
Riscos sistêmicos para a economia gerados por prejuízos decorrentes de eventos como secas, enchentes e furacões justificam a preocupação. Um estudo da consultoria McKinsey, divulgado neste ano, afirma que até 2030 os 105 países pesquisados, responsáveis por 90% da economia global, deverão enfrentar mudanças ambientais, como aumento de chuvas e de pessoas expostas a calor extremo. A Índia, um dos países mais expostos a elevação da temperatura, pode ter de 2,5% a 4,5% do produto interno bruto em risco dentro de dez anos se o cenário se mantiver. O estudo também alerta que as reservas do setor de seguros são insuficientes para arcar com os prejuízos materiais caso a ocorrência de situações extremas continue a crescer no ritmo atual. (...)
A ideia de usar o poder dos bancos centrais para conter as emissões ganhou um tom de urgência agora, mas já vem sendo discutida há alguns anos. “É uma estratégia incomum, mas que pode funcionar”, afirma Sérgio Werlang, assessor da presidência da Fundação Getulio Vargas e ex-diretor do Banco Central. Em 2017, oito bancos centrais — de Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, Finlândia, Singapura, México e China — criaram a Network of Central Banks and Supervisors for Greening the Financial System, uma rede de reguladores cujo objetivo é a troca de informações e práticas que favoreçam a mobilização de capital para setores de baixo carbono. Hoje, 54 instituições fazem parte da iniciativa (o Brasil não é signatário). Quando assumiu o comando do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, ex-chefe do Fundo Monetário Internacional, classificou o combate às mudanças climáticas como uma “missão crítica” do BCE.
As medidas práticas começam a despontar. Desde o ano passado, o Banco da Inglaterra conduz testes de estresse climático com bancos e seguradoras do país. Estão sendo considerados três cenários. O mais severo prevê uma elevação de 4 graus na temperatura global até 2080. Os resultados serão divulgados em 2021. No Brasil, a Febraban, federação que reúne os bancos, e o Banco Central conduzem um projeto semelhante. De forma voluntária, as instituições financeiras estão criando a chamada “régua de sensibilidade climática”, que vai determinar a exposição de cada uma às mudanças climáticas. Segundo Mário Sérgio Vasconcelos, diretor de sustentabilidade da federação, os resultados devem sair em dois ou três anos. “Essa é uma pauta nova para o mercado financeiro, porém permanente e liderada pelo setor privado”, afirma Vasconcelos.
Em paralelo, existe um esforço das próprias empresas e instituições financeiras para criar um padrão de divulgação de informações relacionadas a riscos climáticos, algo que vai facilitar a análise de riscos sistêmicos. Em Davos, as quatro maiores empresas de auditoria do mundo, Deloitte, EY (antiga Ernst &Young), KPMG e PwC, assinaram um acordo em que estabelecem um modelo contábil para os dados de impacto climático. A iniciativa foi capitaneada pelo presidente mundial do Bank of America, Brian Moynihan, diretor do International Business Council, conselho ligado ao Fórum Econômico Mundial que reúne cerca de 100 presidentes de empresas de vários setores. A ideia é unificar diversos padrões de relatórios existentes, entre eles o Global Reporting Initiative (GRI), o mais utilizado atualmente, e o TCFD — sigla em inglês para força-tarefa sobre divulgação de informações financeiras ligadas ao clima, iniciativa presidida por Michael Bloomberg, pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, criada em 2015 pelo Financial Stability Board, órgão internacional que monitora o sistema financeiro.
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