Um texto da revista The Economist (Uma nova era para pequenos investidores, publicado Estado de S Paulo, 14 fev 2021) mostra como a tecnologia e a regulação ajudaram no aumento da liquidez de diversos mercados:
Para onde quer que olhemos, a tecnologia ajudou a criar novos mercados com liquidez. “O mercado das quinquilharias do sótão não tinha liquidez”, afirma Alvin Roth, ganhador do Nobel de Economia. “A internet tornou possível fazer sua venda de garagem no eBay.” O GPS e os smartphones tornaram possíveis os aplicativos de transporte individual – o que criou densos mercados para deslocamentos.
O texto exemplifica melhor com o caso do comércio do trigo:
Exemplos nos mercados financeiros não faltam. Nos Estados Unidos do século 19, compradores de trigo viajavam de fazenda em fazenda testando os produtos antes de optar por comprar de algum agricultor específico. Depois, as ferrovias tornaram possível mover os grãos de maneira mais barata em vagões de carga. Mas esses vagões também tornaram um desperdício armazenar separadamente os grãos de cada agricultor. Então, em 1848, a Junta Comercial de Chicago passou a classificar o trigo por qualidade (1 para o melhor, até 5 para o pior) e pelo tipo (vermelho ou branco, mole ou duro, de inverno ou de primavera). A padronização baixou o custo do transporte e do comércio de grãos, tornando os mercados mais eficientes. O processo era tão efetivo que a palavra commodity virou sinônimo de padronização.
Entretanto, isto não é possível para todo tipo de ativo. Os imóveis servem de exemplo:
Estimativas disponíveis indicam que existem hoje nos EUA de 5 milhões a 6 milhões de prédios comerciais e mais de 140 milhões de residências – e cada imóvel tem características únicas.
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Juntando esses desenvolvimentos, parece claro que a tecnologia está possibilitando que liquidez, transparência de preços e competitividade aflorem em vários nichos. É verdade que os mercados de arte, obrigações e residências nunca serão tão fluidos quanto o mercado de ações. Agora, transparência e liquidez parecem estar fadadas a trazer furiosa competição de taxas em outros ativos. Pequenos investidores poderão um dia ser capazes de colocar seu dinheiro em portfólios de fundos com taxas baixas de investimento de qualquer segmento.
No caso do mercado de ações, o processo começou há tempos:
O avanço na direção de um acesso irrestrito ao mercado de ações começou em 1975, com a abolição de enormes comissões fixas e a entrada de operadores que cobravam taxas baixas, como Charles Schwab, lembra Yakov Amihud, da Universidade de Nova York. Depois veio a corretagem automatizada e a decimalização dos preços das ações. Até 2010, o número de operadores de alta frequência tinha aumentado a ponto de dominar o comércio de ações. “A cada parada ao longo do caminho, o mercado descarregava alguns custos de operação, e a liquidez melhorava”, afirma Amihud.
Os custos das operações baixaram, e a quantidade de ações negociadas explodiu. Quanto mais participantes chegavam, mais rápidas e mais baratas se tornavam as operações. Em 2015, foi lançado o Robinhood, aplicativo de corretagem online pelo qual muitas operações da GameStop seriam canalizadas, tornando-se a primeira plataforma a não cobrar taxa nenhuma de seus usuários. Aliado a isso, a pandemia deu tempo às pessoas e forneceu cheques de estímulo que serviram como fundos para começar a investir, impulsionando a participação de pequenos investidores a novas alturas. Pequenos investidores foram responsáveis por um décimo do volume de ações negociadas nos Estados Unidos em2019. Em janeiro deste ano, sua participação elevou-se para um quarto do mercado.
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