Sobre Manucci, eis o que diz Miguel Gonçalves:
Analisada a documentação de 1299–1300 (não existem outros quaisquer livros de contas sobreviventes da filial de Salon), verifica-se que Manucci, o guarda-livros responsável pela contabilidade da filial do grupo Giovanni Farolfi e Companhia em Salon, mantinha já práticas de contabilidade que actualmente podemos considerar notáveis, como seja, a título exemplificativo (ver Lee, 1977, pp. 90-91; Soll, 2014, p. 37), o cumprimento do pressuposto do regime de acréscimo, na medida em que o razão contém um exemplo de uma renda de um armazém paga antecipadamente em Maio de 1299 pela empresa Giovanni Farolfi e Companhia referente a um período de quatro anos (16 libras tornesas, no total), a qual foi devidamente especializada, isto é, apenas 4 libras tornesas foram reconhecidas no final do período como gasto do primeiro exercício dos quatro em questão (por contrapartida do crédito de uma conta que modernamente seria a de Diferimentos – Gastos a Reconhecer, a qual foi debitada em Maio de 1299 por 16 libras tornesas referentes ao pagamento total), o que demonstra que há mais de 700 anos os contabilistas conhecem e respeitam os actuais princípios contabilísticos geralmente aceites da especialização dos exercícios e do balanceamento (correlação) entre rendimentos gerados e gastos que lhes estão directamente associados, em ordem à obtenção de uma imagem mais verdadeira e apropriada das operações da filial de Salon da firma Giovanni Farolfi e Companhia.
Fonte: Gonçalves M. (2019). Contabilidade por partidas dobradas: história, importância e pedagogia (com especial referência à sua institucionalização em Portugal, 1755–1777). De Computis - Revista Española de Historia de la Contabilidad, 16 (2), 69 - 142. doi: http://dx.doi.org/10.26784/issn.1886-1881.v16i2.355
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