18 novembro 2022

Menos é mais e a divulgação deve seguir esta linha

Em meados do ano passado, Damodaran fez uma postagem sobre o dilema da divulgação. É interessante que esta postagem ocorreu quando já iniciava uma demanda por informações relacionadas com sustentabilidade. O foco de Damodarn é a informação para fins de avaliação de uma empresa e, por este motivo, suas considerações são relevantes para os contadores e os reguladores. 

Na primeira parte do texto Damodaran enfatiza a situação atual da evidenciação contábil, em particular as relacionadas com empresas de capital aberto. Analisando o histórico, desde o início do século XX, é possível constatar que os relatórios anuais ficaram cada vez mais pesados. A explicação para isto pode estar na maior complexidade dos negócios, mas há também a responsabilidade das exigências de evidenciação, oriundas dos normatizadores. Há uma crença generalizada, já comentamos no blog, que mais informação resolve todos os problemas. 

Se no início do século XX, uma empresa como a Westinghouse Eletric não publicou nenhum relatório anual por quase dez anos, a recessão de 1929 terminou por trazer uma demanda por informação oriunda da criação da Securities and Exchange Commission (SEC). (No Brasil, já existia obrigatoriedade de divulgação em certos setores já no século XIX, como nas instituições financeiras.) 

O desenvolvimento recente é marcado pelo aumento no número de "páginas". O gráfico acima mostra que, entre 1994 e 2020, o número de páginas do relatório da Coca-Cola aumentou de cerca de cem para mais de duzentas. 

Um artigo acadêmico, que pesquisou as informações até 2012, citado por Damodaran, mostrou que as empresas estão usando frases repetidas (é isto mesmo) em diversas partes do relatório. Além de usarem palavras pegajosas. Veja no gráfico acima parte do resultado desta pesquisa. 

Isto fez com que o número médio de palavras aumentasse a cada ano. O que ocorreu com a Coca-Cola na realidade também se refletiu na maioria das empresas. A crise de 2007 pareceu interromper uma tendência de crescimento anual, mas logo as empresas retornaram a aumentar seus relatos. 

O gráfico acima mostra, em azul claro, que parte do aumento ocorreu no item de compliance, seja com a SEC ou com os padrões contábeis. Ou seja, a verbosidade dos relatórios tem sua explicação na redundância, na rigidez e na falta de legibilidade de três assuntos, segundo Damodaran: fatores de risco, controle interno e valor justo. O curioso é que todos estes três itens correspondem a informações que talvez não seja útil para um avaliador de empresas. A listagem de fatores de risco é muitas vezes óbvias demais para ser relevante e ajuda a empregar advogados; a descrição de controle interno pode ser útil para o auditor, mas não permite ter uma escala comparativa; e informações sobre valor justo cria a falsa ilusão de que o contador sabe fazer uma mensuração "justa". 

A segunda parte do texto de Damodaran é olhar isto sob a perspectiva do investidor. Eis um trecho interessante:

Grande parte da divulgação regulatória foi focada no que os investidores precisam para avaliar as empresas, embora muitas vezes com um viés contábil. No entanto, existem mais traders do que investidores no mercado, e suas necessidades de informações são frequentemente mais simples e mais básicas que os investidores. Simplificando, eles querem métricas uniformemente estimadas entre as empresas e podem ser usadas em preços, seja em receitas ou ganhos. 

Para o autor, há formas de corrigir este problema. Basicamente a mensagem é que menos é mais. Vou reproduzir a seguir o trecho final, que julgo ser bem interessante:

Espero que possamos ter em mente esses princípios, à medida que embarcamos no que agora é quase certo de se tornar o próximo grande debate de divulgação, que é o que as empresas devem ser obrigadas a relatar questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Você provavelmente está ciente minhas visões de todo o fenômeno ESG, e também tenho receio dos aspectos de divulgação. Se deixarmos que os serviços e consultores de medição da ESG se tornem os árbitros de quais aspectos de bondade e maldade precisam ser medidos, veremos as divulgações se tornarem ainda mais complexas e demoradas do que já são. Se você realmente deseja que as empresas sejam bons cidadãos corporativos, lute para manter essas divulgações em registros financeiros limitados apenas às dimensões ESG relevantes, escritas em linguagem simples (e não em palavras-chave ESG) e focadas em detalhes, em vez de generalidades. Falando da perspectiva de um professor, coloque um limite de palavras nessas divulgações, tire pontos por ofuscação e pense em quais divulgações existentes devem ser removidas para dar espaço a ela!

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