Seriamos inocentes se acreditássemos que uma empresa,
através de seus gestores, não tenta exercer influencia política. A defesa dos
interesses ocorre de diversas formas em parte pela grande dependência que a
economia brasileira tem do Estado. Em suma, as conexões políticas são
importantes para o próprio desempenho das empresas.
Por este motivo, não é surpreendente saber que algumas
empresas fazem doações milionárias para certos candidatos. Entre estas empresas,
a JBS foi aquela que mais fez doações nas eleições de 2014 (pelo menos por
enquanto). Nós iremos mostrar quais as razões que levaram a JBS a fazer estas
doações.
Inicialmente é importante destacar que a JBS é uma empresa
que atua no abate e processamento de carnes e produtos derivados. Ou seja, não
é uma empresa que possua no governo seu principal cliente. Mas, o mercado de
carnes é regulado pela Anvisa, que fiscaliza as condições deste abate e
processamento. Além disto, o Ministério do Trabalho também pode ter um poder
sobre a empresa, quando interfere nas condições de trabalho nas fazendas e
abatedouros.
Um segundo aspecto relevante é que a JBS é uma empresa com
uma receita de R$30 bilhões por trimestre. O fato de ser uma das maiores
empresas faz com que qualquer valor doado seja relevante em termos absolutos,
mas talvez não seja expressivo em termos relativos. Conforme publicado pelo
jornal Valor Econômico em 23 de setembro de 2014, a empresa tinha desembolsado R$113 milhões para as
eleições. Isto representava 35% do total de doações realizadas por grandes
grupos econômicos. O jornal afirma que isto corresponde a 51% dos dividendos
distribuídos, mas esta comparação não é muito justa com a empresa, já que o
valor dos dividendos pagos depende do lucro e a política de retenção (ou não)
deste lucro. De qualquer forma, os valores pagos nas eleições representam 0,4%
da receita. Mas, por outro lado, R$113 milhões é 28% do imposto de renda do
segundo trimestre do ano.
O ponto crucial é tentar entender a razão pelo volume de
doação realizado pela Friboi. Afirmamos que não é a receita, já que o governo
não é o seu principal cliente. Entretanto, uma grande parcela da receita é
originária da exportação. Neste caso, o governo pode ser “bonzinho” para a
empresa com uma política de incentivo à exportação.
Mas observando o balanço patrimonial da empresa, do final do
segundo trimestre de 2014, encontramos um ponto interessante:
De um ativo de 71 bilhões de reais, a parcela de empréstimos
e financiamentos corresponde a quase 50%. Parte deste ativo é proveniente dos
bancos estatais.
Mais uma informação. O Tribunal de Contas da União solicitou
ao BNDES, um banco do governo que financia empresas, a informar sobre os
investimentos realizados no frigorífico. Na página da empresa encontra-se a seguinte informação:
Assim, 35% do capital são provenientes do governo. Será necessária
mais explicação para o excessivo volume de doações. (Por sinal,
proporcionalmente, das doações R$113 milhões, R$40 milhões são provenientes do
próprio governo. Não seria o caso de proibir doações de empresas com
participação expressiva do governo no capital?)
Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio
Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)
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