Adriana Lima se despedindo em seu último desfile, em 2018 |
[...] o desfile da Victoria’s Secret não acontecerá este ano. A informação ainda não foi confirmada pela grife, que já havia comunicado em maio que a apresentação de 2019 não seria televisionada pela primeira vez em quase duas décadas.
Sendo confirmada ou não, a possibilidade do show acabar representa o fim de uma era: o evento acontecia anualmente desde 1995 e ao, longo do tempo, se transformou no maior acontecimento do business, com apresentações apoteóticas de celebridades como Rihanna e Justin Bieber. Ser eleita uma Angel era o ápice da carreira de uma modelo.
A marca, no entanto, já vinha sendo amplamente criticada pela falta de diversidade na passarela. Enquanto novas grifes de lingerie como a Savage X Fenty, comandada por Rihanna, celebram todos os tipos de mulheres e corpos, a VS seguia presa ao seu próprio padrão de beleza, completamente ultrapassado. [...]
A polêmica declaração de Razek é o perfeito retrato de que a Victoria´s Secret não tem olhado para o mundo ao seu redor, presa a seu antigo case de sucesso, que ficou ultrapassado. O desfile fazia sentido em uma época que a moda valorizava um único padrão de beleza. Mas – finalmente! – a indústria mudou. Estamos vivendo um novo momento, que celebra a diversidade, a personalidade, homens e mulheres reais. O consumidor passou a ter voz ativíssima, nada mais é imposto. [...]
A própria audiência do desfile já havia sofrido um enorme impacto: ao longo dos últimos anos, os expectadores caíram de 9,7 milhões de pessoas (2013) para 3,3 milhões (2018). [...]
O descontentamento com a marca já podia ser sentido também nas vendas: em 2018, as ações da L Brands caíram 41% devido à desaceleração das vendas na Victoria´s Secret. No mesmo ano, foram fechadas 30 lojas da marca – para 2019, a previsão é que outros 53 endereços encerrem as atividades. “O problema vai muito além do desfile em si”, pondera Ju Ferraz, colunista do Vogue Gente. [...]
Fundada nos anos 70, a Victoria´s Secret nasceu em meio a uma revolução sexual (a pílula anticoncepcional havia chegado ao mercado na década anterior) e foi um importante marco para a época, uma das primeiras marcas a vender lingerie tão abertamente, em lojas dedicadas exclusivamente à roupa íntima – era empoderador (e sexy) ter controle sobre o próprio corpo.
“Já nos anos 90, as supermodels agregavam à marca de underwear um status que nenhuma outra teve no mundo”, relembra Pedro Sales, diretor de moda da Vogue. “Ganhando fortunas, Gisele, Stephanie Seymour e Naomi riscavam a passarela, ovacionadas como grandes artistas do showbiz. No Brasil, fazer parte do casting foi o sonho de muitas meninas, que viam em modelos como Adriana Lima, Alessandra Ambrosio e Lais Ribeiro uma carreira cheia de fama e altos cachês.”
[...] Mas o mundo mudou e a Victoria´s Secret se afundou no próprio case que criou, hoje antiquado.”
Em 1982 a The Limited (L Brands, atualmente) comprou a Victoria’s Secrets por US$ 1 milhão. Les Wexner, dono da marca, é hoje a 413ª pessoa mais rica do mundo, segundo a Forbes.
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