A discussão recente sobre as péssimas decisões de investimento da Petrobras mostram a estreita ligação entre a política e os negócios. Mas isto não ocorre somente nas empresas do Estado. Este vínculo ficou claro na ascensão e queda do empresário Eike Batista, que se aproveitou dos financiamentos do governo para expandir seus empreendimentos. Talvez não seja exagero em afirmar: “olhe com atenção uma empresa de sucesso no Brasil e você irá enxergar a política (e os políticos) ajudando seu desempenho”.
No Brasil estamos acostumados a ver nitidamente a relação da política (e dos políticos) com o crescimento de empresas. Mas isto não é privilegio nosso. Em 2001, Ray Fisman estudou a conexão existente entre as empresas da Indonésia e o governo local. De 1967 a 1998 mandou no país o presidente Suharto. Durante três décadas, Suharto comandou o país de maneira centralizadora e ditatorial, reprimindo os dissidentes e separatistas. Sob seu comando, a Indonésia apresentou um elevado nível de crescimento. Suharto também enriqueceu pessoalmente, “tendo criado um pequeno círculo de privilegiados” através de monopólios estatais e subsídios.
Fisman observou que quando a vida de Suharto estava em perigo, o valor das empresas próximas dele e de sua família apresentava queda no valor das ações. A razão é simples: provavelmente estas empresas perderiam o acesso ao poder e suas vantagens. Isto recebe a denominação de “crony capitalism” ou capitalismo de compadrio. Este tipo de capitalismo apresenta uma estreita relação entre os negócios e os políticos de um país.
Tudo leva a crer que o capitalismo de compadrio é mais forte nos países mais corruptos e onde a participação do estado na economia é mais efetiva. Mas o capitalismo de compadrio também existe em países desenvolvidos. Uma pesquisa conduzida por pesquisadores estadunidenses mostrou que isto também ocorre nos países desenvolvidos. Para isto, eles usaram a nomeação de Timothy Geithner como secretário do tesouro do governo de Obama. Geithner possuía uma série de conexões com grandes empresas, como o Citigroup. O resultado foi que a ações destas empresas responderam de maneira positiva à nomeação de Geithner. Ou seja, o estudo indicou que as conexões com o poder foram consideradas pelos investidores como um ponto positivo para estas empresas. Exatamente como se espera no capitalismo de compadrio. Exatamente como num “país subdesenvolvido”.
Para ler mais:
Acemoglu, D, S Johnson, A Kermani, J Kwak, and T Mitton, (2013), “The value of political connections in turbulent times: evidence from the US”, National Bureau of Economic Research working paper 19701, December.
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