Um longo artigo do The Guardian foi traduzido e publicado no Estadão. Trata da política russa. Muito interessante o texto. Destaco os três parágrafos seguintes:
Um conceito tático que serve de orientação na guerra da informação russa é o "controle reflexo". Segundo Timothy L. Thomas, analista do Departamento de Estudos Militares Exteriores do Exército dos EUA e especialista em história e teoria militar russa recente, o controle reflexo implica "transmitir a um adversário informações especialmente elaboradas a fim de levá-lo a tomar voluntariamente decisões predeterminadas por quem iniciou a ação". Em outras palavras, conhecer os padrões de comportamento de seu adversário tão profundamente a ponto de induzi-lo a fazer o que se quer.
Um exemplo notório disso durante a Guerra Fria eram as paradas militares anuais na Praça Vermelha, quando a URSS exibia ao mundo suas armas nucleares e seus mísseis balísticos. Os soviéticos sabiam que esse era um dos raros momentos em que os analistas ocidentais tinham a possibilidade de ver seu arsenal e faziam desfilar falsas armas nucleares com ogivas excepcionalmente grandes destinadas a difundir o pânico no Ocidente diante do poderio e da inovação do armamento soviético. "O objetivo", escreve Thomas, "era levar os cientistas estrangeiros, que queriam copiar a tecnologia avançada, a um beco sem saída, com desperdício de tempo e de dinheiro preciosos". Na era soviética, o "controle reflexo" tornou-se tema de amplos estudos acadêmicos, cujo pioneiro foi VA Lefebvre, um psicólogo matemático que, segundo Thomas, "descreveu o controle reflexo no contexto e na lógica de um jogo reflexo". No início dos anos 2000, o Instituto Russo de Psicologia publicou uma revista semestral dedicada a esse tópico, com artigos sobre a álgebra da consciência e os "jogos reflexos entre pessoas e robôs".
Aplicado ao panorama da guerra da informação, "controle reflexo" significa que os estonianos ficam adivinhando as intenções do Kremlin, paralisados pela incapacidade de formular uma resposta a provocações cujas origens e objetivos é impossível determinar - na realidade, cujos objetivos talvez se reduzam a induzir uma reação excessiva. "Quando os políticos russos fazem ameaças alertando para a capacidade do seu país de conquistar a Estônia, quer dizer que a ocuparão de verdade?", questionou Iivi Masso, assessora de segurança de Ilves quando ela visitou conosco a residência do presidente. "Será que eles procuram apenas nos desencorajar? Ou querem que os jornalistas ocidentais os citem, indicando aos mercados que não somos um país seguro, arruinando o clima para os investimentos?"
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