Como as pessoas reagem quando acham uma carteira de alguém? A reação varia conforme o local e também o conteúdo da carteira explica o comportamento das pessoas. Um estudo, publicado na Science tratou deste assunto. Alain Cohn, Michael André Marechal, David Tannenbaum e Christian Lukas usaram assistentes que “acharam” uma carteira em 355 cidades de 40 países do mundo. E verificaram a honestidade das pessoas. No total foram 17 mil carteiras, a um custo de meio milhão de dólares.
Em cada carteira tinham listas de compras, em língua local, e cartões com o nome da pessoa que perdeu (incluindo o e-mail). Em algumas carteiras, nenhum dinheiro. Em outras, cerca de 13 dólares em moeda local. Os assistentes entregaram as carteiras para funcionários de bancos, hotéis, agências dos correios, museus e delegacias de polícia. Afirmavam que tinham encontrado a carteira e estavam com pressa para entrar em contato com o dono. E deram a responsabilidade para que recebeu a carteira. Nas carteiras sem dinheiro, o índice de devolução foi de 40%. Nas carteiras com dinheiro, a devolução foi de 51%.
Este índice variou conforme o país: na Dinamarca o percentual de devolução foi de 82%, mas nos Estados Unidos foi de 57%.
Além disto, os pesquisadores também aumentaram a quantidade de dinheiro em três países (EUA, RU e Polônia) e uma grande surpresa: o percentual de devolução aumentou, em lugar de diminuir. Pela teoria formulada por Gary Becker deveria ser o oposto, já que o comportamento desonesto é uma especie de análise do custo benefício.
Outro fato interessante: algumas carteiras não tinham dinheiro, mas tinha um chave. A presença da chave também aumentou o índice de devolução.
O gráfico mostra em amarelo o percentual de devolução com a carteira sem dinheiro; de vermelho, com dinheiro. Países escandinavos são honestos; China foi o mais desonesto. O Brasil ficou em 26o lugar; nada mal, para quem tem a fama de ser um país dos desonestos.
Um estudo realizado no Brasil mostrou também que os grupos sociais podem afetar esta honestidade das pessoas. Trata-se da tese de doutorado de Mariana Bonfim.
Fonte: Civic honesty around the globe. Science 20 JUN 2019. DOI: 10.1126/science.aau8712
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