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23 março 2017

Curso de Contabilidade Básica: Estrutura de Custo e o Resultado de uma empresa

No capítulo 7 do volume 1 do nosso livro de Contabilidade Básica, deixamos de lado apenas a contabilidade financeira, que é voltada aos usuários externos, e mergulhamos um pouco na contabilidade gerencial, que busca gerar informações aos usuários internor. Lá, nós discutimos como a estrutura de custo é relevante para a análise de uma empresa. Mostramos que existem duas classificações de custos e despesas: o(a) fixo(a), que não muda conforme a atividade da empresa, e o(a) variável, que se altera se o nível de atividade for maior ou menor.

Para o usuário externo, a estrutura de custo de uma empresa é um mistério, já que ele não possui acesso a tais informações. Para o usuário interno, separar os custos nestes dois grupos pode ser muito complicado. Vamos mostrar hoje como fazer uma estimativa dos custos fixos e variáveis de uma empresa com as informações divulgadas para fins externos. Antes de prosseguir, é importante ressalvar que o método que vamos mostrar a seguir é uma supersimplificação e deve ser adotado com muita cautela. Mas na ausência de mais informações, pode ser uma possível saída para conhecermos a estrutura de custos da empresa. O aspecto mais relevante é que a forma de cálculo a seguir parte da suposição de que a estrutura não se altera com o tempo, o que nem sempre ocorre.

Feita essa ressalva, vamos ao trabalho. A seguir temos um extrato das demonstrações dos resultados da empresa Kepler Weber, publicado no dia 21 de março de 2017:

Nós iremos usar os dados do consolidado da empresa e o custo dos produtos vendidos e dos serviços prestados. O método a seguir também pode ser usado para as despesas e receitas operacionais.

Em primeiro lugar, é possível notar que a empresa teve um recuo na receita, de 706 milhões de reais para 475 milhões de reais. Possivelmente, a crise afetou fortemente os negócios da empresa, que consiste em montar silos de armazenagem de grãos.

Vamos imaginar inicialmente que todos os custos seriam fixos. Isto significa que, independente da quantidade de receita, a empresa teria o mesmo custo. Se fosse assim, a linha do custos deveria ter o mesmo valor; neste caso, o valor de 2016 seria 615 milhões e não 443 milhões como está demonstrado.

Se, por outro lado, todos os custos fossem variáveis, a relação entre os custos e as receitas deveria ter um percentual constante. Em 2015, a relação entre os custos e a receita foi de 87,11% ou 615/706. Em 2016, este percentual foi de 93,05% ou 443/475. Perceba que, embora esse percentual de 2016 seja superior ao de 2015, a empresa obteve uma margem bruta em 2015 quase o dobro da calculada em 2016. A dúvida que surge é: como isso pode ter ocorrido?

Voltando à análise, juntando os dois parágrafos, podemos concluir que os custos não são totalmente fixos nem totalmente variáveis. Esta é a situação mais comum, onde uma parte dos custos assume uma parcela variável e outra uma parcela fixa. Como resolver isto? O método a seguir é uma forma simplificada de ter um valor aproximado.

Em 2015, os custos de 615 tinha uma parcela variável, que representava um percentual da receita, e uma parcela fixa. Podemos representar isto da seguinte forma:

615 = % do Custo Variável na Receita x Receita + Custo Fixo => % Custo Variável x 706 + Custo Fixo

Para 2016, os custos de 442 podem ser segregados da seguinte forma:

442 = % Custo Variável na Receita x Receita + Custo Fixo => % Custo Variável x 475 + Custo Fixo

Temos duas expressões. Iremos assumir que a estrutura de custos não se alterou no tempo. Assim, a percentagem do custo variável na receita é idêntica em 2016 e 2015, assim como o valor do custo fixo não se alterou. Lembrando a matemática que aprendemos no ensino médio, temos duas equações e duas incógnitas. A resolução será a seguinte:

615 = % Custo Variável x 706 + Custo Fixo (1)
442 = % Custo Variável x 475 + Custo Fixo (2)

Trabalhando a segunda equação (podemos resolver isto usando a primeira equação também):

Custo Fixo = 442 – % Custo Variável x 475

Substituindo na primeira equação:

615 = % Custo Variável x 706 + 442 – % Custo Variável x 475
615 – 442 = % Custo Variável x 706 – % Custo Variável x 475
173 = % Custo Variável x 231
% Custo Variável = 173 / 231 = 0,75

Custo Fixo = 442 – 0,75 x 475 = 86

Assim, o custo fixo é de 86 milhões e o custo variável representa 75% da receita. Podemos conferir o resultado com os dados de 2015 e 2016:

615 = 0,75 x 706 + 86
442 = 0,75 x 475 + 86

Agora que sabemos o valor do custo fixo e do custo variável, como percentagem da receita, podemos calcular a receita mínima para que o lucro bruto seja zero. É o conceito de ponto de equilíbrio, que vimos também no nosso livro.

Receita = 0,75 x Receita + 86
0,25 x Receita = 86
Receita = 86 / 0,25 = 344 milhões

(Faça a prova para mostrar que com uma receita de 344 milhões e a estrutura de custos a empresa não terá lucro bruto).

O modelo apresentado têm dois problemas: (1) assume que a estrutura dos custos permaneceu constante nos dois exercícios, o que pode não ocorrer de fato na prática; e (2) a variação de preços ao longo do ano. Uma forma de melhorar a qualidade dos dados é corrigir os valores de 2015 para valores médios de 2016 usando um índice de preço. Isto poderia gerar dados mais consistentes.

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