“Vai quebrar tudo”, afirmou, ao criticar as medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos, que paralisavam de forma despropositada, em sua visão, a economia do País.
Mas, decorridos quase cinco meses de sua “profecia” apocalíptica, encampada por analistas de diferentes orientações políticas, a realidade revelou um quadro bem mais palatável, apesar dos danos inevitáveis provocados pela pandemia nos negócios.
Com a publicação dos balanços do segundo trimestre pelas empresas de capital aberto, uma informação surpreendente veio à tona. Embora os lucros tenham caído 81,9% no primeiro semestre do ano, as vendas das companhias abertas não financeiras mostraram um vigor que pouca gente esperava, mesmo nos cenários mais otimistas.
De acordo com uma pesquisa feita com exclusividade para o Estadão pela Economatica, uma empresa de dados financeiros, a receita líquida operacional – termo contábil que designa o valor obtido nas vendas depois dos impostos – teve expansão de 7% no período. Passou de R$ 734,4 bilhões, nos primeiros seis meses de 2019, para R$ 785,8 bilhões, em igual período deste ano.
Prova de fogo
O estudo incluiu 218 empresas abertas não financeiras que divulgaram seus balanços trimestrais até o dia 21 (ver quadro ao lado). Segundo Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica e responsável pelo levantamento, como os resultados de Petrobrás, Vale, Braskem, Suzano, Oi e Azul provocariam uma grande distorção nos dados, elas foram excluídas da amostra.
Os bancos, as companhias de seguro e outras instituições financeiras, que têm indicadores com características diferentes daqueles do chamado “setor produtivo”, também ficaram de fora.
“O pessoal está preocupado, com razão, com a dívida pública, que está chegando perto de 100% do PIB (Produto Interno Bruto) por conta do enfrentamento da pandemia. Mas, se a gente pensar que teve uma prova de fogo terrível, pela qual todo mundo passou, o resultado das empresas é muito bom”, diz o consultor Adriano Pitoli, ex-diretor de análise setorial e regional da Tendências Consultoria e ex-chefe do núcleo da Secretaria de Indústria e Comércio do Ministério da Economia em São Paulo.
Desempenho forte
“O impacto da pandemia, de maneira geral, não foi tão grave. Os resultados foram melhores do que a gente imaginava”, afirma o economista Carlos Sequeira, responsável pela área de pesquisa de ações do BTG Pactual para a América Latina, no escritório do banco em Nova York.
De acordo com Sequeira, apesar da surpresa positiva, o crescimento apontado pela pesquisa pode estar superestimado. Ele diz que, além da exclusão das seis empresas mencionadas acima, seria preciso eliminar também a JBS e a Marfrig, que tiveram desempenho muito forte neste quesito.
Só a JBS teve crescimento de receita líquida operacional de R$ 28,8 bilhões no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, conforme os dados da Economatica. A Marfrig teve um incremento de receita de mais R$ 10,6 bilhões. Com a exclusão das duas, o crescimento das 216 empresas não financeiras restantes seria de 1,6% e não de 7%, como ficou com a inclusão delas na amostra. Ainda assim, levando em conta o impacto da pandemia, não seria um resultado ruim. “A performance da JBS e da Marfrig foi fora do normal. Isso provoca uma distorção nos números gerais”, afirma.
Fonte: Estado de S Paulo.
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