Mariano Procópio foi um engenheiro e político brasileiro, nascido em Barbacena em 1821. Depois de estudar na Europa, com 33 anos ele recebeu uma concessão para construção de uma estrada partindo de Petrópolis até Minas Gerais. Ele constituiu uma empresa que recebeu o nome pouco criativo de Companhia União e Indústria, que iniciou os trabalhos em 1856. Dois anos depois, o primeiro trecho é inaugurado e em 1861 o trecho de 144 quilômetros era percorrido pelo imperador numa diligência, fazendo a viagem de Petrópolis a Juiz de Fora.
A estrada foi muito importante para o desenvolvimento da cidade mineira e representou a primeira rodovia que utilizou a técnica de pavimentação Macadame na América Latina. Para construir a estrada, Ferreira Lage contou com empréstimo externo (decreto 1.045 de 1859) e empréstimo externo (Decreto 2505. de 1859). Da estrada sobraram várias construções, incluindo pontes, viadutos e estações. A estrada faz parte dos sistemas rodoviários estaduais e federais: RJ 134, BR 393, RJ 131, RJ 151, MG 874, BR 267 e BR 040 (ex- BR3).
O projeto de financiamento do empreendimento incluía empréstimos externos, aportes do tesouro e obras executadas por fazendeiros beneficiários da rodovia. Mas talvez este não seja o principal ponto de interesse para a história da contabilidade. Antes de prosseguir é bom lembrar que a primeira evidenciação contábil ocorrida no Brasil foi no período anterior à independência, conforme já mostramos anteriormente neste blog. As informações contábeis eram publicadas principalmente pelas entidades do terceiro setor, mostrando a destinação dos recursos originários de doações e loterias. A evidenciação de empresas não era muito comum antes e depois da independência. Em 1861 a Companhia União e Indústria faz algo diferente, ao divulgar um extenso relatório para assembleia geral dos acionistas. São 66 páginas que incluía não somente o balanço da empresa, mas também uma análise das obras da estrada que estava em construção, uma apuração do custo da légua (medida de distância, ainda hoje usada em alguns lugares do país), um detalhamento dos dois empréstimos decorrentes dos decretos citados anteriormente, uma apuração do resultado por trecho da estrada, entre outras informações. Ferreira Lage faz uma dissertação sobre a situação da empresa e das dificuldades encontradas na execução da obra.
O relatório da Companhia União e Indústria não apresenta algumas informações corriqueiras para os dias atuais, como o parecer do auditor, mutações do patrimônio ou assinatura do contador. Mas talvez seja um dos mais completos relatórios publicados no Brasil da metade do século XIX. Para os interessados, o relatório pode ser obtido na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional.
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