Se você for estudar finanças pessoais é provável que você
encontre uma tentativa de apresentar conhecimentos básicos de valor do dinheiro
no tempo. Inicialmente, os conhecimentos básicos dos juros simples (qual a
razão disto? Ninguém usa isto mais). Depois, juros compostos, que inclui valor
presente, valor futuro, anuidade, etc. Tudo isto pode ser acompanhado de
instruções que como usar uma calculadora antiga (HP 12) ou planilha.
Não iremos falar sobre este assunto aqui. Vamos comentar
sobre um dos pressupostos do valor do dinheiro no tempo: o custo crescente do
dinheiro ao longo do tempo. Se você decidir fazer um empréstimo de 15 anos
provavelmente irá pagar mais do que um empréstimo de 12 meses. A razão disto é
que os juros são calculados sobre os juros. Ou de uma forma mais simples: eu
cobro ou pago juros numa operação de empréstimo pelo fato de abrir mão da
liquidez do dinheiro. É por este motivo que existe a incidência de juros sobre
uma operação a prazo. E somos levados a acreditar que toda operação a prazo
possui estes juros.
Entretanto o leitor já deve ter visto uma situação onde o
vendedor divide o valor a vista em duas ou três parcelas sem juros. E não
concede nenhum desconto sobre o pagamento em dinheiro. Qual a razão disto
acontecer?
A primeira justificativa é a comodidade. Se um produto custa
três parcelas de R$400 reais é muito mais fácil determinar o preço à vista multiplicando
o valor da parcela por três, chegando a um valor de R$1.200. Determinar o valor
à vista, com uma taxa de desconto, significa cálculos mais elaborados, sujeitos
a erros.
A segunda razão é que alguns comerciantes sabem que a
divisão da compra em parcelas induz o consumidor a gastar mais. Se você entra
num supermercado somente com dinheiro da sua carteira, você irá controlar a
quantidade de supérfluo que coloca no carrinho. Já se você possui um cartão de
crédito, a possibilidade de pagar somente um terço do valor das compras na
próxima fatura induz encher o carrinho. Deste modo, incentivar o uso do cartão
pode ser interessante para o comerciante que deseja empurrar os produtos com
maior margem de lucro. Existe uma estratégia derivada desta, presente em lojas
como Renner: você divide em duas ou mais vezes, mas faz o pagamento na loja.
Quando o cliente estiver voltando para efetuar o pagamento, aumenta a chance de
uma nova compra. Esta é justificativa derivada do marketing da empresa.
A terceira razão é a informação. Se você vai pagar em
dinheiro, a empresa fica sabendo muito pouco ou quase nada sobre o cliente. Mas
ao pagar com cartão de crédito, a empresa pode associar aquele número e nome às
compras realizadas. E traçar um bom perfil do seu cliente. Na era do bigdata
este motivo tornou-se mais importante.
Finalmente a última justificativa é a concorrência. Se o meu
concorrente faz uma promoção onde a compra a prazo tem o mesmo valor da
operação à vista, seguir a estratégia da loja ao lado pode impedir que se perca
participação do mercado. E anula o movimento do concorrente.
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