A primeira variável refere-se ao fato de um clube estar jogando em casa ou como visitante. O fato de jogar em casa aumenta a chance de vencer a partida. Há diversas explicações para isto, o que inclui a ausência de uma viagem cansativa - que o visitante tem que fazer, o conhecimento do campo e a pressão da torcida adversária.
A segunda variável é o custo do futebol. Diz respeito a quanto cada clube gasta com o esporte. Na pesquisa foi possível perceber que quanto maior o custo, maior a chance de vitória. É uma variável que expressa o poder econômico de cada equipe. A chance de uma equipe com uma folha de pagamento de milhões ganhar um jogo é maior que uma equipe amadora.
O advento da pandemia tornou este tipo de estudo mais interessante. Durante a crise de saúde, alguns jogos tiveram que ser realizados com portões fechados. Será que a ausência do torcedor provocou alguma mudança na vantagem do efeito campo? Se não foi afetado, provavelmente o efeito campo deve-se ao fato de visitante ter uma viagem que pode ser exaustiva ou o fato do mandante conhecer o gramado. A torcida não seria o 12o. jogador, contrariando um chavão do esporte.
Uma orientanda minha de graduação, Yasmim Carvalho Alencar, complementou o levantamento dos dados para série mais recente e atualizou o artigo original. Os cálculos que ela realizou envolve uma maior complexidade do que irei apresentar aqui.
No período de 2014 a 2021 foram disputados 3039 partidas de futebol no campeonato brasileiro. Deste total, 2440 jogos tiveram a presença do público. O restante foram partidas sem público. A análise que temos que fazer aqui é comparar se os resultados foram iguais.
O campeonato brasileiro de 2021 foi misto, com parte das partidas com público. Talvez fosse interessante, inicialmente, ficar fora da análise. Uma primeira maneira de analisar é comparar as vitórias do mandante. Com o público, 50,29% das partidas terminaram com vitória do mandante; já quando o público estava ausente, o percentual de vitória do mandante foi de 44,74%. Se não existisse o efeito campo este percentual deveria ser de 33%, já que uma partida possui três possíveis resultados: vitória, empate e derrota. Mas veja que o efeito campo existe, tanto com o público, quanto existindo a partida com portões fechados. Mas isto não é tão importante quanto a diferença o percentual de vitória do mandante, com e sem público: 50,29% versus 44,74%. A estatística nos diz que esta diferença é significativa. Em outras palavras, a ausência de público reduziu a chance do mandante ganhar sua partida.
Outra forma é comparar o número de pontos médios que o mandante obteve. Esta forma é mais adequada, já que a vitória concede três pontos ao ganhador, enquanto o empate significa um ponto somente. O peso da vitória é proporcionalmente maior. A forma para cálculo dos pontos médios obtidos pelo mandante é simples: basta multiplicar o percentual de vitórias por três e o percentual de empates por 1 e dividir o resultado por três. Um parênteses aqui: nós dividimos por três pois este é o número máximo de pontos que poderia ser obtido em uma partida.
Quando usamos esta forma, obtemos que no período com público o número de pontos obtidos pelo mandante foi de 58,89%. Já durante o ano de 2020, este percentual caiu para 54,21%. Parece, a princípio, que a diferença não é grande. Mas estatísticamente há diferença.
Até agora não olhamos o que ocorreu com o ano de 2021. Este ano foi interessante, pois estamos olhando para o mesmo campeonato, onde alguns jogos foram disputados sem público. Como está no mesmo ano, não ocorreu grandes variações no custo do futebol. O resultado confirma a importância da torcida. Quando o jogo teve público, o número médio de pontos obtido foi de 64,8% - o cálculo foi explicado dois parágrafos antes. Mas quando o jogo foi sem torcida, este percentual caiu para 49,01%. E esta diferença foi significativa.
[continua]
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