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09 fevereiro 2014

Entrevista: Ednilto Pereira Tavares Júnior - Parte I

Todos nós temos sonhos. Poucos têm coragem para conquistá-los. Enquanto alguns culpam o passado, o destino, ou simplesmente se acomodam, outros vão atrás e conseguem o que querem, inspirando tantas outras pessoas a serem mais perseverantes e determinadas. Nós já falamos sobre o Ednilto Pereira Tavares Júnior na postagem “Venha Competir no Programa Multi UnB, UFPB, UFRN”. Isso foi quando ele defendeu a dissertação para completar o mestrado em Ciências Contábeis. Mês que vem nosso protagonista começará as aulas para se tornar doutor em contabilidade e, após persegui-lo incessantemente, conseguimos uma entrevista para o blog. Eu sempre me emociono com as histórias dele. Esse goiano engraçado e brincalhão, quando fala sobre contabilidade, consegue emocionar os mais desatentos e inspirar os mais desnorteados. Que tal invadir um pouco a vida dele conosco!? Vamos lá!

Blog_CF: Ednilto, nos conte um pouco sobre a sua história. Como foi a sua formação em contabilidade? Em que momento você decidiu se tornar professor?
Ednilto:
Minha história com a contabilidade não é algo muito romântico ou amoroso. Não daria um filme ou uma cena de novela. Eu geralmente brinco que fui criado dentro de um escritório de contabilidade, pois meu pai era técnico. No ano em que nasci ele conquistou o título de bacharel. Então comecei desde muito cedo trabalhar no escritório, junto a meu pai. Lembro-me que eu fazia diversos serviços de “badeco”, como preencher folhas e cartões de ponto, datilografia (essa geração atual não acredita que já se fazia uma ela contabilidade antes de existirem os computadores).

Com o passar do tempo fui conhecendo o que era realmente a contabilidade e as obrigações acessórias do contador. Dizem que filho de peixe, peixinho é, então comecei a ver a contabilidade como sendo aquilo que eu deveria fazer, como se fosse continuar o legado do meu pai. Foi simplesmente por esse motivo que decidi que cursaria ciências contábeis.

Agora a parte engraçada começa: eu sabia exatamente que curso fazer, mas a maior certeza era que eu não queria ser o tradicional contador. Parece incoerente, não? Alguém decide cursar contabilidade e não quer ser contador. Sei que, especialmente os com pouco contato com as ciências contábeis, devem me achar louco ou desajustado. Ou ainda alguém com problemas psicológicos e uma necessidade incalculável de agradar o pai. Risos.

Mas vejam só... No primeiro dia de aula da graduação – lembro-me como se fosse hoje – o professor Ricardo Borges de Rezende (que futuramente se tornaria mestre pelo mesmo programa que eu) perguntou o que cada aluno desejaria ser. Como sempre, havia o grupo dos contadores, dos auditores, dos aficionado por concursos e carreiras públicas, e eu. Não, eu não estava “sem grupo”, apesar de ter parecido naquele momento. Eu entrei na quota dos sonhadores: ser professor. Naquele tempo eu não sabia ao certo porque afirmei querer ser professor. Talvez fosse algo mais forte que eu se manifestando ali. Mas então respondi, e fui o único.

Blog_CF: Foi ali que você decidiu que faria, também, o mestrado?
Ednilto: Depois daquilo, depois de entender e aceitar o meu destino, comecei a traçar minha meta de vida: terminar a graduação, cursar uma especialização e, dali, começar a lecionar. Talvez, com alguns anos de experiência, cursar o mestrado. Já pensou? Mestre Ednilto. O detalhe é: sempre achei o mestrado ser algo inatingível. Pensava assim porque sempre ouvia as pessoas dizerem que aquilo não era para mim (então o que era para mim?).

Fiz lá a minha graduação e no último ano um professor me incentivou a prestar o processo seletivo para o mestrado do Programa Multi-Institucional e Inter-Regional de Pós Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esse professor, naquela época, também prestaria o mesmo processo seletivo. Devo muito a ele, o hoje professor da Universidade Federal de Goiás e mestre Ednei Morais Pereira.

Lá fui eu atrás das informações para a turma que começaria em 2009. O teste Anpad dava pontos a mais, então o fiz. Passei na prova aplicada pelo Programa Multi e não fui eliminado. Meu desempenho na prova de inglês foi sofrível! Mas a minha história ainda não havia acabado. Fui para a fase seguinte que consistia em uma entrevista que também envolvia análise de currículo. Esse foi um momento marcante de tão duro. Foi então que percebi claramente como eu era fraco. Obviamente eu reprovei, mas ao relembrar, a minha reação natural é rir.

Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, mas, na verdade, Ele escreve certo em linhas certíssimas. Somos nós os analfabetos que não conseguem ler.

A decisão então ficou marcada na minha alma. Eu faria o mestrado. Alguém acreditou em mim e eu passei a acreditar também. A partir dali comecei a me preparar para o processo seletivo que ocorreria no ano seguinte, para a turma de 2010, a 19ª. Preparei-me durante todo aquele ano, me submeti a situações não muito comuns para sobreviver e, ao mesmo tempo, me aperfeiçoar. Fiz o meu dia parecer ter mais que 24h. Foi um ano difícil e demorado, até que o momento para o qual vinha me organizando chegou.

Lá estava eu, mais uma vez participando do processo do Programa Multi. Fui sendo aprovado, novamente até a bendita entrevista. Não foi simples. Contar histórias não é fácil, relembrar o passado e encontrar as palavras certas para exprimir os nossos sentimentos é algo complicado e provavelmente infiel. É impossível repassar nesta entrevista tudo o que senti desde o dia que decidi me tornar professor até ali, naquele momento. Pessoas na mesma situação não sentem a mesma coisa, o ser humano é complexo e as emoções são tantas que não há palavras o suficiente para expressá-las.

Ali, em 2009, fui novamente reprovado. Você pensou que esta seria uma história de superação? Mas na verdade não foi bem assim. Não a meu ver. O resultado divulgado pela coordenação me considerava reprovado. O detalhe? Descobri que eu havia ficado em décimo segundo lugar. Originalmente havia 12 vagas para aquele ano, mas eu não alcancei a nota mínima. Por pouco. Mas não a alcancei.

Blog_CF: Eu sei o fim da história, nossos leitores também. Mas faltam peças no meio para que a figura se torne visível. O que aconteceu depois dali?

Ednilto: Bom, o que aconteceu é fácil de se explicar, mas intenso de se viver. Sei que o normal seria sentar e chorar. Depois enxugar as lágrimas e partir para outra ou me preparar por mais um ano. Porém, resolvi conversar com a comissão de seleção. Moro em Goiânia, mas parti imediatamente para Brasília. Decidido. Obstinado. A conversa, que durou menos que 30 minutos, não resolveu nada. Falaram-me: entre com um recurso formal. Claro que fui embora, novamente no trajeto Brasília-Goiânia, chateado e derrotista. Todavia, ao chegar a minha casa segui o conselho e fui pesquisar para entrar com o tal recurso. No máximo eu receberia um “não”. Outro para a coleção.

Li e reli o edital, escrevi o recurso, entreguei a Deus (e à Comissão) e fiquei com o coração na mão. Não tive que procurar meu nome na lista. Ligaram-me – me ligaram! – e falaram: você foi aprovado. Quem do programa já recebeu uma ligação para informar a aprovação? Só eu. Acho que sou especial. Risos. 

Claro que algumas pessoas me criticaram por aquilo, como se não houvesse mérito. Farão isso com você. Não é fácil ir atrás dos sonhos. O fácil é desistir. Desistir depois de uma ou duas recusas. Desistir depois que o seu coração é partido. Desistir porque as pessoas acharão algo ruim e te julgarão. Mas eu fui em frente e hoje sou mestre. Cresci e aprendi muito. Conheci pessoas incríveis que acrescentaram à minha vida e sei que acrescentei às delas. Não tenho palavras para exprimir como vale a pena lutar pelos seus sonhos. Lutar de verdade! Com a sua alma, com garra. As recusas não são pessoais. Elas fazem parte do processo.

Blog_CF: Ednilto, sei que ainda há muito nessa história e deixaremos para o próximo domingo. Agradecemos imensamente o seu tempo e as suas palavras.

O Ednilto pediu desculpas pelas respostas longas, mas é totalmente desnecessário já que a história de vida dele é enriquecedora. E eu adoro iografias. *.* Nos vemos domingo que vem para saber a trajetória dele como professor e como ele chegou ao doutorado!

[... continua]

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