Uma maneira diferente de verificar o passado da contabilidade é estudar a evolução do material utilizado nesta atividade. Das penas e tinteiros, passando pelos computadores pioneiros que foram desenvolvidos para ajudar nesta atividade até chegarmos aos programas que conseguem interligar as atividades operacionais com os registros no diário da empresa, a evolução os objetos usados faz parte da história contábil.
Se existem objetos para a contabilidade é muito provável que exista pessoas que vendem estes produtos. Na nossa história, o comércio destes produtos deve ter surgido no início do século XIX, mas a presença documentada só ocorre a partir de 1840. A primeira vez que temos notícia da venda dos produtos ocorreu em Recife, Pernambuco, numa loja de “miudezas”. Neste tipo de comércio se vendia de tudo um pouco e o anúncio no Diário de Pernambuco dizia:
Bonecas de gomma para escripturação; na rua do crespo loja de miudezas De cima 5 (1)
Mas o interessante é a venda de livros para escrituração. Num longo anúncio publicado dois anos depois, nós temos:
Acha-se a venda na loja do bom barateiro de Guerra Silva & Companhia na rua Nova D 6 o seguinte: (...) livros em branco para escripturação (2)
Qual o sentido de comprar um “livro em branco para escrituração”? Existiam duas razões importantes, sendo a primeira de ordem estética. Podemos imaginar a contabilidade antiga sendo realizada em folhas soltas de papel. Isto poderia dar uma flexibilidade, mas certamente o resultado final não era muito agradável aos olhos: um grande número de folhas soltas, que poderia ser retirada da ordem e se perder.
O segundo motivo do uso de um livro específico para escrituração possui uma utilidade mais prática: o controle. Estes livros estavam em branco, mas as páginas eram numeradas. Assim, se um escriturário cometesse um erro ou quisesse trapacear nos lançamentos, não seria possível “perder” as folhas ou arrancá-las.
Outro anúncio interessante surgiu no Maranhão, em 1847:
GRANDE SURTIMENTO DE LIVROS Proprios para escripturação de casas de commercio e repartições publicas de mui excellente papel vendem Pinho & Troça. (...) (3)
Destaco dois aspectos deste anúncio: a existência de uma grande variedade de livros, mostrando que o comércio de material para escrituração era bastante ativo a ponto de oferecer opções aos interessados e o fato do anúncio ter sido publicado na província, a exemplo dos anteriores, não na capital, Rio de Janeiro. A mesma empresa, Pinho & Troça, anunciava no ano seguinte:
Pinho&Troça Receberão ultimamente da Belgica hum novo e completo surtimento de Livros para escripturação que nada deixa a deseijar nesse genero (...) (4)
(1) Diário de Pernambuco, 2 de abril de 1840, ed. 75, p. 4. Não consegui localizar a utilização destas bonecas na escrituração.
(2) Diário de Pernambuco, 22 de abril de 1842, ed. 87, ano xviii, p. 42.
(3) Publicador Maranhense, ano v, n 490, p 4.
(4) Publicador Maranhense, ano vi, n. 722, p. 4.
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