Este texto nasceu de uma reportagem publicada no jornal Estado de S Paulo com o título “Receita de universidade privada cresce; peso do gasto com professor diminui”. O título é um bom resumo do conteúdo do texto. Um dos parágrafos afirma:
A Kroton, por exemplo, gastou no ano passado 29% da sua receita com professores – em 2010 esse percentual era de 52%
Com base nesta afirmação, nós decidimos verificar a veracidade dos dados. E fomos atrás das demonstrações contábeis da Kroton disponíveis na internet. No início da frase temos que a empresa “gastou”. Isto significa dizer que esta informação estaria disponível na Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), local onde se encontra as entradas e desembolsos da empresa. Entretanto, a DFC da empresa é pelo método indireto. Logo, não é possível obter esta informação. Mas como a imprensa muitas vezes confunde “gasto” com “despesa”, nós vamos observar a Demonstração do Resultado com mais detalhe. Um extrato encontra-se a seguir:
Observe que a informação não detalha o “gasto com professor”, apesar de ter informação sobre despesas gerais de administrativas e custos dos serviços prestados. A nota 32 faz um detalhamento da estrutura de custos e despesas da empresa:
O montante de salários e encargos sociais é de R$1,4 bilhão. Como a receita da empresa foi de 3,8 bilhões, isto representa 37%, um valor bem superior ao informado na reportagem. Mas aqui tem um aspecto importante: estão contemplados nos “salários e encargos sociais” todos os valores, incluindo o de professor. De qualquer forma, esta parcela representa 52% da estrutura dos custos da empresa.
Fomos buscar mais informação mais informação na Demonstração do Valor Adicionado. Esta demonstração apresenta a distribuição da riqueza gerada na empresa, incluindo os salários pagos. Eis um resumo da DVA da empresa:
Ou seja, a empresa “distribuiu” 1,047 bilhão da receita gerada em remuneração direta ao pessoal ou 27%. Novamente, este valor está superestimado já que contempla todas as remunerações de todas as pessoas que trabalham na empresa.
Assim, temos quatro formas de calcular o “gasto com professor” da empresa. Primeira, pela DFC, se a mesma fosse apresentada pelo método direto, o que não é verdadeiro. Segundo, pelas despesas e custos da DRE. Só conseguimos obter esta informação através da nota explicativa da empresa e chegamos a um valor de 37%, percentual este superestimado já que inclui todas as pessoas que trabalham na empresa. Terceiro, pela DVA, com o mesmo problema do método anterior, onde chegamos a 27%.
Como o texto do jornal afirma que o peso do gasto diminuiu, vamos calcular os valores acima para o exercício de 2010:
Método 1 = A DFC é pelo método indireto, que inviabiliza o cálculo
Método 2 = Não é possível calcular, já que a empresa não fez esta evidenciação em 2010. Mas usando os dados de 2011 temos que o valor é de R$328 milhões para uma receita de 711 ou 46%
Método 3 = Usando a DVA temos R$328 milhões por 586 milhões ou 56%.
Conclusão: Não podemos afirmar categoricamente que o “gasto com professor” diminuiu já que os dados não estão segregados desta forma. Mas tudo leva a crer que o texto tem razão já que os valores que mais se aproximam dos calculados pelo texto mostram uma redução nas despesas.
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