A Petrobras divulgou os resultados do primeiro trimestre de 2018 (aqui, aqui e aqui). De uma maneira geral, a atual gestão da Petrobras tem dois aspectos positivos que a credenciam: sorte e um parâmetro comparativo bastante favorável.
Desde que Parente assumiu a empresa, a Petrobras teve, em alguns momentos, a seu favor, o câmbio favorável, que permitiu manter sob controle sua dívida. Agora, o preço internacional do petróleo parece voltar a aumentar, o que pode ajudar a atual gestão nas melhorias implantadas de controle da dívida e redução dos investimentos inadequados. Para completar, a gestão atual tem como parâmetro de comparação duas gestões desastrosas da empresa, marcada por investimentos de péssima qualidade e um grande esquema de corrupção.
O resultado divulgado nesta semana mostra uma empresa mais enxuta, com menor endividamento e que começa a ter resultados positivos. O gráfico abaixo apresenta o comportamento da receita da empresa desde 2010, corrigido pela inflação. A empresa atingiu, entre o final de 2013 e o final de 2014, o auge, quando, a receita chegou, a preços de hoje, a receita ultrapassou a casa de 100 bilhões de reais por trimestre. Desde então, a empresa reduziu sua receita em um quarto do valor, através de um processo de venda de diversos ativos. Além disto, a recessão na economia brasileira também ajudou no valor menor da receita da empresa.
Ao mesmo tempo, a redução nas amortizações dos investimentos realizados nas gestões passadas parecem ter terminado. Entre 2014 a 2017 a Petrobras levou para resultado 116 bilhões de reais (não corrigidos), o que representa algo em torno de 15% dos ativos. Neste período, o prejuízo acumulado da empresa, sem a correção da inflação, chegou a 70 bilhões ou 77 bilhões. Mais do que os valores, o destaque no resultado líquido foi a decisão da empresa em fazer as amortizações de maneira parcela e alguns trimestres, o que aumentou a variabilidade do resultado, conforme gráfico abaixo.
Como resultado do teste de impairment e das decisões de vendas de ativos, o ativo da empresa, que no passado chegou a marca de 1 trilhão de reais, a preços de hoje, agora é quase 200 bilhões de reais a menos. E tem-se mantido neste novo patamar há mais de dois anos.
Uma empresa menor, com menos faturamente, menos investimento e menos caixa. Antes da crise, a empresa chegou a ter quase 100 bilhões nominais (R$130 bilhões a preços de hoje) de dinheiro e aplicações de curto prazo. Este valor atingiu a menos de 30 bilhões e, pelo terceiro trimestre consecutivo, mostrou um crescimento. A quantidade de recursos em caixa é crucial para uma empresa endividada, como a Petrobras, e que precisa negociar com as instituições financeiras. Ao mesmo, permite uma maior autonomia para a sua administração.
O grande problema da empresa ainda é o grande volume de dívida. A situação hoje é bem melhor que há três anos, quando a soma dos empréstimos e financiamentos, menos o valor do caixa, atingiu a mais de 400 bilhões de reais (preços de hoje), bem perto da metade do valor dos ativos. Existem empresas mais endividadas no mercado, mas o problema destes números é que estamos falando do conceito de dívida líquida, geralmente um valor mais favorável para a empresa, pois não considera as dívidas de operação.
Esta situação fez com que a Petrobras ficasse conhecida com o nada honroso título de “empresa mais endividada do mundo”. Desde então, o caixa aumentou, o dólar manteve-se razoavelmente estável - uma parcela expressiva da dívida da empresa é em moeda estrangeira - e o peso da dívida está caindo. Assim, em termos relativos, a Petrobras hoje é claramente menos endividada que a empresa de três ou quatro anos atrás, quando ficou claro os problemas de gestão da estatal.
Apesar dos problemas, durante todo este período a estatal conseguiu obter caixa com as suas operações. Ao contrário do lucro, que tem sido uma medida de desempenho instável no tempo, o caixa operacional tem ficado um pouco acima dos 20 bilhões de reais há muitos trimestres. Assim, a recuperação do lucro, ocorrida no último trimeste, já era algo esperado, diante deste caixa das operações.
Mesmo assim, os investidores devem ter ficado surpresos com os números do primeiro trimestre. Desde sua divulgação, o preço da ação da empresa subiu. Bom para os acionistas, que poderão começar a receber dividendos da empresa.
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