A grande notícia dos últimos dias diz respeito a Petrobrás. O seu ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, afirmou que a propina na empresa correspondia a 3% dos contratos com os fornecedores. O que corresponde a este valor?
O jornal Valor Econômico cravou um valor: 3,37 bilhões de reais (Propinas podem ter chegado a R$3,4 bi, Fernando Torres, André Vieira, Juliano Basile e Maira Magro, 8 de setembro de 2014). O cálculo do jornal foi, aparentemente, usando os números da figura abaixo:
A soma destes valores corresponde a 115 bilhões e 3% do valor é 3,4 bilhões, obtido pelo jornal. O jornal parou em 2012, quando Paulo Costa deixou de ser diretor de abastecimento. Como o jornal chegou a estes números? A figura fala em investimentos e desembolsos, que são coisas distintas. Além disto, Costa parece ter afirmado que a comissão era cobrada dos fornecedores. O que significa “pagamento de fornecedores”, que é diferente de investimentos e desembolsos. Outro aspecto que torna difícil o cálculo é o fato da Petrobrás possui participação no capital de diversas empresas, algumas delas ligadas a área de abastecimento. A comissão referia-se também a estas outras empresas?
Vamos tentar chegar ao valor de 27,4 bilhões de “investimento” ou “desembolso” que o jornal apresenta na figura. Vamos tentar.
O primeiro fato de dificulta a vida do usuário é que o fluxo de caixa da empresa é indireto. Isto impede de saber quanto foi pago aos fornecedores nas atividades operacionais. Mas temos condições de saber quanto foi investido:
O valor do investimento em abastecimento foi de 26,3 bilhões em 2011 e 28,1 bilhões em 2010. São valores próximos aos apresentados pelo jornal. Mas lembrando de que isto não contempla os pagamentos aos fornecedores, nas atividades operacionais.
No relatório de Administração temos a seguinte informação sobre os investimentos:
Ou seja, a área de abastecimento investiu 27,1 bilhões, um número próximo ao apresentado na DFC.
De qualquer forma, com base nos números apresentados ao usuário externo, é impossível saber o valor efetivo dos 3% por não sabemos com precisão sobre qual valor incide a “comissão”: pagamento a fornecedores ou investimentos ou ambos; se contempla somente a controladora ou a controlada; se inclui as operações no exterior; entre outros aspectos. Além disto, como é praxe nos textos jornalísticos, existe uma grande confusão conceitual.
Apesar das demonstrações contábeis serem fontes substanciais de informação, não fornecem todas as respostas que necessitamos. Infelizmente.
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Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)
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