A empresa Patagonia foi fundada em 1973 por Yvon Chouinard. A empresa tem uma receita anual de US$1,5 bilhão e possui um valor estimado de US$ 3 bilhões. A Patagonia vende roupas relacionadas com esportes, além de equipamentos esportivos, mochilas, sacos de dormir, entre outros produtos.
A empresa se considera uma “empresa ativista”. Sua política de licença familiar e maternidade é elogiada. Há um compromisso de destinar 1% das vendas para os grupos ambientais desde 1985 e um compromisso de tornar neutro em carbono até 2025. Em 2020 suspendeu sua publicidade no grupo Meta por considerar que a empresa do Facebook não estava tomando medidas necessárias para reduzir o ódio nas mídias sociais.
A notícia recente é que o fundador da empresa anunciou que a empresa seria doada para garantir que os lucros fossem usados para a questão ambiental. Este notícia teve uma boa repercussão. Segundo a Exame, o bilionário excêntrico e ambientalista estaria doando a empresa para “caridade”.
A partir de agora, todo o lucro da companhia (algo como US$ 100 milhões por ano), será destinado à causa ambiental por meio do Holdfast Collective, uma ONG dedicada à preservação do meio ambiente — e para a qual os Chouinard também doaram 98% do capital social da empresa.
"Esperamos que isso influencie uma nova forma de capitalismo que não acabe com algumas pessoas ricas e um monte de pessoas pobres", disse Chouinard em entrevista ao portal americano.“Vamos doar o máximo de dinheiro para as pessoas que estão trabalhando ativamente para salvar este planeta.”
A posição de Chouinard foi comemorada como um exemplo a ser seguido. Os textos com a notícia reforçaram a imagem de um ativista humilde e que luta contra o governo pela causa ambiental. Em outro texto da Exame temos
O incômodo se tornou gritante nos últimos dois anos, quando Chouinard passou a buscar por alternativas para diluir seu patrimônio líquido. Em última instância, ele havia considerado até mesmo vender a empresa. Abrir o capital, porém, nunca foi uma opção.
O executivo não acreditava que a companhia seria capaz de cumprir com as diretrizes ambientais e sociais como uma companhia pública. "Eu não respeito o mercado de ações", disse ao NYT. “Uma vez que você se torna público, você perde o controle sobre a empresa e precisa maximizar os lucros para o acionista, e então se torna uma dessas empresas irresponsáveis.”
Há duas questões importantes aqui que a imprensa parece não ter explorado adequadamente. A primeira é a postura ambiental da Patagonia. E a segunda refere-se ao pagamento de impostos com a operação de doação. Vamos começar pela primeira.
Em um texto para New Republic, Rachel Donald mostra que esta história de empresa ativista deve ser vista com cautela. Na própria Wikipedia há uma breve nota que a empresa sofreu uma queixa crime por uso de trabalho forçado em Uigur. Mas a denúncia de Rachel Donald vai além. Donald informa que uma rede de organizações da indústria de moda estava usando dados falsos para promover materiais baseados em combustíveis fósseis (leia-se petróleo) como sendo sustentável. A Sustainable Apparel Coalition criou o Higg Materials Sustainability Index (MSI de Higg). Este índice considera o poliéster como sendo a fibra mais “sustentável de todas as fibras”. Mas o poliéster é originário do petróleo. Coincidentemente, também é a fibra mais barata de todas. A Patagonia teve um papel de liderança neste processo.
O que a imprensa fez é elogiar o bilionário como um ativista, embora sua empresa defenda o poliéster. É parecido com os elogios à Bill Gates, muito embora use jatinhos nas suas viagens.
A mensagem que esse tipo de relatório envia é que os bilionários poderiam nos salvar de nós mesmos se apenas mais deles [mais bilionários] tivessem o espírito da Patagônia. No entanto, dados brutos sobre as emissões de bilionários, fica claro que muito mais pessoas precisam ser salvas dos bilionários que são salvos por eles.
Foto acima: Malik Skydsgaard
A segunda questão é a tributária. No ZeroHedge destaca esta questão, apesar da escassez das informações sobre como o processo irá ocorrer. A escolha de Chouinard significa que o bilionário irá deixar de pagar US$700 milhões em impostos. Aparentemente, a doação permitira que Chouinard e sua família mantenham o controle da empresa. Usando uma legislação tributária dos Estados Unidos,
"Chouinard não terá que pagar os impostos federais sobre ganhos de capital que ele teria devido se tivesse vendido a empresa", diz o relatório. Isso teria sido cerca de US $ 700 milhões em uma venda de US $ 3 bilhões. Além disso, ele também evita o imposto sobre imóveis e presentes nos EUA, o que teria sido um pedaço de 40% de mudança quando sua empresa foi transferida para seus herdeiros.
Será que existe almoço de graça? E doação de graça?
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