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16 fevereiro 2018

Emitindo debêntures e aplicando em títulos públicos

O que você diria de uma empresa cujo principal negócio é captar recursos através de debêntures e aplicar este dinheiro em títulos públicos? Parece algo estranho, mas esta empresa existe, publica suas demonstrações e consegue captar uma grande quantidade de dinheiro dos investidores. Para se ter uma ideia, o ativo da empresa chegou a 69 bilhões de reais no final de 2017, sendo que boa parte deste valor eram títulos do governo.

Chega de suspense; a empresa é o Bradesco Leasing, que no seu balanço do final de 2017 apresentava uma captação de debêntures de R$ 64 bilhões (passivo de longo prazo) e uma carteira própria de 54 bilhões, basicamente em LTN e NTN (36 e 14 bilhões, nesta ordem). No ano passado, o valor do ativo era maior (102 bilhões) assim como os recursos de Debêntures (102 bilhões também).

A Demonstração dos Fluxos de Caixa é mais estranha ainda. De um lucro líquido de 0,3 bilhões, o caixa das atividades operacionais chega a 38 bilhões, em razão das variações do ativo de curto prazo, enquanto o caixa usado nas atividades de financiamento foi também de 38 bilhões.

Segundo a nota da empresa, a instituição tem por objetivo a prática de atividades de arrendamento mercantil. No ano passado já tinha notado este balanço esdrúxulo e mandei um e-mail para o RI, nos seguintes termos:

O balanço patrimonial mostra uma redução no item Aplicações Interfinanceiras, de 56 para 18.5 bilhões de reais. Enquanto isto os títulos e valores mobiliários aumentaram de 35 para 83,6 bilhões. São valores expressivos e não existe nenhuma observação nas notas explicativas para as variações. Mais ainda, na DFC existe uma redução de 21.8 bilhões no caixa das atividades operacionais, decorrentes principalmente do aumento em títulos e valores mobiliários. Parte desta variação foi absorvida com emissão de debêntures (11 bilhões) e parte com redução de Caixa e Equivalentes (11 bilhões)

Diante do exposto, o que justificaria estas variações?


Logo depois recebi a seguinte resposta nada esclarecedora a entidade:

As variações refletem o curso normal das operações e estão de acordo com a política adotada pela tesouraria para o gerenciamento e administração do fluxo de caixa da companhia de acordo com suas necessidades visando a melhor alocação dos recursos.


Na verdade, parece que a atividade de arrendamento é responsável por uma pequena parte dos valores que transitam pelo banco. Em 2017, as operações geraram 1,7 bilhão para uma receita total de 9,6 bilhões.

Em 2016 existe nas demonstrações a seguinte nota:
A norma é de setembro e meses antes a entidade fez uma operação de repactuação de emissão de debêntures.

Não sou acionista da entidade, nem seu cliente. Aqui o interesse é puramente acadêmico de tentar entender: (1) grandes movimentações em uma entidade; (2) como uma empresa de arrendamento tem como principal ativo Letras do Tesouro Nacional e Notas do Tesouro; e (3) como a regulação do Banco Central afetou os efeitos que ocorreram na entidade.

Nem o RI da entidade e nem o estudo das demonstrações contábeis da entidade permitiram entender isto. O mais relevante: como uma instituição tem como principal negócio emitir debêntures e aplicar o dinheiro em títulos público?

4 comentários:

  1. OS títulos longos do tesouro nacional têm dado bons retornos nos últimos 2 anos. Cheguei a ganhar mais de 50% ano passado com alguns deles. Talvez supere o custo da emissão kkk.

    Agora sobre o RI, nas empresas que eu acompanho isso é muito comum. E parece que eles ficam com raiva quando perguntamos algo... sem contar com essas respostas padronizadas.

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  2. Professor, você cogitou de algum benefício de natureza tributária nessas operações? Tem toda a cara de mutreta...

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  3. Pensei nisto. Fiquei com o sentimento que é mais uma transação entidades do mesmo grupo e neste ponto o aspecto tributário pode justificar este balanço.

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