15 janeiro 2014
É possível ensinar ética?
Nos últimos anos tivemos uma grande pressão para o ensino de ética nos cursos universitários, incluindo pós-graduação. O ensino geralmente ou é focado no código de ética da profissão ou representa uma discussão teórica, mais próxima da filosofia do que da realidade. A primeira opção é uma perda de tempo, pois basta que o aluno leia o código de ética; o segundo caso também não ajuda muito as pessoas a serem mais éticas.
Jonathan Haidt, da Universidade de Nova Iorque, num longo texto escrito para o Washington Post (Can you teach bussinessmen to be ethical?) trava uma longa discussão sobre o assunto. Haidt também é cético e afirma que
As escolas de negócios, o maior gasoduto para os futuros líderes de bancos e grandes corporações, não sabem realmente o que fazer para tornar os líderes éticos.
A resposta dos dias de hoje é oferecer cursos de ética empresarial e responsabilidade social corporativa. Haidt afirma que
Ainda tenho que encontrar alguma evidência de que uma única aula de ética, por si só, pode melhorar o comportamento ético após o término do curso.
Isto talvez seja um indicio de que obrigar o aluno a estudar ética serve muito mais para aplacar a consciência dos gestores educacionais, não sendo uma estratégia que se deva levar a sério na prática. Em lugar de trabalhar o código de ética ou usar livros filosóficos sobre o assunto, os alunos aprenderiam mais se lessem o último livro de Dan Ariely, que trata do assunto de maneira prática e divertida.
Haidt lembra que a própria forma de condução dos cursos de MBA induz ao comportamento antiético. Especificamente, estes cursos valorizam a participação dos extrovertidos e promove a competição, não a colaboração. Mas Susan Cain mostrou, em O Poder dos Quietos que isto é injusto.
Mas mesmo se usarmos métodos mais modernos e pesquisas recentes sobre o assunto, talvez não seja a solução. O trabalho clássico de Milgram mostrou como as pessoas normais podem agir de maneira inadequada em razão da pressão social. Milgram fez um experimento onde os indivíduos eram incentivos a aplicar choques elétricos em outras pessoas e o faziam em razão da determinação de uma autoridade.
(Charge: aqui)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Por anos ministrei a disciplina Ética Profissional na UnB.
ResponderExcluirConcordo plenamente com os autores, não é em uma disciplina ou aula que as pessoas vão apreender a serem éticos, além dos fatores sociais como família, religião e grupo social a que pertence, vale a pena lembrar que o momento vivido (por exemplo uma discussão ou estar em grupo) podem levar a comportamentos diferentes do padrão ético esperado.
O que se pode fazer é ensinar sobre ética e/ou levar reflexões sobre qual comportamento ético é o esperado em determinadas situações.
De outro lado, acredito que é mais interessante que em um curso superior o assunto ética seja mencionado e explorado nos diversos aspectos das disciplinas ministradas. Por exemplo: remuneração dos empregados e alocação de custos; informação contábil interna e externa, papel dos auditores, etc.
Saudações,
Prof. Cláudio M. Santana