Uma mudança promovida pela Petrobrás na forma de contabilizar sua dívida exposta à variação cambial deve permitir à estatal melhorar o resultado do segundo trimestre em cerca de R$ 7 bilhões, reduzir sua exposição ao câmbio em cerca de R$ 70 bilhões e aumentar seu lucro. No fim, isso deve significar uma elevação do pagamento de dividendos aos acionistas, sendo o principal deles a União.
Para analistas, o novo cálculo inclui a empresa na "contabilidade criativa" do governo no esforço de atingir a meta fiscal.
Gustavo Gattass, do BTG Pactual, disse que a medida o fez elevar a estimativa do resultado da companhia no segundo trimestre. Mas disse acreditar que, no médio prazo, o efeito pode ser negativo. "Vejo esta movimentação como negativa, com uma ainda mais negativa conclusão por trás dela. Triste, porque o momento não é adequado", disse, defendendo mais transparência na empresa.
As novas regras permitirão à Petrobrás registrar de forma diluída, ao longo dos próximos sete anos, parte do prejuízo causado pela variação cambial na dívida. A parcela exposta ao câmbio, cerca de US$ 50 bilhões no fim de março, subiu em reais na mesma proporção em que se valorizou a moeda estrangeira.
No último trimestre, a alta de 10% do dólar representou, portanto, um prejuízo contábil de R$ 10 bilhões (US$ 5 bilhões). Procurada, a Petrobrás informou que não falaria sobre o assunto.
A manobra contábil é legal e não é inédita. Grandes empresas, como Usiminas e BRF, também adotam o modelo. Mas a decisão da Petrobrás ganha maior repercussão por ocorrer em um momento de forte valorização do dólar. No segundo trimestre de 2012, quando o dólar se valorizou 10,93%, a Petrobrás registrou prejuízo de R$ 1,346 bilhão, o primeiro resultado trimestral negativo desde a maxidesvalorização do real, em 1999.
Com a perspectiva de um balanço melhor, as ações ordinárias (ON) da companhia, que pagam dividendos ao governo, subiram ontem 7,25%, a maior alta do Ibovespa. Mas, para analistas, o movimento seria especulativo, não teria trazido novos acionistas para a empresa, e pode inverter posição no médio prazo. A adoção da contabilidade de hedge reduz a volatilidade das ações no curto prazo, mas é insuficiente para alterar a visão do investidor de longo prazo sobre a companhia.
"O que a gente espera hoje para ficar mais positivo com a Petrobrás não é uma mudança de contabilidade, mas de resultado", diz Will Landers, gestor na América Latina de fundos da BlackRock, uma das maiores gestoras de investimentos do mundo. Para ele, a mudança depende do que a presidente da estatal, Graça Foster, conseguirá entregar em termos operacionais. A BlackRock mantém, nos fundos geridos pelo executivo, a classificação da Petrobrás como "underweight" - abaixo da performance do índice de mercados emergentes da América Latina.
Landers prefere não classificar a alteração contábil da Petrobrás de "criativa", por considerar que ela está em linha com os padrões de contabilidade internacional. "Mas, sem dúvida, (a mudança) vai ajudar na meta do governo de arrecadar mais divisas por meio de dividendos altos", disse. Procurado, o Ministério da Fazenda informou que não faria comentários sobre a mudança, pois se trata de uma decisão empresarial.
A equipe de analistas do BES Securities também acredita que a utilização de uma prática contábil que permite a redução de impactos por variações cambiais vai melhorar "artificialmente" os resultados da Petrobrás no segundo trimestre. Com ela, a despesa financeira excepcional ocasionada pela valorização do dólar, que seria de R$ 10 bilhões no período, deve cair para R$ 3 bilhões, estima a instituição.
"Vemos esta mudança contábil como negativa, uma vez que vai melhorar artificialmente os resultados do segundo trimestre, embora ela seja uma alteração permitida", destacou o banco O cálculo dos analistas é baseado na variação de aproximadamente 10% do dólar ao longo do segundo trimestre. Como a Petrobrás possui uma exposição líquida ao dólar estimada em R$ 100 bilhões, o impacto da variação cambial seria de R$ 10 bilhões.
SABRINA VALLE, MARIANA DURÃO / RIO, ANDRÉ MAGNABOSCO / SÃO PAULO - O Estado de S.Paulo
14 julho 2013
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