Quatro textos diferentes, com origens diferentes, provocam uma reflexão sobre notícias e jornalismo. Comecemos por dois textos acadêmicos.
No início desta semana postamos um resumo de uma pesquisa realizada na França sobre a propagação de notícias. O advento dos meios modernos de comunicação aumentou o tempo que uma notícia é divulgada pelos meios de comunicação, através do mecanismo do “colar copiar”. A pesquisa mostrou que a rapidez na propagação é decorrente da cópia, mas que a reputação pode ajudar a resolver em parte este problema. A pesquisa é importante por discutir um aspecto bastante comum nos dias atuais, que é a reprodução de notícias. Mais do que a redução no custo de produção de notícias, tivemos uma substancial queda no custo de reprodução. Isto não ocorreu somente com o jornalismo, mas também com os livros acadêmicos - onde a cultura do PDF expandiu e fez cair a venda das obras, ou nos filmes, onde novos canais de acesso e o aumento da oferta derrubou os preços (vide Netflix ou torrents).
Ontem Danielle Nunes defendeu sua tese sobre Incerteza Política (vide aqui uma postagem do blog). A professora utilizou a base de dados do jornal O Globo de 1985 a 2015 para verificar o comportamento mensal dos fatos políticos que podem ter afetado o mercado acionário brasileiro. Os resultados mostram que o mercado sofre influencia da incerteza doméstica e daquela originária de outros países. O jornalismo, representado no estudo pelas notícias do jornal carioca, seria a expressão deste sentimento de incerteza.
As duas pesquisas citadas acima mostram a relevância das notícias sob a ótica acadêmica. Não menos importante para esta reflexão são dois textos postados na rede.
O primeiro é uma análise da relação entre notícia e dinheiro, feita no blog Stumbling And Mumbling. A discussão é o papel do dinheiro sobre a produção de notícias. Dillow pergunta se a presença de dinheiro na produção de notícias poderia afetar sua qualidade e se o jornalismo seria diferente. Ele faz uma ligação com textos acadêmicos, que teriam a mesma questão para responder: a pesquisa mudaria se não houvesse dinheiro envolvido? Não buscamos de forma obsessiva o p-valor dos resultados? Creio que o dinheiro não é o único motivador da escrita: afinal este blog existe há 11 anos. Mas prestígio intelectual, idealismo e necessidade de compartilhar nossos pensamentos também podem ser relevantes. O leitor precisa ver como ficamos (eu, Isabel e Pedro) contentes quando recebemos elogios.
O último é um texto longo do promarket sobre o jornalismo empresarial . Representa um resumo de um painel no Stigler Center, mas existe uma nas linhas uma grande decepção com este tipo de texto. E isto inclui críticas a enorme dependência de relatórios produzidos pelas empresas, ao invés de buscar uma análise mais crítica, o que torna os jornalistas dependentes das fontes e passíveis de serem enganados. O texto lembra duas pesquisas conduzidas por Dyck e Zingales, uma de 2002 e outra de 2008 - esta com a participação de Moss, onde a imprensa é analisada sob a ótica corporativa. Alguns dos painelistas focam suas críticas as empresas que controlam as notícias, que exclui ponto de vista marginal e afastam os textos investigativos.
Talvez a única certeza seja que a discussão não acabou.
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