A partir da Portaria 184/2008, o governo brasileiro fez a
opção pela adoção das normas internacionais de contabilidade aplicadas ao setor
público, conhecida como IPSAS. Inicialmente isto gerou um conjunto de
resoluções do Conselho Federal de Contabilidade, que modificaria a
contabilidade pública. Surgiu a proposta de novas demonstrações, incluindo a esdrúxula
Demonstração do Resultado Econômico. Parecia que o governo estava assumindo um
compromisso firme com o regime de competência. As reformas “aproximaram”, mas
palavras de Sanchez e Maes (2013), a contabilidade pública da societária. É bem
verdade que algumas relíquias continuam: o lado direito permanece com a
denominação de passivo.
O processo de convergência brasileiro está sendo conduzido
de maneira bastante lenta. Seis anos depois da portaria, ainda não temos uma
perspectiva de adoção das normas internacionais, apesar de existirem prazos
para isto. Isto talvez seja decorrente da grande quantidade de informação
necessária e dos problemas do próprio sistema informatizado da administração.
Questões políticas também podem explicar este atraso. Ou talvez seja decorrente
das próprias características da contabilidade pública, conforme apresentado em
Niyama e Silva (2013)
Mas talvez a falha esteja no processo de implantação das
normas. Gama, Duque e Almeida (2014) analisaram o caso brasileiro. Existem duas
abordagens básicas na implantação de normas: de cima para baixo (top-down), onde a convergência é uma
política de estado; ou bottom-up. Em
ambos os casos, os gerentes de nível médio processam muita informação, mas
participam raramente do processo.
Gama, Duque e Almeida (2014) constataram que estamos
adotando a abordagem middle-up-down.
Este tipo de modelo pode favorecer a interação entre os atores do processo, já
que o conhecimento é gerado do meio para cima e para baixo. Mas esta escolha
não confere legitimidade as decisões do CFC e pode adotar medidas que
contrariem a lei 4320 ou que se distanciem das normas internacionais. Em outras
palavras, pode dificultar sua implantação. Uma armadilha criada pela própria
tecnocracia pública.
Referências
GAMA, Janyluce et al. Convergência Brasileira aos padrões
internacionais de contabilidade pública vis-à-vis
estratégias top-dow e bottom-up. Rev. Adm. Pública, vol 48, n. 1, p.
183-206, 2014.
NIYAMA, Jorge; SILVA, César. Teoria da Contabilidade. São Paulo: atlas, 2013
SANCHEZ, Andre; MAES, Laurie. Uma análise das principais
mudanças nas demonstrações contábeis aplicadas ao setor público. Revista Liceu, v. 3, n. 3, p. 6-32, 2013.
Professor César, muito boa a análise. O que tenho observado é que a convergência está nas mãos da equipe da Secretaria do Tesouro Nacional, equipe muito competente, porém extremamente reduzida, o que dificulta ainda mais o processo. Além disso, outro grande desafio é mudar a cultura dos atores envolvidos que está centrada fortemente no orçamento.
ResponderExcluirAbraço!
Glauber Barbosa
Me lembro que comecei a graduação já se falava na convergência. Terminei e ainda hoje estamos no processo de transição. Devo concordar, é a tecnocracia pública.
ResponderExcluirWelber Rodrigues