Um artigo no Jornal Econômico fala da uberização da contabilidade. Como o texto foi publicado num jornal português, a leitura precisa levar em consideração as peculiaridades locais. O autor começa com o seguinte diagnóstico:
Paira a sensação de que a maior parte dos contabilistas está demasiado focada no cumprimento das inúmeras obrigações que tem perante o Fisco e os seus clientes, não tendo capacidade de antever o que está para chegar. E este cenário torna-se ainda mais preocupante se pensarmos que ao longo de 2017 a contabilidade das empresas irá sofrer profundas alterações devido à entrada em vigor das Taxonomias, que acarretam mudanças quer no Plano de Contas, quer na estrutura do ficheiro SAFT-(PT).
A segunda parte do parágrafo é de interesse local. Mas não acredito que a implantação de taxonomia ou mudança no plano de contas possam ser usados como argumento.
Consciente ou não dessa realidade, a transformação digital dos Escritórios de Contabilidade está a entrar pelos gabinetes adentro, não pela porta grande mas pela fibra que os conecta à Segurança Social ou ao Ministério das Finanças.
É interessante que o grande usuário da contabilidade parece ser o governo, como no nosso país.
Todos estão a ser puxados para a era digital, ainda que sem darem por isso, e talvez muitos não estejam ainda preparados para tirar o máximo proveito das ferramentas que lhes são impostas.
Isto não é uma característica exclusiva da contabilidade.
Mas afinal, o que é isto da “uberização” da contabilidade?
É muito simples traçar um paralelo entre ambas as realidades: a do transporte privado de passageiros e a prestação de serviços de contabilidade. Se imaginarmos que o “destino” pretendido pelos clientes dos contabilistas é o cumprimento atempado das obrigações fiscais, então teremos uma “viagem” normal, semelhante àquela que é proporcionada pelo serviço de táxi tradicional.
Tenho dúvidas se o gestor deseja um serviço “uber”, como afirma o texto. Em alguns casos, sim. Mas na grande maioria, o gestor é muito orgulhoso para ter alguém dando palpite. Além disto, o papel de “guiar” a gestão, numa grande empresa, talvez seja também o papel da área de marketing, produção, etc. E o profissional mais preparado para isto é o consultor, que sabe como vender seus “conselhos”. Não estou dizendo que a informação contábil não seja relevante; mas que a informação contábil, da forma como é entregue hoje, não é interessante para o gestor. Parece que o autor está tentando vender o Uber Black, quando o gestor quer o Uber X.
Porém, se oferecermos ao cliente um serviço mais ágil, que permita guiá-lo pelos pontos de maior interesse na gestão da sua empresa, que proporcione informação relevante exatamente na hora certa, contribuindo para a monitorização da performance e para o aumento da rentabilidade, aí o serviço será diferenciador.
Bom, parece que o autor reconhece que o serviço de Uber Black não é feito hoje pela contabilidade (mais adiante iremos saber que isto não ocorre somente nas pequenas empresas). E fala da necessidade de tempestividade, informação para controle e melhoria de desempenho.
Tecnologia aplicada ao serviço é o futuro
Muitos contabilistas já disponibilizam este serviço diferenciador às grandes contas, no entanto, a maioria das PME acede ainda a um serviço tradicional de táxi. A questão que se coloca é: como disponibilizar este serviço global a todas as empresas? A resposta é simples: tecnologia aplicada ao serviço – tal como fez a Uber.
O foco do texto então são as pequenas empresas. Nestas não existe o serviço de Uber e faz-se necessário a tecnologia aplicada ao serviço. Sejamos realista: é muito difícil substituir a visão do gestor/dono da pequena empresa por tempestividade, informação para controle e melhoria de desempenho. Mais difícil ainda é convencer o gestor/dono a aceitar esta informação.
É aqui que entra o papel essencial das software houses, também elas desafiadas a encontrar soluções que permitam agilizar a relação entre cliente e contabilista, deixando para trás um modelo de trabalho tradicional que limita a produtividade e o papel de consultoria de negócio que os contabilistas devem ter e, por outro lado, tira agilidade às empresas e dificulta o acesso a indicadores de gestão e informação de apoio à decisão, que podem ser tão decisivos na performance empresarial.
A grande diferença está na experiência que se tem ao longo do “percurso” e nos resultados obtidos. Cabe agora a cada um decidir como pretende fazer a “viagem”, sem esquecer que é na velocidade que hoje está a diferenciação.
Finalizando o texto com os desafios para cada profissional.
Penso que informação contábil para tomada de decisão em PMEs é uma realidade muito distante, pois nem todos os fatos administrativos chegam aos Contadores, ou chegam de maneira incompleta. Por isso, não são representados, o que gera relatórios contábeis incorretos. Sem falar na sonegação de tributos, que vejo como um fator determinante para o aumento da assimentria de informações entre o Contador e as empresas.
ResponderExcluirQuando se fala de uberização o que se quer dizer exatamente?
ResponderExcluirQual o significado do termo?
Estou sem entender a ideia.
Dá para fazer um post explicando?
O termo "uberização" é usado pelo autor para comentar sobre a utilização da tecnologia na prestação de serviço, de modo a mudar radicalmente a forma como o serviço é executado.
Excluir