A empresa Sete Brasil foi criada em 2010. Sua função seria ajudar o país a explorar o petróleo do pré-sal. Por ser uma empresa com participação de investidores (fundos de pensão, bancos e outras empresas), não se pode dizer que seja uma empresa estatal. Entretanto, a participação da estatal Petrobras é o destaque. Afinal, ela foi criada para “vencer” as licitações para contratação de sondas de última geração para Petrobras. Inicialmente a ideia seria a contratação de 28 sondas. Muito dinheiro público foi colocado na empresa, incluindo do FGTS, via compra de debêntures.
A questão é que a Sete Brasil talvez tenha sido criada para dar prejuízo. Ou melhor: para dar lucro para algumas pessoas. Com a divulgação dos escândalos nos anos recentes, a Sete Brasil esteve diretamente envolvida em desvio de recursos. Em 2016, a empresa reconheceu um prejuízo de quase 6 bilhões de reais. A recuperação judicial aconteceu neste período, já que a empresa tinha dívidas de 19,3 bilhões, investigação de falcatruas acontecendo e dúvidas sobre a continuidade. Já nas demonstrações contábeis de 2015 a palavra continuidade foi usada 16 vezes. É um claro sinal de problemas. Logo nas notas explicativas a empresa entregava:
“não há como assegurar a continuidade operacional do grupo no atual cenário. Com isso, (...) contratou uma firma internacionalmente reconhecida para elaborar um laudo de avaliação do valor de mercado dos ativos e, consequentemente, suportar o valor de recuperabilidade de cada ativo”
Com a recuperabilidade, o ativo da empresa caiu de 10 bilhões de reais para 1,9 bilhão. A linha de “investimentos” saiu de 8,4 bilhões para zero, entre 31/12/2014 e o ano seguinte. Mas os empréstimos e financiamentos continuavam no balanço da empresa: 15 bilhões no final de 2015. O prejuízo da empresa foi um dos maiores de todos os tempos: mais de 30 bilhões de reais.
Um desempenho deste tipo vai sobrar para alguém. Os principais credores eram
FGTS, Caixa Econômica Federal e três operações de empréstimo-ponte onde estão envolvidas as grandes instituições financeiras que atuam no Brasil: Banco do Brasil, Itau, Santander e Bradesco. O BB ficaria com uma dívida de 3,5 bilhões, seguido pelo FGTS.
Um texto recente do Valor Econômico afirma que parte desta conta ficará com a Petrobras. Segundo Graziella Valenti, a Petrobras tem 3,8 bi em provisões para Sete Brasil (este é o título do texto, 30 de outubro de 2019, B2). E as cobranças das partes prejudicadas estão colocando a empresa, que seria a contratante das sondas. Valenti afirma que até inicio do ano não existiam provisões para este caso específico. Mas que agora, a Petrobras reclassificou o caso, de “possível” para “provável”.
[Na Central de Dowloads não aparece nada sobre isto]
Com efeito, nas demonstrações do terceiro trimestre, a empresa faz menção à Sete Brasil na nota 27.2. [Uma curiosidade. Nas demonstrações em dólar, aparece 995 milhões na nota 24 (da DRE) e 912 na nota 27.1 (do passivo). Nas demonstrações em reais, o valor é 3,8 bilhões, tanto na nota 24, quanto na nota 27.1. Qual a razão da diferença? Taxa de Câmbio?]
Na conferência, nenhuma pergunta sobre o assunto. A repórter entrou em contato com a empresa e não recebeu nenhuma informação: é um assunto que corre em sigilo.
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