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08 abril 2022

Divulgando incerteza na contabilidade


Jessica Hullman faz algumas recomendações sobre a comunicação da incerteza por parte do governo. Hullman está falando de informações como o número de mortos pela pandemia, as taxas de desemprego, o PIB e outras informações. Mas muitos comentários são válidos para a contabilidade.

Quando o profissional contábil divulga o valor do ativo, da receita, do resultado e de outros elementos contábeis, o número geralmente é um valor único. Entretanto, muitos valores poderiam ser evidenciados no seu intervalo. O valor de caixa e bancos é um número único, mas a estimativa dos créditos de clientes que podem ser recebidos irá variar dentro de um intervalo. Haveria uma necessidade de comunicar a incerteza no número.

(Não irei entrar em discussão sobre a distinção entre incerteza e risco. Conforme a tradição, incerteza está vinculado àquilo que não sabemos e risco a probabilidade, conhecida, de ganhar ou perder. Um lançamento de uma moeda tem 50% de chance de ser cara e 50% de dar coroa e apostar em cara tem um risco conhecido de perder ou ganhar)

Hullman afirma que uma das várias razões pelas quais se têm o receio de expressar a incerteza é que a pessoa comum não saberá o que fazer com a informação. Penso que o mesmo se aplica para a contabilidade. Já existem dúvidas sobre a qualidade da contabilidade das empresas (vide, por exemplo, a crítica de Lev) e a divulgação da incerteza pode gerar preocupações sobre a falibilidade da contabilidade e do grau de erro existente na informação divulgada. Talvez um usuário consciente saiba que os valores contábeis não são “exatos”, mas prefere ignorar tal problema. Os meteorologistas já lidam com este problema melhor do que a contabilidade. Mas a meteorologia possui algumas vantagens sobre a contabilidade: o número de incerteza e previsões é suficientemente grande para ajustar seus modelos preditivo e reduzindo o viés do conservadorismo , muitas decisões são binárias e você tem um output bastante claro (choveu ou não choveu, ao contrário da contabilidade, que geralmente não tem isto).

Hullman não esquece do desafio da comunicação. Em alguns casos, esta incerteza é comunicada através de texto, como ocorre nas notas explicativas. Mas há alternativas disponíveis, como comunicar intervalo mais provável dos valores. Isto é um problema realmente, já que muita comunicação na contabilidade é, até certo ponto, “vazia”.

Talvez seja possível começar com algum item. Por exemplo, o percentual de clientes que não irão efetuar o pagamento. Isto é uma informação até certo ponto binária, algo que desejamos para melhor calibrar nossos modelos preditivos, e permite um feedback mais persistente, mais próximo da previsão de chuva da meteorologia.

(A questão do meteorologia está bem discutida no livro O Sinal e o Ruído. Acabo de perceber que nunca fizemos uma resenha deste livro de Nate Silver)

Foto: Michael Shannon

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