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26 fevereiro 2014

Relatório de Administração

Um texto sobre relatório da administração (denominado de comentário). Não faz muito sentido a defesa da regulação na área. A grande (e principal) vantagem é a liberdade. E querem acabar com isto.

A crescente complexidade dos resultados das empresas já ensejou muitos debates. No momento, há a percepção de que um de seus efeitos será o de criar uma dependência maior de outras formas de prestar informação útil aos investidores. De fato, o Conselho de Padrões Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês) publicou recentemente [2005] um artigo sobre o que ele rotula de “comentário da administração”.

O artigo reúne todo o trabalho que tem sido desenvolvido nessa área e funciona como uma etapa anterior no processo de criação de um padrão nesse tema pelo IASB.

Não será fácil. Nos EUA, os comentários da administração existiram por anos na forma de discussão e análise da diretoria (M & A, na sigla em inglês). No Reino Unido, as empresas só agora estão se preparando para oferecer uma análise financeira e operacional, que passará a ser obrigatória para períodos de prestação de contas iniciados em ou depois de 1º de abril deste ano. (O documento equivalente aos comentários da administração, na legislação societária brasileira, é o relatório da administração.)


As complexidades de se oferecer coesão global nesse processo são várias. Nos EUA, o tema é regido pelo principal órgão regulador do mercado de capitais, a Securities and Exchange Commission (SEC). No Reino Unido, o Conselho de Normas Contábeis (ASB, na sigla em inglês), que integra o Conselho de Informações Financeiras, provê as normas, amparadas na legislação.

No longo prazo, será necessário definir se os comentários da administração são de responsabilidade dos órgãos reguladores do mercado de valores mobiliários ou dos organismos de padrões contábeis. “É uma tendência global”, disse David Loweth, membro da equipe do projeto que elaborou o artigo do IASB, e secretário da ASB do Reino Unido. “Existe uma necessidade de se criar algum tipo de estrutura global para a narrativa e os relatórios da administração”.

Muitas outras questões também precisam ser resolvidas. “Esse é o primeiro passo”, afirmou Loweth. “As pessoas podem tecer comentários e apresentar reações - por exemplo, se [a publicação] deve ser indicada como melhor prática, ou se deve ser obrigatória, que é o que nos preferimos.”

O que não se contesta é a importância crescente dos relatórios da administração no processo de fornecimento de informação corporativa aos investidores. A experiência acumulada ao longo do ano passado na implementação de normas internacionais para os demonstrativos financeiros indicou que, pelo menos no curto prazo, os números estão se tornando mais opacos para os usuários das demonstrações contábeis.

Loweth ressalvou: “O perigo é que os relatórios financeiros se tornem mais complicados e mais difíceis de acompanhar”. As técnicas dos comentários da administração precisarão reduzir a distância. Considerando que indicadores de valores intangíveis, mais do que números fundamentais parecem estar promovendo maior entendimento, o movimento vai na direção de documentos como a análise financeira e operacional, do Reino Unido. “A análise oferece uma oportunidade de contar a história de uma forma equilibrada, que pode colocar os demonstrativos financeiros num contexto”, disse.

Ela também está em conformidade com outras tendências globais de oferecer tipos diferentes de apresentações de relatórios. A Federação Internacional de Contadores (Ifac) estabeleceu um projeto de apresentação de exposições em relatórios. A categoria dos contadores nos EUA está tentando criar um processo chamado de informações gerenciais aprimoradas. Todas essas iniciativas apontam para a apresentação de relatórios com mais temas não-financeiros. Richard Mallet, diretor de desenvolvimento técnico do Instituto de Contadores Gerenciais, disse: “É preciso encontrar uma maneira que permita à diretoria explicar o desempenho e as perspectivas da empresa”.

Até agora, especialmente com a já obrigatória análise financeira e operacional no Reino Unido, o esforço tem se concentrado em criar uma estrutura informal dentro de uma estrutura jurídica, na esperança de que isso estimule as empresas a gerar informação relevante, e não apenas em conformidade com a legislação, para os usuários dos relatórios e demonstrações contábeis. “O grande desafio está no elemento da perspectiva futura. Os parâmetros do quadro amplo já foram estabelecidos, porém dentro deles ainda existe muito espaço para uso da capacidade de discernimento e do bom senso”, afirmou Loweth.

Uma área em franco desenvolvimento é o uso de indicadores-chave de desempenho. Em seu artigo, o IASB cita uma pesquisa conduzida pela Deloitte no ano passado que demonstrou que “92% dos que responderam concordaram com a afirmação de que os indicadores financeiros, por si só, não conseguem capturar adequadamente os pontos fortes e os pontos fracos das suas empresas”.

É aqui que os indicadores-chave entram, porém precisamente quais deles devem ser divulgados depende de cada empresa. A escolha foi deixada em aberto para que cada setor de mercado possa gradualmente estabelecer o que é necessário. Loweth disse: “Isso precisava ter vindo do mercado. É muito difícil impor um senso de interesse comum nos indicadores-chave agora. As pessoas que querem comparar empresas, os usuários dos balanços, podem se reunir e tentar desenvolver o tema, para que as empresas possam considera-los numa base comparativa. Isso deverá se originar a partir da comunidade de investimentos”.

Em algumas áreas, como a de relatórios ambientais, já foi iniciado o trabalho para se obter uma padronização. “O padrão contábil dá uma descrição muito precisa de como deve ser um indicador-chave. Porém, a forma como a análise financeira e operacional foi formulada oferece um senso de discernimento aos diretores”, afirmou Simon Thomas, executivo-chefe da Trucost, instituto de pesquisas da área ambiental.

Um setor específico pode ser ajudado com sugestões de outros setores. A Trucost tem atuado com o Departamento para Assuntos Ambientais, Alimentares e Rurais do Reino Unido (Defra) para gerar exatamente esse tipo de sugestão. Como resultado, o Defra deverá emitir em breve as diretrizes para a apresentação de relatórios para indicadores-chave ambientais. “Ele determina 23 indicadores relevantes, e também mostra quais são mais importantes para setores específicos”, disse. Thomas.

As empresas tampouco precisarão gerar enormes quantidades de indicadores. A pesquisa deste ano da Deloitte sobre práticas estabelecidas revela que entre as 350 empresas mais destacadas, uma porcentagem ligeiramente superior a 70% já reporta indicadores-chave de desempenho com uma média de quatro empresas. Nem todas as empresas reportarão indicadores ambientais. “Bancos, por exemplo, não estão tão envolvidos ambientalmente como a indústria química”, explicou Thomas. Ele observou, porém, que as empresas estão concluindo que reportar informações de que são mais eficientes nas emissões de carbono que seus concorrentes está “fomentando um círculo vicioso”.

As empresas no Reino Unido já estão bem adiantadas no processo de organização de suas informação antes da publicação. Trata-se de um primeiro passo rumo a uma revolução que poderá gerar informação mais inteligível e mais relevante para os investidores. Os resultados serão avaliados atentamente. “No momento estamos num laboratório evolucionário”, disse Loweth.

Fonte: BRUCE, R. Sozinhos, números não explicam balanços. Valor Econômico, p. B2, 21 nov. 2005. (artigo Financial Times) Via Aqui

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