Estava atualizando o livro de Teoria Contábil. Ao final de cada capítulo existe um tópico que tenta condensar as pesquisas mais atuais daquele tema. Para fazer atualização desta parte, selecionei um conjunto de artigos publicado recentemente na nossa literatura. Num determinado tema surpreendi com dois artigos de três autores sobre o mesmo tema. Ao olhar com mais atenção, percebi que os autores praticaram o Salami Science.
O que é Salami Science? Segundo Fernando Reinach (aqui)
"Salami Science" é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo.
Algumas consequências indiretas do Salami Science é o aumento no número de artigos submetido aos periódicos, a dificuldade de citar uma pesquisa através de único artigo, o aumento nos textos que precisamos ler para compreender um determinado assunto e a redução na qualidade geral dos textos. Com respeito aos artigos onde percebi o Salami Science, resolvi não citar nenhum dos dois no livro. (Eu percebi a existência de trechos idênticos em ambos os artigos).
Mas é importante observar que a Salami Science é consequência do ambiente acadêmico que vivemos. Somos avaliados pelo número de artigos que conseguimos publicar. Quando um pesquisador faz o Salami Science ele está reagindo a este sistema. É uma reação explicada por Darwin:
Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar "Salami Science". É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...
Eu costumo dizer que Einstein não seria professor no Brasil, já que as suas principais descobertas foram publicadas assim que foram surgindo na sua mente. E ele passou uma grande parte da sua vida tentando criar uma teoria unificada, que não conseguiu. Não seria produtivo. Não faria pontos no Qualis da Capes.
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