Apesar de difícil, a decisão da Multitek Engenharia de romper seus 11 contratos com a Petrobrás e demitir 1,7 mil empregados foi planejada e considerada "a única" pelos sócios. No mercado há 28 anos e credenciada pela estatal (sua única cliente) para prestar cerca de 90 diferentes tipos de serviços de engenharia, a empresa tomou uma decisão pouco comum. Mesmo entre as empresas com dificuldades após a mudança de postura da Petrobrás na gestão de contratos com empreiteiras, o recurso à Justiça costuma vir somente após a falência ou a recuperação judicial. Dependentes da petroleira e com pouco poder de barganha, pequenas e médias empreiteiras temem ser excluídas de concorrências futuras. A Multitek, porém, agiu antes. Em 08 de agosto, notificou a Petrobrás extrajudicialmente, exigindo respostas para os pedidos de aditivos em contratos em até cinco dias. São R$ 245 milhões, nos cálculos da empresa. Como os pleitos não foram atendidos, os contratos foram rescindidos e os trabalhadores das obras, demitidos. Apenas os cerca de 40 funcionários da sede da empresa, em Juiz de Fora (MG), seguem empregados. A empresa pretende manter-se administrando ativos e passivos. O valor dos pleitos é considerado um ativo, segundo o advogado da Multitek, Juarez Loures de Oliveira. A intenção dele é entrar com a ação para cobrar os 245 milhões nos próximos dias. "Ensaiamos vários cenários", diz Luís Alfeu Alves de Mendonça, presidente e sócio da Multitek, ao lado de seu filho, Rodrigo de Mendonça, numa rara entrevista. O mesmo receio de entrar na Justiça limita empresários desse mercado a entrevistas sem se identificar. Cortes« Segundo Mendonça, apesar do planejamento, a decisão foi difícil: "O dia em que nos dispusemos a botar para fora, falar que do jeito que está nao tem jeito, foi uma dor que você não pode imaginar". Os empresários fazem questão de destacar outra notificação extrajudicial, na qual aMultitek cedeu créditos a receber - serviços já faturados, aditivos de contratos assinados e pleitos aprovados, no valor de R$ 25 milhões, para além dos R$ 245 milhões para que a Petrobrás quitasse as rescisões trabalhistas. A Petrobrás "entende que a responsabilidade pelo pagamento dos empregados, que estavam alocados em Macaé, Ipojuca ou Itaboraí (COMPERJ) é da Multitek", segundo nota. Os sindicatos de Macaé (RJ) e Ipojuca (PE) conseguiram liminares na Justiça obrigando a estatal a assumir os pagamentos. A Petrobrás diz que já fez os pagamentos - bi caso pernambucano, em juízo. Os sócios da Multitek rejeitam a explicação de que os pleitos funcionavam como estratégia de inflacionar valores de contratos ganhos com orçamentos propositalmente depreciados. O problema, segundo eles, está nas mudanças técnicas e de escopo em orçamentos . aprovados e contratados, cada vez mais comuns nas megaobras da Petrobrás.
Multitek rompe 11 contratos com estatal e demite 1,7 mil - Estado de S Paulo - 1 set 2013
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