Durante meses tenho me divertido pesquisando e postando, sempre que possível semanalmente, sobre a história da contabilidade no Brasil. Neste período reconheço que muitas vezes fui surpreendido com constatações que conhecia. Em outras palavras, as postagens revisaram algumas crenças minhas e talvez dos leitores.
Decidi fazer uma lista com 12 fatos que descobri (1) sobre a história da Contabilidade:
1) Primeira tradução de Pacioli para o Português – Logo após a publicação do livro de Pacioli, que marca o início da contabilidade moderna, a obra foi traduzida para diversas línguas. Sendo um livro de matemática, Pacioli usou algumas páginas para descrever o método das partidas dobradas, usado pelos comerciantes de algumas cidades italianas. Logo após o descobrimento, parte da obra de Pacioli foi traduzida para língua portuguesa. Como era comum naquela época, não estava explicito que Pacioli era o autor. Mas não se sabe a razão, o capítulo referente às partidas dobradas não foi traduzido. Em Portugal, e por consequência nas suas colônias, os principais livros publicados eram religiosos ou patrióticos. Somente com a criação da Aula de Comércio no século XVIII é que ocorreu a primeira publicação sobre o método das partidas dobradas para língua portuguesa.
2) Os holandeses participaram da história da contabilidade no Brasil – Ao mesmo tempo que Portugal ignorava a contabilidade e seu método de escrituração, os holandeses adotaram com entusiasmo. Foram os primeiros a aplicar a contabilidade no setor público e, mais importante para nós, expandiram seu uso nas colônias e territórios ocupados. Provavelmente durante a ocupação holandesa no Brasil tivemos a primeira aplicação da contabilidade no nosso país, graças aos holandeses. A expulsão deste povo fez com que a expansão da contabilidade ficasse restrita a um período do nosso passado.
3) Partidas dobradas só foi adotada na contabilidade pública no início do século XX – Quando a família real chegou ao Brasil foi publicada uma norma determinando que a contabilidade pública adotasse as partidas dobradas. Entre a norma e o fato, tudo leva a crer que somente em algumas entidades públicas, por um pequeno lapso de tempo, a norma foi aplicada. Na década de 30 do século XIX uma nova legislação, agora sobre concurso público, determinava que entre os conhecimentos para ser funcionário público estava à contabilidade moderna. No século XIX, na área pública, provavelmente adotava-se as partidas simples. Somente cem anos depois da chegada de Dom João é que efetivamente o método veneziano foi adotado na área pública. O pioneirismo foi do Paraná, que também fracassou, e de São Paulo. No final dos anos vinte do século XX o método consolidou na área pública.
4) Primeira evidenciação no Brasil – Considerando que a primeira evidenciação seria a publicação da informação contábil num meio de comunicação, tudo leva a crer que a primeira evidenciação ocorreu logo após a chegada da família real. O mérito cabe a Livraria Pública em 1812 e o Theatro São João, logo a seguir, ambas em Salvador. O mérito cabe a Manoel José de Mello. Logo a seguir, o Hospital da Misericórdia, no Rio de Janeiro. O interessante é que as evidenciações ocorreram no terceiro setor. É bom lembrar que a economia brasileira estava vinculada ao comércio de exportação, com poucas empresas conhecidas. Assim, a contabilidade era prioritariamente para o empreendedor. Já as entidades do terceiro setor arrecadavam recurso de doação ou da loteria; a evidenciação era uma prestação de contas para os doadores, mas também uma forma de chamar a atenção para o trabalho que estava sendo realizado pela entidade.
5) Burnier – A história muitas vezes é feita por heróis anônimos. Alguns dos personagens ficaram esquecidos no tempo, como é o caso de Burnier. Este francês chegou jovem ao Brasil e aqui trabalho como jornalista e escritor. Foi um dos primeiros autores nacionais (talvez o primeiro) a escrever sobre contabilidade. Antes da publicação de uma postagem sobre o assunto, não tinha encontrado nenhuma referência sobre ele. Morrendo cedo, deixou uma grande contribuição. O interessante é que Burnier não defendia as partidas dobradas.
6) Ensino de contabilidade no passado – o ensino de contabilidade chegou no Brasil com a instalação das Aulas de Comércio, no Rio de Janeiro, Salvador e São Luís. Isto ocorreu logo após a chegada da família real. As Aulas de Comércio continuaram a existir com a independência. Além disto, é importante a participação dos estrangeiros, que davam aulas particulares. Mas o que realmente diferencia o ensino do século XIX do atual é que a escrituração era ensinada juntamente com os primeiros conhecimentos de álgebra e língua portuguesa. Acreditava-se que a contabilidade fosse uma aplicação prática da matemática, o que de certa forma é verdadeiro; mas, além disto, como o tempo de estudos era reduzido, o ensinamento da escrituração poderia garantir uma renda para o aluno no futuro.
7) Primeiro periódico e primeira associação – É difícil dizer qual foi o primeiro periódico. Em Santos tivemos a Revista Commercial, nos idos de 1840. Mas talvez a prioridade recaia sobre uma publicação realizada trinta anos depois; infelizmente, não se conhece exemplares da mesma. Quanto à primeira entidade, o mérito é de uma associação de guarda livros, também na mesma época. Tivemos aqui certo pioneirismo, já que esta associação foi criada logo após a associação dos profissionais da Escócia, a primeira do gênero criada no mundo. É importante notar que este profissional era um dos que tinham direito a voto no país.
8) Primeiro curso técnico – Existem controvérsias, já que tínhamos desde do início do século XIX a Aula de Comércio. Mas considero que o primeiro curso técnico foi criado em Juiz de Fora, Minas Gerais, sob o patrocínio de um mecenas rico. Logo a seguir, cursos foram instalados em diversas cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, entre outras. Mas a Academia de Commercio realmente foi pioneira.
9) Os anos vinte do século XX – Os anos vinte do século XX foram fundamentais para o desenvolvimento da contabilidade brasileira. Tivemos o primeiro congresso nacional da área, dos primeiros grandes pensadores da área e o embrião de uma entidade de classe, que somente surgiria, atrelada ao governo, nos anos quarenta. Mas o fato surpreendente foi a criação do primeiro curso superior em contabilidade. Com três anos de duração, a experiência foi curta, mas mostra o desejo por uma formação mais sólida. Com participação de Francisco D´Auria.
10) O ano de 1972 – Este ano marca a consolidação da auditoria no Brasil com papel de destaque para o CFC e o Ibracon, a criação de normas que antecedem a Lei 6404, através da atuação do Banco Central do Brasil, e o estabelecimento da forma de atuação profissional por parte do Conselho Federal de Contabilidade.
(1) Observo que não estou dizendo que as postagens apresentaram estas descobertas. Não estou sendo tão pretencioso assim e nem faço questão de ressalvar o papel das postagens. Além disto, tenho a forte impressão que nos próximos meses esta lista será diferente.
Professor um assunto interessante sobre a contabilidade são os contadores das "máfias". andei lendo sobre o assunto e descobri que o contador do Al Capone era Jake Guzik a unica pessoa que ele confiava plenamente. Quando ele foi prezo começou a ruir o imperio de Al Capone. É interessante a história de Jake, era descendentes de judeus, era tão bom que saiu da prisão com emprego garantido. O interessante é que quem conseguiu pegar Al Capone foi um contador Frank Wilson. Alguns falam que foi a partir desse caso que começou a auditoria forence. No Brasil, não sei se posso citar, mais tem vários contadores que trabalham para máfia, um deles foi capa de jornal na operação Monte Carlo da Polícia Federal.
ResponderExcluirTenesmo, sempre que possível destacamos no blog a chamada "contabilidade do tráfico" que é realmente curioso. Estamos trabalhando com alguns livros para publicarmos postagens que envolvem o Al Capone. Aguarde. E agradecemos o comentário é interesse!
ExcluirA contabilidade é incrível, parabéns pelo trabalho.
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