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07 abril 2014

História da Contabilidade: o final dos anos 70

Já postamos aqui no blog sobre a década de 70. No seu início, as normas do Banco Central e as resoluções do CFC mudaram a face da auditoria brasileira. Além disto, precederam as mudanças contábeis da lei 6.404, já em1976.

Nesta postagem iremos comentar sobre os anos finais da década de setenta. A rigor não ocorreu nenhum grande evento neste curto período de tempo. Mas a pesquisa em documentos daquele período é possível perceber a consolidação de algumas empresas especializadas em treinamento contábil, entre as quais o IOB, IOPEC, Mapa Fiscal entre outras (1). Estas entidades promovem uma serie de cursos de aperfeiçoamento, com assuntos como contabilidade custos, correção monetária e análise de balanços. Nestes cursos, a presença de nomes ainda hoje conhecidos: Eliseu Martins, Sérgio de Iudicidus, Edson Riccio e Dante Matarazzo. Além disto, surge a Fipecafi, uma fundação de apoio do departamento de contabilidade da USP.

Mas a pesquisa revela algumas surpresas interessantes, que listarei a seguir.

Primeiros balanços com a correção monetária

A Lei 6.404 trouxe o mecanismo da correção monetária, bastante inovador (2). Entretanto este sistema de correção será incompreendido durante anos. No primeiro semestre de 1979 apresentaram uma redução no lucro. Veja o que disse uma reportagem do jornal Estado de S Paulo daquele período:

A redução das margens de lucro é porém mais aparente que real, segundo analistas do mercado de capitais. Em grande parte a contabilidade caiu em consequência dos critérios contábeis introduzidos pela lei das Sociedades Anônimas e que praticamente criou um novo conceito de lucro, ao permitir a correção monetária do balanço (3).

Poderíamos contrapor as grandes bobagens das afirmações acima. Mas basicamente é possível afirmar que o lucro é realmente existente e considera as perdas e ganhos monetários com a inflação daquele momento.

Profissão Contábil
A atuação do CFC no início da década, com aprovação de normas de auditoria, permitiu um fortalecimento desta entidade. Mas no final da década, alguns percalços. Uma proposta de Lelio Lauretti teve destaque e por pouco não interferiu nas atribuições do contabilista, em prol dos economistas (4). Lauretti defendia que as informações contábeis deveriam estar acompanhadas do certificado de auditoria contábil e de um parecer de análise econômico-financeira, assinado por um economista sem vinculo com a empresa, mas registrado no conselho.

Ao mesmo tempo, o Conselho Federal de Educação rechaça a proposta de unificar os currículos dos cursos de Economia, Administração e Contabilidade (5). Segundo este conselho, os cursos devem ser paralelos. O Conselho Federal de Educação respondeu a uma preocupação do Conselho de Economia sobre uma pretendida unificação dos currículos.

Computador na Contabilidade
O computador ter sido introduzido na contabilidade brasileira no início do século, através da importação das máquinas Hollerith (6), que ajudavam na folha de pagamento, por exemplo. Mas no final da década de 79 surgem os primeiros computadores pessoais, que ainda não seriam usados na nossa área. Mas já existia uma popularização das máquinas; alguns escritórios de contabilidade, mais avançados, já faziam a contabilidade por contador.

Junto com isto, começa a existir uma preocupação com a auditoria neste tipo de ambiente. Nesta época surgem os primeiros encontros de profissionais que debatem estes assuntos. Em junho de 1979 ocorreu uma conferência do Instituto of Internal Audits nos Estados Unidos, que contou com a participação do professor Loureiro Gil (7).

Um aspecto interessante que encontrei nas minhas pesquisas:

Foi em 1950 que ocorreu a primeira incursão dessa empresa [IBM] na utilização do computador na indústria privada, com o lançamento de uma série de máquinas de contabilidade chamada CPC. (8)

Contabilidade e Futebol
Finalmente, para distração do leitor, dois casos curiosos envolvendo futebol. O primeiro diz respeito ao jogador Clodoaldo, que atuava no Santos e foi titular da seleção de 70. Comentando sobre o jogador, que estava prestes de sair do Santos, o presidente do clube, Rubens Quintas, fez o seguinte comentário:

Não posso rescindir o contrato, ao mesmo tempo, dar passe livre ao Clodoaldo. Afinal, consta na contabilidade do clube que o “passe” de Clodoaldo custou 1,3 milhão de cruzeiros [moeda da época], quando todos sabem que ele veio de graça para o Santos. Quer dizer, quando o clube sofria prejuízos, os ex-dirigentes lançavam em cima do Clodô (9)

Entendeu? Confesso que também não entendi nada.

Outro aspecto curioso. Ao comentar sobre a Copa do Mundo de 1978, mais especificamente do grupo 1, que tinha Argentina, França, Hungria e Itália, um texto jornalístico procurou fez uma reportagem sobre um jovem artilheiro que tinha sido comprado recentemente por cinco milhões de dólares pela Juventus. Filho de uma família de classe média de Arezzo, o jogador planejava terminar, nos próximos meses, aos 20 anos de idade, o curso de contabilidade. Afirmava ele:

Afinal, sou jovem e preciso cuidar do meu futuro (10)

Nome do artilheiro: o carrasco Paolo Rossi (11), que brilharia na copa de 1982, no estádio de Sariá (12).

Referências
(1) Estas empresas também criavam material didático para o profissional. O Mapa Fiscal chegou a venda a Enciclopedia Contábil Mapa Fiscal. Anunciada como uma ideia inédita que estaria revolucionando o mundo da contabilidade, continha três mil fichas, “com todos os lançamentos contábeis existentes”. Vide, por exemplo, propaganda O Estado de S Paulo, 28 de setembro de 1978, ed. 31.760, p. 39.
(2) Vide sobre ele em NIYAMA, Jorge Katsumi; SILVA, César A. Tibúrcio. Teoria da Contabilidade, São Paulo: Atlas, 2013.
(3) Correção reduz lucro aparente de banco em 79. O Estado de S Paulo, 29 de agosto de 1979, ed. 32042, p. 21.
(4) LAURETTI, Lelio. A defesa do parecer de análise econômica. O Estado de S Paulo, 10 de julho de 1979, ed 32076, p. 66.
(5) Alterado critério para o diploma. O Estado de S. Paulo, 29 de agosto de 1979, ed 32042, p. 10.
(6) Comentamos sobre isto na postagem em homenagem a Valetim. Vide aqui
(7) EUA: congresso sobre auditorias em computador. O Estado de S Paulo, 1 de abril de 1979, ed 31916, p. 55.
(8) FREGNI, Edson. Computação eletrônica. O Estado de S Paulo, 25 de novembro de 1979, ed 32117, p. 231. Grifo nosso, destacando a coincidência (será?) entre o nome da máquina e a entidade contábil.
(9) Clodô rescinde o seu contrato. O Estado de S Paulo, ed. 32066, 26 de setembro de 1979, p. 22.
(10) Um artilheiro que condena a própria fama. O Estado de S Paulo, ed. 31.660, 2 de junho de 1978, p. 20.
(11) Vide aqui.

(12) Vide aqui

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