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30 janeiro 2019

A Importância da Reclassificação do Balanço

Um dos aspectos mais relevantes para uma boa análise das demonstrações contábeis é o processo de reclassificação que antecede ao cálculo dos índices e a análise propriamente dita. Existem diversos itens que podem ser objeto de reclassificação, mas aqui talvez a sensibilidade do analista predomine.

Veja o caso da Cielo. A empresa divulgou suas demonstrações contábeis ontem e o balanço patrimonial divulgado foi o seguinte:

Note que a empresa tinha um ativo, em 31/12/2018, de 82 bilhões de reais. Seu passivo era de 72 bilhões. Ou seja, uma análise baseada em um índice tradicional de endividamento indicaria que a empresa estava bastante endividada: 88,5%. Considerando que a empresa gerou um lucro operacional de 4,6 bilhões (somei ao “lucro operacional” antes do IR divulgado a despesa financeira), temos que este grande ativo gerou um lucro somente de 5,6%. Se a análise é feita usando o giro do ativo, temos uma receita anual de 6,45 bilhões e um giro de 0,08, um valor muito baixo.

Toda análise do parágrafo anterior foi realizada sem a reclassificação. E no caso desta empresa, a reclassificação pesa muito. Observe que o ativo é alto, o passivo também, mas a receita, o resultado e o patrimônio líquido não. Com elevado índice de endividamento, baixa rentabilidade e baixo giro do ativo, a empresa talvez não passasse nos testes de qualidade dos modelos de análise.

Atente agora para o principal ativo da empresa. Trata-se de “contas a receber de emissores”; e o principal item do passivo é “contas a pagar dos estabelecimentos”. Vamos lembrar que a Cielo tem, entre seus negócios, a operação de máquinas de cartões de débito e crédito. Quando um consumidor compra em um estabelecimento, o dinheiro sai da sua conta para a Cielo, que repassa para o estabelecimento alguns dias depois. Assim, o ativo corresponde as dívidas do consumidor; o passivo é a obrigação da Cielo com os estabelecimentos.

Uma forma de analisar melhor o resultado da empresa é fazer uma reclassificação do passivo. Neste caso, reduz o valor do ativo relacionado com as dívidas dos consumidores. Em outras palavras, iremos passar 52 bilhões, de 31/12/2018, e 57 bilhões, de 31/12/2017, para o ativo. Isto irá fazer com que o ativo e o passivo se altere para os seguintes valores:

Ativo de 31/12/2018, de 81,757 bilhões para 28,879
Ativo de 31/12/2017, de 88,621 bilhões para 31,244

Passivo de 31/12/2018, de 72,393 bilhões para 19,515
Passivo de 31/12/2017, de 78,47 bilhões para 21,093

Com isto, os indices de endividamento, retorno do ativo e giro do ativo se alteram:

Endividamento, de 88,5% para 68%
Retorno do Ativo, de 5,6% para 16%
Giro do Ativo, de 0,08 para 0,22

Isto faz sentido? Observe que a análise das demonstrações contábeis não seguem um “regra” ou norma. O bom senso deve prevalecer, sustentado pela teoria. Este seria o caso. Ao reclassificar, estamos colocando juntos dois itens que são originários de uma mesma operação: a venda a um consumidor através da Cielo.

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