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20 fevereiro 2018

Oxfam e o escândalo do Haiti

A Oxfam é um conjunto de 19 organizações independentes de caridade que atua no mundo todo, com sede na Inglaterra. Esta entidade foi fundada durante a segunda guerra mundia, por um grupo de Quakers e acadêmicos de Oxford. Naquele momento, a preocupação da ONG era em ajudar os gregos, que estavam sofrendo com a ocupação nazista e o bloqueio naval dos aliados.

Mais recentemente, a entidade tem atuado na redução da pobreza e da injustiça, com o foco na fome, o que inclui questões vinculadas ao comércio e a produção em regiões pobres, além da prática de preço justo. Também tem atuado divulgando informações sobre transparência fiscal e concentração de riqueza no mundo. Uma das formas de atuação da entidade tem sido a venda de produtos fabricados na África, Ásia e América do Sul, através de 1.200 lojas existentes.

Junto com as realizações, as críticas. A entidade tem sido criticada por ter uma estrutura interna pouco democrática e preocupada mais com os sintomas do que com as causas da pobreza internacional, com um foco nas políticas neoliberais. Além disto, a ONG tem sido acusada de ter um foco na media, divulgando informações errôneas. A briga com a Starbucks sobre o café na Etiópia e a acusação de ajudar palestinos em atividades ilegais são algumas polêmicas que a entidade se envolveu nos últimos anos. Os dados sobre a concentração de riqueza no mundo (que divulgamos aqui) também foram questionados na sua metodologia.

Em fevereiro de 2018, a Oxfam foi acusada pelo jornal The Times de problemas de má conduta relacionado com exploração sexual, pornografia e bullying. Um relatório da própria entidade, de 2011, já apontava uma cultura de impunidade no Haiti, país que tinha sido devastado por um terremoto. Os funcionários da Oxfam admitiram o uso de prostitutas com fundos da entidade e, algumas delas, provavelmente menores de idade. Depois da descoberta do assunto, a presidência da Oxfam tentou uma saída para preservar a entidade, não relatando os casos para as autoridades do Haiti e evitando que o relatório produzido pela própria Oxfam fosse discutido internamente. Mais ainda, as investigações descobriram que as mesmas pessoas também usaram os serviços de prostitutas no Tchad, em 2006. Com a divulgação dos problemas ocorridos no Haiti, a ONG começou a agir, demitindo alguns funcionários.

Ao contrário de uma empresa, que se esconde quando ocorre um escândalo (vide as empresas envolvidas nas operações de investigação que evitam colocar estes fatos na páginas e nos relatórios contábeis), o Oxfam fez um comunicado sobre o fato. Isto aparece com destaque na sua página em inglês, assim como na página da entidade no Brasil. A seguir o comunicado:

Os casos de abuso sexual envolvendo integrantes da Oxfam Grã Bretanha são revoltantes e inadmissíveis, e devem ser condenados sem contemporização. É preciso reconhecer os erros cometidos. Os casos denunciados não foram tratados com a rigidez necessária e nem foram tomadas as medidas cabíveis. É preciso não apenas pedir desculpas às vítimas de assédio e abuso sexual, mas principalmente tomar providências para que isso não volte a ocorrer.
A Oxfam Brasil acredita que momentos de crise como este exigem o máximo de transparência e ações concretas e imediatas. Está sendo feito um trabalho com as demais afiliadas para que os fatos sejam divulgados de forma irrestrita. Uma comissão independente para investigação externa está sendo formada para a identificação dos erros cometidos e a prevenção de futuros casos. Os procedimentos de recrutamento também estão passando por um processo de revisão, o qual poderá contribuir para o aperfeiçoamento do setor de ajuda humanitária internacional.
Esse contexto exige a renovação de políticas, práticas e lideranças. Não pode haver espaço na Oxfam para quem abusa da posição de poder e da confiança de milhares de pessoas, nem para quem tem a obrigação de agir e não o faz.
Mas não se deve perder o horizonte da verdadeira força motriz da Oxfam – uma organização formada por milhares de pessoas ao redor do mundo comprometidas em salvar vidas, erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades e lutar para uma vida melhor para todos.
Sobre o episódio referente a Juan Alberto Fuentes Knight, a Oxfam Brasil considera que seu indiciamento e prisão provisória na Guatemala tornou insustentável sua permanência no cargo de presidente do Conselho da Oxfam Internacional, ainda que o caso seja do período anterior ao seu mandato com a organização. Desde a noite de ontem (terça-feira, 13) ele não está mais no cargo.
A Oxfam Brasil reforça seu compromisso com a luta contra a exploração de pessoas em situação de vulnerabilidade e a defesa da justiça de gênero.
Espera-se que esse doloroso momento indique um caminho de fortalecimento de uma organização com mais de 70 anos, presente em cerca de 90 países, com mais de 10 mil funcionários e 50 mil voluntários, salvando incontáveis vidas ao longo de sua história. Atualmente a Oxfam está operando em mais de 30 situações de emergência pelo mundo, dos conflitos armados na Síria e Iêmen a desastres naturais na Índia e fome extrema no Sudão do Sul, provendo água limpa para beber, saneamento básico e apoio a famílias que perderam tudo o que tinham. Só na Síria, Jordânia e Líbano a Oxfam está atendendo cerca de 2 milhões de pessoas. É pensando nessas pessoas que a Oxfam tem a obrigação de ser maior do que seus erros.

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