Ensino
A Aula do Comércio refere-se a uma escola portuguesa, criada durante o reinado de José I, sob a influência do Marquês de Pombal (1). Sua fundação ocorreu em 1759, em Lisboa. Era um estabelecimento de ensino técnico, com o curso com duração de três anos. É interessante notar que Portugal tentava tirar a diferença das nações mais desenvolvidas, através da intervenção do estado português.
Além de formar profissionais que no futuro repassariam os conhecimentos para outras pessoas, a Aula do Comércio talvez tenha provocado a publicação de obras sobre a contabilidade.
É interessante notar como isto é diferente do que ocorreu no Brasil mais de cem anos depois. Na metade do segundo reinado o ensino de contabilidade ocorria nas escolas, incluindo no ensino primário, ou através de aulas particulares. Ou seja, nesta época o ensino da contabilidade não estava mais atrelado à iniciativa do governo.
Um exemplo disto é uma propaganda publicada diversas vezes nos jornais da época anunciando aula com o professor Menezes (2), que garantia que em um mês transmitiria os conhecimentos das partidas dobradas, balanço geral, encerramento, aberturas de contas, diferentes sistemas de contas correntes, entre outros assuntos.
Naquela época era muito comum nos classificados dos jornais a oferta de cursos de contabilidade. E já existia o ensino que corresponderia ao “técnico”. Mas um texto da Gazeta de Notícias (3) chama a atenção e por este motivo reproduzo a seguir (em linguagem da época):
Em Marselha acaba de ser fundada uma escola superior de commercio, sob os auspícios da commissão da Praça, com o fim de habilitar empregados, negociantes, e administradores capazes de dirigir o commercio interior e desenvolver as relações com os paizes estrangeiros. O ensino, simultaneamente theorico e pratico, abrange a calligraphia, contabilidade, legislação, econômica política, línguas e geografia comercial.
É de uma instituição n´este genero que bem necessitamos entre nós, onde apenas temos o Instituto Commercial que está longe.
Ou seja, naquele momento já existia um curso superior de “negócios” na França e no Brasil teríamos o correspondente no Instituto Comercial.
Livro
Nesta mesma época, a disponibilidade de obras na área era suprida inclusive por livros importados de Portugal. As obras poderiam ser mais completas, como o Curso Commercial de Rodrigo Affonso Paquito, com mais de 500 páginas, ou específicas ao Brasil, como o Compendio Mercantil Brasileiro.
O Compendio prometia [4] que em um mês o leitor poderia ser um guarda-livros. O livro prometia ensinar contabilidade por um método denominado “sistema de números fixos”, que economizava tempo e trabalho. Já o Curso Commercial era dividido em três partes: cálculo e contratos comerciais, escrituração comercial e contabilidade industrial.
Escândalos Contábeis
Naquela época começava a aparecer nos jornais os problemas com os profissionais que manipulavam a escrituração. Em 1875, por exemplo, João Augusto da Silva Porto, empregado da Santos Bastos & Irmão, foi preso por desviar dinheiro e adulterar a escrituração [5]. A notícia divulga que num lançamento, o guarda-livros suprimiu o primeiro algarismo, ficando com o dinheiro. Num outro lançamento, “passou do livro Diario para o Razão uma conta de Fiorita & Tavolara” de 62:510$510 com uma differença de 20 contos menos”.
Em outro caso, uma das mais importantes casas bancárias do País sofreu um desfalque do seu guarda-livros. O Banco Predial empregava o chefe do escritório como caixa, acumulando funções, um erro básico na área de controle [6]. Um “examinador” estava verificando a contabilidade e solicitou documentos do caixa. Este examinador notou a falta de uma conta que já teria sido paga a uma “casa inglesa”. A partir daí o examinador conseguiu apurar um esquema de fraudes.
(1) Via Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Aula_do_Com%C3%A9rcio
(2) Gazeta de Notícias, 1875, edição 33, p. 4, por exemplo. É interessante notar que este jornal chegou a circular com mais de 14 mil exemplares de tiragem, um feito notável quando se considera que a população da capital do país era muito reduzida e quantidade de pessoas alfabetizadas era bem pequena.
(3) Gazeta de Notícias, 1875, edição 69, p. 2.
(4) Gazeta de Notícias, 1876, edição 144, p. 4.
(5) Gazeta de Notícias, 1875, edição 116, p. 2.
(6) Gazeta de Notícias, 1879, edição 139, p. 2. Este jornal descreve o caso de maneira detalhada e apaixonada.
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