A discussão sobre a honestidade nos últimos anos tem saído do campo
da ética e com a utilização de base de dados com técnicas estatísticas
algumas pesquisas criativas estão esclarecendo muito sobre este assunto.
Duggan e Levitt em 2002 publicaram um artigo no principal periódico de
economia do mundo onde mostraram que mesmo numa cultura considerada
moralmente superior existe corrupção. Usando dados da luta de sumô estes
pesquisadores mostraram que diversas lutas apresentaram resultados
combinados. Este artigo foi extensamente discutido na série
Freakonomics. O importante desta pesquisa foi mostrar que o problema com
a falta de honestidade ocorre em todo o mundo, não somente nos países
pobres. Assim, não acredite quando alguém diz que um comportamento
desonesto não ocorre no Japão ou na Suécia.
Mais
recentemente o assunto rendeu um tipo diferente de pesquisa, conduzida
por Dan Ariely. Ariely mostrou que a honestidade e a sua falta dependem
de uma série de circunstâncias, algumas delas que não podem ser
explicadas por um modelo econômico de racionalidade. As pessoas são mais
desonestas conforme a inexistência de “trancas” nas portas onde o
delito ocorre. Numa experiência agora famosa, Ariely aplicou um teste
para diversos alunos; para um grupo permitiu que cada individuo
corrigisse sua prova, informasse a nota, recebesse um prêmio
proporcional a nota, sem nenhum tipo de verificação, já que a prova era
picotada antes da entrega da nota. A nota deste grupo era superior aos
demais, indicando que existia desonestidade no comportamento. O
interessante é que era uma “pequena” desonestidade.
Uma
pesquisa recente seguiu a trilha de Duggan e Levitt usando agora dados
do tênis. A grande vantagem desta pesquisa é que o tênis é um esporte
praticado separadamente por homens e mulheres. Assim, o resultado dos
dois grupos pode ser comparado para verificar quem é mais desonesto.
Jetter
e Walker analisaram o circuito profissional de tênis em mais de 300 mil
partidas. Os jogadores de tênis são classificados conforme o número de
pontos conquistados no último ano. Os melhores, como Nadal, Williams ou
Federer, conquistam muitos pontos pois participam e possuem bom
resultados nos principais torneios. Existem quatro grandes torneios que
além de distribuírem uma grande quantidade de pontos para quem participa
e tem bom desempenho também remunera muito bem os jogadores. Um jogador
de tênis pode ganhar mais de 30% do dinheiro anual num destes quatro
torneios, denominados de Grande Slam.
Assim, jogar um
Grande Slam é muito importante para um tenista profissional, seja por
ganhar pontos e melhorar sua classificação no ranking dos melhores
jogadores, seja pela parte financeira, já que ganham muito dinheiro. Em
geral para jogar um destes torneios é necessário estar entre os 104
melhores torneios. Assim, antes de começar um Grande Slam os
organizadores olham a classificação dos tenistas e chamam estes
jogadores. Mas antes de cada um destes torneios ocorre um conjunto de
torneios menores. E esta é uma excelente oportunidade para os jogadores
que estão próximo da 104ª. posição de ganhar pontos e melhorar seu
ranking. Como a distância entre o centésimo colocado e o centésimo
vigésimo é pequena, um desempenho razoável nestes torneios pode ser
suficiente para colocar o jogador num Grande Slam.
Jetter
e Walker olharam o que ocorre nestas partidas antes dos torneios mais
relevantes. Quando Belucci joga contra Nadal pelos pontos de cada
jogador é possível estimar as chances de cada jogador. Mas a pesquisa
mostrou que os torneios anteriores aos Grandes Slams isto não ocorre. Ou
seja, existe um comportamento inadequado no tênis profissional. Mas
isto só ocorre no tênis masculino. No tênis feminino, por alguma razão,
não existe uma combinação para favorecer a jogadora que está buscando
obter pontos para participar de um grande torneio.
Os
autores também observaram que os sites de aposta, que corresponderia a
opinião do mercado, não consegue antecipar a esta situação.
O
trabalho faz a constatação que o gênero é uma variável importante na
questão da honestidade. Mas não consegue explicar a razão. Afinal, as
mulheres são mais honestas que os homens em qualquer situação? Haveriam
outras variáveis que influenciam esta questão?
JETTER, Michael; WALKER, Jay. Good Girl, Bad Boy: Corrupt Behavior in Profissional Tennis. IZA DP 8824, jan. 2015.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário