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30 janeiro 2015

Oitenta e oito

Muita coisa foi escrita sobre as demonstrações contábeis não auditadas da Petrobras. Um dos principais pontos foi sobre os 88 bilhões, que muitos enxergaram como o valor da corrupção da empresa. Este valor representa a diferença entre o valor justo e o valor contábil de grandes empreendimentos da empresa. Rapidamente significou o valor da corrupção. Isto não é verdade por dois motivos. O primeiro, é que o “método de cálculo” não abrangeu todo ativo imobilizado, o que poderia fazer este montante ser maior do que o citado. O segundo é dificilmente teremos condições de saber o valor preciso da corrupção, já que a empresa não terá acesso a toda informação de todos os corruptos. Na melhor da hipótese será um valor estimado.

Mas mesmo sendo uma estimativa, ainda que tosca de um processo que passou por cima de uma longa história desta empresa, os oitenta e oito foram buscados no meio de um monte de números. E passou a representar a corrupção que derrubou a Petrobras.

Numa empresa privada, num mercado desenvolvido, muito provavelmente aconteceria o seguinte. Em primeiro lugar, haveria uma substituição de todos os executivos do primeiro escalão e a contratação de executivos externos. A nova administração deveria ter credibilidade, com liberdade para fazer um enxugamento e uma mudança na cultura da empresa. Além dos executivos, a faxina também incluiria as pessoas nos postos relevantes, como os assessores e secretarias das diretorias envolvidas. Logo a seguir, seriam chamadas pessoas para investigar os problemas e apresentar solução. Isto incluiria especialistas em fraudes. As empresas fornecedoras que estivessem envolvidas nos problemas seriam processadas e impedidas de fazer qualquer negócio com a empresa. Em termos contábeis, o máximo possível seria amortizado. Isto aumentaria a alavancagem e o custo do empréstimo. Mas limparia o balanço e permitiria que nos próximos exercícios a empresa pudesse recuperar. A empresa de auditoria seria substituída imediatamente, já que existiram dúvidas sobre a qualidade do seu trabalho. Em lugar de esconder por trás de notícias sem relevância ou usando linguagem obscura, a empresa seria extremamente honesta sobre os problemas, constituindo comissão de investigação com especialista (não necessariamente de renome) que apresentaria resultados rapidamente.

Comparando com as medidas que foram tomadas até agora na empresa é possível perceber quão distante estamos do ideal. A decisão de contratar advogados, em lugar de detetives, de colocar ex-juiz do supremo em vez de especialista em fraude, de manter a atual gestão, incluindo o conselho de administração e de auditoria, com pouca visão da realidade administrativa e financeira da empresa e de não fazer amortização mostram que os rumos da empresa necessitam de outras medidas, que modifique substancialmente o atual cenário.

Mas a presença do número 88 nas informações divulgadas na quarta, referente ao valor que deveria ser amortizado (R$88,9 bilhões) indica que existe esperança. Este número deve ter sido fruto da área técnica contábil da empresa, que ainda resiste às imposições políticas. É um número que teve que ser “engolido” pela alta cúpula da empresa, apesar da pressão para não evidenciar. É o número da resistência.

Mostra que não existe somente a Petrobras da sra. Foster ou do sr. Barbassa.

Nesta empresa existem pessoas que querem fazer um trabalho técnico da melhor qualidade e que gostariam que os números contábeis fossem a expressão da realidade.

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