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06 maio 2014

Acesso limitado ao e-mail


Na semana passada, recebi uma resposta automática de um homem que eu vinha tentando contatar, dizendo que ele estava " fora do escritório e com acesso limitado ao e-mail". Eu a ignorei.

No mesmo dia, Adam Parker, chefe da área de análises de ações do Morgan Stanley nos Estados Unidos, recebeu uma mensagem parecida. Ele não a ignorou. Em vez disso, encaminhou a mensagem para seus clientes, decretando que a desculpa "acesso limitado ao e-mail" é conversa fiada. Em sua opinião, praticamente não existem mais lugares no planeta onde seja impossível checar e-mails. O que essa frase realmente significa é: estou cansado, com preguiça e tenho o direito de não responder.

Parker está certo. Essa desculpa não funciona mais. Mas ele está errado ao criticá-la com tanta veemência. Às vezes, todos ficamos cansados ou com preguiça, estamos de folga ou mesmo não propensos a fazer algo que nos foi pedido. O que precisamos é de desculpas melhores. O problema é que a tecnologia está acabando com todas as velhas desculpas. "O cheque já foi enviado" não funciona mais, uma vez que ninguém mais usa cheque. "O cachorro comeu a minha lição de casa", que já era uma desculpa esfarrapada, é ainda menos convincente agora que grande parte do dever de casa é feito no computador. Assim como "o aquecedor de água explodiu e estou esperando o encanador", uma vez que você pode trabalhar em casa - desde que seu laptop também não tenha explodido.

Até mesmo as novas desculpas criadas pela tecnologia estão começando a parecer esfarrapadas. "Seu e-mail deve ter sido pego pelo filtro de spams" é uma mentira inofensiva e conveniente que eu sempre usei, mas à medida que os filtros vão ficando melhores, o valor dessa desculpa está diminuindo.

Então, quais delas ainda funcionam? Um recurso honesto é dizer que você está ocupado demais - que tem o bônus de fazer você parecer importante. "Sinto muito por não ter respondido, é que eu estava abarrotado de serviço". Eu costumava usar isso, mas estou tentando parar. Para começar, pessoas realmente importantes nunca enviam mensagens afirmando que estão abarrotadas de serviço. Além do mais, todo mundo acha que é ocupado (embora, como observei recentemente, nenhum de nós é tão ocupado como imagina).

Alegar estar muito ocupado não sugere que você é importante, mas que é ineficiente. Uma alternativa é invocar um compromisso prévio. Às vezes funciona, mas é um tiro que pode sair pela culatra. Eu já disse "acho que no dia 27 não vai dar" e ouvi a outra pessoa responder que o evento foi transferido para o dia 29. Aí, você não tem saída. Melhor é afirmar que se está no meio de uma emergência familiar - mas mentir quanto a isso, até mesmo para os não supersticiosos, soa como um convite para que algo verdadeiramente calamitoso recaia sobre a família.

A emergência familiar definitiva, claro, é a morte - atemporal, final e intocada pela tecnologia. Mas até mesmo essa desculpa está perdendo a força. Uma amiga, enlutada com a morte da mãe, descobriu depois de duas semanas que seu "cartão de liberdade" não estava sendo muito bem visto. Todos esperam um retorno rápido à normalidade.

A melhor desculpa de que tomei conhecimento recentemente vem de um executivo que cancelou uma reunião com um colega meu, alegando que "um problema legal surgiu". A genialidade dessa frase é que ela tem um tom sério e muito severo. Por mais que meu colega quisesse responder, ele não o fez: Meu Deus, que tipo de problema? Uma fraude? Falência? Um crime?

Como não posso alegar um problema legal, cada vez mais busco refúgio na verdade. Quando me perguntaram na semana passada se eu queria participar de um programa de TV que vai ao ar às 22h30, não fingi que estava ocupada, disse apenas que a essa hora já estou na cama. Quando me perguntaram se eu queria participar de uma noite de entrega de prêmios, expliquei que esses eventos não me fazem revelar o que tenho de melhor. Tal objetividade é uma vitória tripla: você não precisa se sentir mal por contar uma mentira; não há reviravoltas; e não chamam você novamente.

A mesma abordagem funciona para respostas de quem está fora do escritório. Não há necessidade de alegar acesso limitado ao e-mail. Ou você é o tipo de pessoa valorizada pelo Morgan Stanley e que trabalha nos feriados - caso em que você não precisa de um e-mail dizendo que você não está no escritório -, ou você vê os feriados como feriados. Aí, a melhor solução é dizer "estou fora até o dia X. Lerei sua mensagem quando voltar", esquivando-se assim de precisar responder.


Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira via Valor.





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