O setor de auditoria convive regularmente com denúncias de escândalos. Empresas fazem falcatruas na sua contabilidade e o auditor parece que não percebe o que está ocorrendo. Os exemplos são inúmeros e incluem nomes como Panamericano, Lehman, Olympus, Stanford, Satyam, Madoff, HP, entre outros. Recentemente um relatório da entidade que fiscaliza as empresas de auditoria dos Estados Unidos apontava que mais de 20% dos trabalhos das grandes empresas de auditoria tinham algum tipo de problema, sendo que uma das empresas fiscalizadas este índice chegava próximo a 50%. Isto é assustador já que o usuário espera que o relatório de auditoria seja o comprovante que a contabilidade da entidade é confiável.
Alguns apontam que os problemas das empresas diz respeito à forma como o setor opera. As empresas de auditoria são contratadas pelas entidades que serão auditadas e isto gera um viés na opinião do auditor, conforme pesquisas comportamentais já demonstraram. Uma alternativa é permitir que o regulador fizesse o contrato e pague pela auditoria, sendo o custo repassado, posteriormente, para a entidade auditada. Além disto, em razão da economia de escala visando à redução das suas despesas, as empresas de auditoria utilizam uma mão-de-obra composta aprendizes – os famosos traines – sem experiência e vivência de uma situação de fraude. Outros consideram que existe uma acomodação, propiciada pela falta de um rodízio entre as auditorias.
Um aspecto que geralmente é deixado de lado nestes debates é que a auditoria recebe os holofotes da imprensa, dos blogs e dos reguladores quando cometem erros. Entretanto, não sabemos quantas vezes as empresas de auditoria impediram que os usuários fossem enganados, já que isto não aparece no seu relatório. Em outras palavras, a auditoria parece com o sistema de meteorologia. Diariamente escutamos suas previsões sobre o tempo; quando o sistema acerta, geralmente não damos a devida atenção. Entretanto, quando o sistema falha, alertando para uma chuva que não ocorreu ou deixando de falar da possibilidade de chuva quando ocorreu, lembramos que a previsão do tempo estava errada.
Esta dificuldade é maior uma vez que não sabemos – ou não levamos em consideração na nossa decisão – o universo de empresas auditadas. Se tivermos 500 empresas no mercado e ocorreram problemas com cinco delas, estes cinco casos estarão nas discussões sobre a qualidade do setor. Estas falhas serão lembradas, discutidas pelos reguladores e consideradas nos textos das redes sociais. Mas este nível de erro significa que o processo de auditoria cometeu falhas em 1% dos casos, o que seria uma taxa bastante razoável.
O Grumpy Old Accountants tem um argumento adicional sobre o assunto (Garbage In, Garbage Out - Are Accountants Really to Blame?). Segundo o Grumpy, as estatísticas mostram que cerca de 20% das empresas possuem problemas no controle interno. Além disto, as estratégias de crescimento, particularmente aqueles realizados a partir das aquisições e fusões, quebram controles internos. Assim, segundo o texto, muitos erros contábeis e falhas de auditoria tem sua raiz na falha dos controles internos das empresas.
Neste sentido, a solução para o problema de auditoria passa pela melhoria destes instrumentos. Em outras palavras, trocar o foco do PCAOB pelo Coso. Somente com o fortalecimento deste controle interno é que a auditoria irá deixar de estar associada aos escândalos fraudulentos. E será companheira fundamental para prevenir e antecipar problemas.
Isto parece muito com uma analogia criada por Simons, no seu livro Levers of Control: o que faz um automóvel andar rápido não é o motor potente, mas um sistema de freio confiável. Só podemos dirigir nosso automóvel a 80 km/h se tivermos a segurança que o veículo irá parar no momento adequado. Os controles internos possuem a mesma função para empresa. Somente com controles internos efetivos é que a empresa poderá crescer de maneira sustentada.
(Cartoon adaptado daqui)
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