A despeito das raízes coloniais, a Primeira República, de 1890 a 1915, caracterizada por mudanças institucionais, foi um período econômico mais liberal. Com a ditadura de Vargas, no entanto, o caráter central dos governos, característico da época colonial, retomou e reforçou os laços entre Estado e setor privado. Raymundo Faoro, autor do livro Donos do Poder, caracteriza essa íntima relação como uma “combinação de estatismo com privatismo, obedecendo este às diretrizes daquele, com as compensações de seu estímulo e proteção”.
Sérgio Lazarinni, no livro Capitalismo de Laços, investiga as conexões entre atores públicos e privados por meio dos laços que são expressos na estrutura de propriedade e mecanismos de controles estratégicos das empresas. A abordagem do livro ocorre em três eixos: sistema político, governo e grupos privados.
Devido ao caráter privado e informal (às vezes, formal) entre grupos domésticos privados, sistema político e entidades públicas, o estudo dessas valiosas relações sociais deu-se por meio da análise dos proprietários e controladores de 804 empresas, nos anos de 1996, 2003 e 2009. A observação das estruturas de propriedade das empresas – por meio de laços entre firmas e proprietários, participações societárias conjuntas de vários donos em empresas comuns – revela uma rede, em que há presença de aglomerações empresariais: proprietários com posições acionárias conjuntas nas mesmas empresas, e de atores de interligação de aglomerações distintas que garantem conectividade à rede. Serviços de redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter têm características análogas às redes de propriedade. Quando estas exibem atores de ligação que conectam várias organizações, há formação de mundos pequenos. É por isso que as pessoas costumam dizer que “o mundo é pequeno”.
Numa economia de mercado, o capitalismo de laços gera disfunções. Ao influenciar decisões econômicas, contratos sociais e relações políticas, aloca os recursos econômicos sem considerar critérios meritórios e transparentes, em outras palavras, há uma má alocação de recursos, que pode ocorrer de duas formas. Primeira: as decisões empresariais são influenciadas por razões políticas e ideológicas dos governantes, que nem sempre estão de acordo com a estratégia de mercado das firmas. Segunda: empresários que possuem valiosas conexões políticas são favorecidos com concessões de financiamento e subsídios públicos, entre outros recursos escassos.
Por outro lado, em países com ambiente institucional desfavorável – voláteis e hostis – à atividade empresarial, a associação entre entes privados e públicos é forma legítima de proteção: corrobora para a compreensão dos problemas enfrentados pelas instituições privadas. Ademais, formações de alianças serve como instrumento de troca de conhecimento, geração de eficiência produtiva, etc.
Por Pedro Correia, Brasília 15 de agosto de 2013.
Capitalismo de Laços: os donos do Brasil e suas conexões
Sérgio G. Lazzarini
Rio de Janeiro; Elsevier, 2011 – 4ª reimpressão – 184 páginas.
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